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ESTADOS UNIDOS

Tribunal decide que Trump poderá, mais uma vez, barrar Associated Press em eventos oficiais

Corte de Apelações derrubou decisão de abril que abria caminho para agência participar da cobertura na Casa Branca, em meio a divergências com o presidente

Presidente dos Estados Unidos, Donald TrumpPresidente dos Estados Unidos, Donald Trump - Foto: Jim Watson / AFP

Um tribunal de apelações de Washington voltou a permitir que o governo de Donald Trump barre a Associated Press (AP), uma das mais tradicionais agências de notícias do planeta, em eventos oficiais da Presidência.

A decisão, que derruba uma ordem emitida em abril que favorecia a AP, é mais um episódio de uma queda de braço motivada pela decisão unilateral do governo de renomear o Golfo do México para “Golfo da América”.

Na decisão desta sexta-feira, um painel de juízes da corte de apelações federal em Washington disse que, enquanto não há uma decisão definitiva sobre a disputa, o governo poderá continuar a excluir a AP de “espaços presidenciais restritos”, que, segundo os magistrados, não estão protegidos pela Primeira Emenda da Constituição, que trata da liberdade de expressão nos EUA.

"Portanto, a Casa Branca reserva-se o direito de determinar, inclusive com base em suas próprias opiniões, quais jornalistas serão admitidos", afirmaram os juízes. "Além disso, sem uma suspensão, o governo sofrerá danos irreparáveis, visto que a ordem judicial viola a independência e o controle do presidente sobre seus espaços de trabalho privados."

Em publicação no X, Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca, comemorou a decisão.

"Como dissemos o tempo todo, a Associated Press não tem acesso especial garantido para cobrir o presidente Trump no Salão Oval, a bordo do Air Force One e em outros locais sensíveis. Milhares de outros jornalistas nunca tiveram a oportunidade de cobrir o presidente nesses espaços privilegiados", escreveu. "No futuro, continuaremos a expandir o acesso às novas mídias para que mais pessoas possam cobrir o presidente mais transparente da história americana, em vez de apenas a mídia tradicional, que está em decadência. E, a propósito, AP, ainda é o Golfo da América."

O embate entre AP e a Casa Branca de Trump começou em fevereiro, quando a agência se recusou a usar em seu manual de redação a grafia “Golfo da América”, determinada de maneira unilateral pelo presidente e adotada em órgãos oficiais e alguns serviços de mapas, como o oferecido pelo Google — a gigante do setor de tecnologia chegou a ser processada pelo governo mexicano.

Em resposta, Trump removeu a AP do “pool” de imprensa, formado por profissionais de vários veículos, em sistema de rotação, que tem acesso a eventos restritos na Casa Branca, como no Salão Oval, e ao Força Aérea Um em viagens oficiais.

O governo disse que tinha o direito de decidir quem poderia estar perto do presidente, e Trump chamou a agência, fundada em 1846, de “grupo de lunáticos radicais de esquerda”, afirmando que não permitiria sua presença na Casa Branca até que aceitassem o “Golfo da América”. Apesar disso, a AP manteve suas credenciais para eventos maiores, embora sem a mesma oportunidade de ouvir e questionar o presidente.

Ao contrário de outras organizações de notícias dos EUA, que firmaram acordos com Trump para evitar retaliações, especialmente as financeiras, a AP resolveu enfrentar o governo nos tribunais para recuperar o acesso.

“Para quem pensa que o processo da Associated Press contra a Casa Branca do presidente Trump tem a ver com o nome de um corpo d’água, pense grande”, escreveu Julie Pace, editora-executiva da AP, em um artigo no Wall Street Journal em março. “A questão é se o governo pode controlar o que você diz.”

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Em abril, um juiz federal determinou o retorno da AP ao “pool” da Casa Branca, afirmando que a decisão de vetar a agência violava a Primeira Emenda, e que não poderia retaliar contra uma decisão editorial de um órgão independente de imprensa. Mesmo assim, Trump barrou os profissionais da AP em mais de uma ocasião, como na visita do líder salvadorenho, Nayib Bukele.

"Segundo a Primeira Emenda, se o governo abre suas portas para alguns jornalistas — seja no Salão Oval, no Salão Leste ou em qualquer outro lugar —, não pode fechá-las para outros jornalistas por causa de seus pontos de vista", escreveu o juiz Trevor McFadden. "A Constituição não exige menos."

Em comunicado, um representante da AP disse nesta sexta-feira que a agência está "desapontada com a decisão da Corte, e está revisando suas opções".

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