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Trafegar é preciso no Recife: especialistas propõem iniciativas simples

Mesmo a CTTU tomando várias ações para melhorar o trânsito do Recife, especialistas propõem outras iniciativas, algumas bem simples, para solucionar o tráfego caótico

Recife na hora do picoRecife na hora do pico - Foto: Arthur Mota

Mudanças de circulação, retiradas de giros e de sinais de três tempos, implantação de binários, de corredores exclusivos para o transporte público, de programação semafórica sincronizada, de faixas reversíveis e de sistemas viários arrojados como a via Mangue. A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) contabiliza, especialmente nos últimos quatro anos, mais de cem intervenções no trânsito da Cidade, mas, apesar dos esforços da gestão municipal, o tráfego continua caótico, sobretudo na hora do rush. Na contramão de uma certa tendência de se buscar soluções mirabolantes e tecnológicas para os problemas, especialistas no assunto defendem medidas até certo ponto mais simples e próximas das origens do setor.

Apesar de todas as ações do governo municipal, especialistas da área sugerem outras medidas que podem vir a causar um efeito mais eficiente na fluidez do trânsito do Recife de curto a longo prazo. Algumas aparentemente simples, que não requerem grandes recursos ou equipamentos de alta tecnologia.

Para o engenheiro civil Stenio Cuentro, especialista em gestão ambiental e engenharia de tráfego e ex-diretor do Detran-PE, a primeira providência a ser tomada é identificar os locais e os horários dos pontos críticos. “Isso não se resolve com equipamentos, mas com a presença humana”, aponta. O consultor cita pontos de travamento como o encontro da rua da Hora com a avenida Conselheiro Rosa e Silva, no bairro das Graças, e a saída da via Mangue, no bairro do Pina em que apenas com a presença de operadores de trânsito o problema seria solucionado.

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Outras medidas práticas, ainda de acordo com Cuentro, seriam a realização de campanhas para ensinar os motoristas a dirigirem melhor e uma fiscalização mais enérgica. O engenheiro dá como exemplo uma situação que testemunhou recentemente, em que dois caminhões descarregavam numa via ao lado de uma placa “proibido estacionar”. “Faz tempo que não vejo um veículo sendo rebocado. Isso acontece porque os infratores acreditam na impunidade”, acredita o engenheiro, que aposta também na ampliação da faixa azul, exclusiva para ônibus, e com a proibição do coletivo fazer ultrapassagem. “Aqui não é proibido. Na hora que ele ultrapassa, trava a Cidade toda”, considera.

Até as medidas de alto investimento já tomadas, segundo Cuentro, necessitam de aperfeiçoamento. “A Zona Sul, por exemplo, tem vários conjuntos semafóricos sincronizados, mas falta sinalização dizendo que a velocidade máxima é 50 km/h”, cita.

Talvez a proposta mais drástica do consultor seja o rodízio de veículos. “Só não seria necessário se o investimento em transporte público fosse muito alto. Mas isso vai demorar. Ainda assim, (o rodízio) é de curta duração, com data para começar e acabar, enquanto se investe no transporte público”, salienta. “Esse receituário é aplicado em outras cidades do Brasil e do mundo.”

Questão metropolitana

Para o também engenheiro civil Maurício Pina, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) na área de transportes, essa discussão ocorre em um momento mais do que propício, tendo em vista a elaboração do Plano Municipal de Mobilidade Urbana, que deve ser implantado até abril atendendo às diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei Federal nº 12.587/2012). Segundo ele, mais do que o trânsito da Capital, é preciso pensar na mobilidade de toda a metrópole. “A quantidade de pessoas que se deslocam de outras cidades para o Recife é muito grande”, observa.

De acordo com Pina, duas medidas são essenciais: o fortalecimento do transporte público de passageiros e um maior incentivo ao transporte não motorizado. “Existem medidas pontuais que podem ser tomadas, mas é preciso melhorar o transporte público e reduzir o transporte individual. Quando tudo isso acontecer, vamos ter condições de ter uma Cidade mais adequada”, projeta. Entre as medidas pontuais, ele sugere a ampliação das faixas exclusivas de ônibus. “Ainda são muito poucas”, diz.

O professor lembra que boa parte da causa do trânsito caótico decorre de negligência do passado. “Houve uma falha no planejamento, antiga, nos anos 1980, com a construção de habitacionais na área norte (da Região Metropolitana), quando se instituiu o metrô na Zona Oeste. Veja que contradição. As políticas públicas precisam se casar, falar a mesma língua”, recomenda.

Ainda assim, mesmo com o inchaço populacional e imobiliário das últimas décadas, Pina acredita que ainda é possível implantar transporte sobre trilhos no Grande Recife. “Isso vai levar oito, dez anos. Envolve estudos preliminares, fontes de financiamento. Mas está na hora realmente - se é que já não passou - de se investir em transporte sobre trilhos”, decreta.

Ações já tomadas

A CTTU preferiu não comentar a pesquisa Índice 99 de Tempo de Viagem (ITV 99), que relacionou as 15 cidades com mais trânsito no Brasil, entre junho e agosto, e comprovou que o Recife tem o tráfego mais lento do País em horário de pico. Por nota, a autarquia informou que “realiza um trabalho diário e intenso de monitoramento e operação de trânsito com o intuito de identificar os pontos de retenções nas vias da Cidade, criar soluções para a melhoria da mobilidade e aumentar a segurança viária de pedestres e condutores”. Ainda de acordo com o órgão, “entre as ações de engenharia de tráfego estão as mais de cem intervenções viárias, a exemplo de implantação de binários, retiradas de giros, mudanças de circulação, implantação de corredores exclusivos para o transporte público”.

A nota segue dizendo que, “especificamente em horários de pico, a CTTU realiza ações especiais de ordenamento temporário de tráfego” e que “como parte do trabalho para garantir mais fluidez no trânsito também tem reforçado a sinalização viária tendo instalado e requalificado mais de cinco mil faixas de pedestres e 14 mil placas de sinalização vertical”.

Além disso, a autarquia destaca a implantação de mais de 90 aparelhos de fiscalização eletrônica e o trabalho de 430 agentes e 250 orientadores de trânsito que atuam em conjunto para auxiliar o tráfego nos principais corredores.

Por fim, diz que instalou 241 equipamentos nobreaks que garantem o funcionamento do semáforo de quatro a seis horas, em caso de falta de energia. Dos 653 semáforos, 451 possuem nobreaks.

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