Transmissão de show com gritos contra Israel vira crise diplomática para BBC
Emissora 'lamentou' não ter cancelado a transmissão do Glastonbury; governo britânico e embaixada israelense cobram explicações
A emissora pública britânica BBC pediu desculpas nesta segunda-feira (30) por não ter retirado do ar a transmissão ao vivo de um show no festival de Glastonbury, após declarações consideradas anti-Israel feitas pela banda Bob Vylan.
O episódio aconteceu no sábado, durante a apresentação do grupo de punk-rap, quando os integrantes incentivaram o público a entoar gritos de “morte ao exército de Israel”.
"Com o benefício da retrospectiva, deveríamos ter interrompido a transmissão durante a apresentação. Lamentamos que isso não tenha ocorrido" afirmou a emissora em comunicado.
A BBC vinha transmitindo o show ao vivo como parte de sua ampla cobertura do tradicional festival britânico, mas manteve o programa no ar mesmo após o início das manifestações políticas no palco. O episódio gerou críticas e reacendeu o debate sobre os limites da liberdade de expressão em eventos culturais transmitidos por emissoras públicas.
No telão, foi exibida a mensagem "Palestina livre. A ONU chamou de genocídio. A BBC chama de 'conflito'.
“Qualquer um com uma bússola moral pode dizer que o que acontece em Gaza é uma tragédia. Não somos punks pacifistas na Bob Vylan. Somos punks violentos. Às vezes, é preciso passar a mensagem com violência, porque essa é a única língua que algumas pessoas falam, infelizmente”, disse o cantor.
A repercussão diplomática também foi imediata. A embaixada de Israel no Reino Unido criticou duramente o episódio, classificando a performance como uma “glorificação da violência”.
“Cantos como ‘morte ao exército israelense’ e ‘do rio ao mar’ são slogans que defendem o desmantelamento do Estado de Israel e pedem implicitamente a eliminação da autodeterminação judaica. Quando essas mensagens são recebidas com aplausos por milhares de espectadores, isso levanta questões sérias em relação à normalização da linguagem extremista e à glorificação da violência”.
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A reação também veio do próprio governo britânico. O secretário de Cultura solicitou explicações urgentes à direção da BBC sobre a decisão de manter a apresentação no ar.
“O secretário de Cultura falou com o diretor da BBC para pedir uma explicação urgente sobre as diligências que foram feitas antes da apresentação de Bob Vylan, e acolhe com satisfação a decisão de não retransmitir o show na plataforma BBC iPlayer” informou o governo em nota oficial.
O primeiro-ministro britânico Keir Starmer classificou o episódio como inaceitável, e o próprio festival de Glastonbury, palco do episódio, divulgou uma nota pública em que reprovou o comportamento do duo, que fazia sua estreia no evento.
“Como festival, somos contra todas as formas de guerra e terrorismo. Sempre acreditamos e ativamente defendemos a esperança, paz, união e amor. Com quase 4 mil apresentações na edição de 2025, inevitavelmente teremos artistas em nossos palcos que não compartilham das nossas visões. No entanto, estamos horrorizados com as declarações feitas por Bob Vylan ontem. Seus coros ultrapassaram completamente os limites, e lembramos urgentemente a todos os envolvidos na produção do festival de que não há espaço no Glastonbury para antissemitismo, discurso de ódio ou incitação à violência”.
A polícia local confirmou que está analisando imagens da apresentação para verificar se houve a prática de algum crime.

