Sáb, 06 de Dezembro

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VATICANO

Tenista amador, Papa Leão XIV poderá usar quadra secreta do Vaticano; conheça

Desconhecida até por alguns observadores veteranos do Vaticano, fiéis católicos devotos e até mesmo por dirigentes da Federação Italiana de Tênis, a quadra de saibro vermelho aparece em imagens de satélite escondida no canto norte da cidade

Papa Leão XIVPapa Leão XIV - Foto: Filippo Monteforte/AFP

Quando estiver em Roma, vá até a esquina da Via Leone IV com a Viale Vaticano e siga cerca de 45 metros rumo oeste por esta última, até o ponto onde começa a se formar a fila para entrar no Museu do Vaticano. Estique o pescoço para olhar até o topo do muro de 12 metros de altura da Cidade do Vaticano, e lá está uma quadra de tênis.

Uma cerca alta com rede se eleva acima do muro. Não impediria ninguém que já tivesse escalado os 12 metros de tijolos verticais, mas ela não está ali para proteger o Papa, os cardeais, a Guarda Suíça e os funcionários do Vaticano. Está lá em benefício dos pedestres que caminham abaixo: para evitar que uma bola mal batida ou uma cortada potente caia do céu e acerte a cabeça de algum transeunte.

 

Essa cerca está em torno da quadra central da Igreja Católica: a quadra de tênis da Cidade do Vaticano — agora sob domínio do cardeal Robert Francis Prevost, ou melhor, do Papa Leão XIV. Na medida em que já era conhecido fora dos círculos do Vaticano e de seus antigos amigos em Chicago e na Universidade de Villanova, na Pensilvânia, o Papa Leão XIV já havia declarado ao mundo que o tênis é o seu esporte.

“Considero-me um verdadeiro tenista amador”, disse o então futuro Papa Leão em uma entrevista ao site da Ordem dos Agostinianos, em 2023, quando seu antecessor, o Papa Francisco, lhe conferiu o barrete vermelho de cardeal em sua chegada a Roma.

“Desde que deixei o Peru (onde trabalhou pelos últimos nove anos), tive poucas oportunidades de praticar, então estou ansioso para voltar às quadras”, disse ele.

A princípio, pareceu que ele havia declarado ser fã de Carlos Alcaraz, o que poderia incomodar os habitantes locais de sua nova casa, dado o status de Jannik Sinner como ídolo esportivo da Itália. Mas não há com o que se preocupar: a declaração era falsa.

Desconhecida até por alguns observadores veteranos do Vaticano, fiéis católicos devotos e até mesmo por dirigentes da Federação Italiana de Tênis e Padel (FITP), há muito tempo existe ali, como mostram imagens de satélite, uma bela quadra de saibro vermelho, escondida no canto norte da Cidade do Vaticano.

Um agente de segurança de plantão do lado de fora do museu na manhã de 8 de maio afirmou que a maioria das pessoas não sabe da existência da quadra porque ela não é fácil de encontrar. Ou se sabe que ela está ali — do outro lado da rua do edifício que cerca o pátio Cortile Ottagono — ou não se sabe. Os jardins e a área ao redor da quadra estão fechados ao público desde 28 de abril, por conta do conclave que escolheu o novo Papa. Bater uma bola não estava entre as prioridades dos cardeais.

Uma quadra de tênis pode não ocupar lugar de destaque na mitologia da Cidade do Vaticano, mas o que se preservou de sua história revela que já existiu ali um animado circuito de tênis, com cardeais disputando um torneio que também incluía membros da Guarda Suíça — e que depois foi aberto a funcionários do Vaticano e seus filhos.

Em 9 de maio, um porta-voz da Guarda Suíça, o cabo Cinotti Eliah, afirmou que, até onde sabe, nenhum dos guardas atualmente joga tênis — o que pode ser bom ou ruim para o Papa Leão.

Mensagens com perguntas sobre a quadra de tênis enviadas ao departamento de comunicação da Santa Sé não foram respondidas.

Histórico de torneios
A era de ouro do tênis no Vaticano ocorreu no final da década de 1970, após a renovação da quadra. Até os cardeais se empolgaram com aquele primeiro boom do tênis moderno, conforme mostram pesquisas nos arquivos do Pontifício Conselho para os Leigos.

Um “Torneio da Amizade” foi iniciado em 1978. Giovanni Battista Re, que mais tarde se tornaria vice-decano do Colégio dos Cardeais, levou o título. Na época, ele era um padre que trabalhava na Secretaria de Estado, responsável pelas funções políticas e diplomáticas do Papa.

Na final, Battista Re venceu Roberto Tucci, jesuíta italiano e então diretor-geral da Rádio Vaticano. Tucci também viria a se tornar cardeal. Houve disputa pelo terceiro lugar: Peter Hasler, da Guarda Suíça, venceu Faustino Sainz Muñoz, da Espanha, que se tornaria arcebispo.

A benevolência sacerdotal no tênis acabou sendo seu ponto fraco. Os padres pararam de vencer depois que o torneio foi aberto aos funcionários da Administração do Patrimônio da Santa Sé e, depois, aos filhos desses funcionários — uma má ideia para senhores mais velhos interessados em conquistar troféus. Com o tempo, a participação diminuiu e o torneio foi encerrado, até ser retomado por funcionários dos Museus Vaticanos em 2008.

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