[Vídeo] O tabu do luto infantil
A falta de diálogo com as crianças sobre a morte de uma pessoa ou de um animal de estimação pode ser prejudicial a elas, resultar na formação de uma visão distorcida sobre o assunto e alimentar medos e culpas
É muito comum supor que as crianças não compreendem a morte e estão alheias ao processo de luto. Essa ideia faz com que, muitas vezes, o assunto seja considerado prejudicial e se evite conversar sobre o tema com os pequenos, como forma de preservá-los da dor. Porém, essa falta de diálogo acerca do que de fato acontece com uma pessoa ou animal de estimação que se foi pode ser prejudicial para a criança. “Às vezes ela se sente culpada, ou fica com raiva, achando que foi abandonada. As pessoas usam muito eufemismo para tratar a morte, não falam a verdade. Mas é importante que a criança entenda que a pessoa morreu. Que não vai falar, ouvir, não vai mais poder abraçar, que o corpo não se mexe mais. Apontar coisas muito concretas para que a criança entenda que, aquela pessoa com quem ela estava acostumada a conviver, não vai mais existir”, indica a psicóloga do luto, Carolina Medeiros.
Alguns sentimentos são próprios da criança. “Quando ela sente raiva, por exemplo, ela acha que a raiva vai dominá-la. Então, é comum a gente ouvir elas falando coisas como ‘te odeio’, ‘quero outra mãe’. Elas agem de forma muito intensa e, às vezes, falam ‘eu quero que você morra’”, explica Carolina Medeiros. “Isso pode trazer a ideia de que a morte aconteceu porque, em algum momento, ela desejou o mal para a pessoa. É preciso dizer para ela que não existe culpado, que a morte acontece para todo mundo, que não é algo que a gente domine. Porque ela não tem essa noção ainda.”
Jogos
Os joguinhos abordam sentimentos como a saudade, a tristeza, a dor. “É preciso entender que o luto se complica quando a criança não consegue expor os sentimentos, quando eles ficam guardados. Então, a brincadeira é importante porque ajuda a fazer com que elas se comuniquem sobre os sentimentos. Tanto a criança, quanto o adulto”, acrescenta Camila. “São jogos bem interessantes, que vão ajudando a clarificar. Muitas vezes fica confuso. A criança tem uma mistura de sentimentos dentro dela e ela não sabe identificar.” No jogo da memória, por exemplo, quando a criança consegue formar um par, um sentimento é descoberto. E aí, a criança é desafiada a contar uma história sobre esse sentimento e a pessoa que se foi. Esse e outros jogos estão disponíveis no site www.moradadapaz.com.br para quem quiser baixar.
Perdas
Ela explica que foi instruída a responder às perguntas do filho sobre o tema sempre que fosse procurada por ele. Isso porque as crianças digerem essa realidade aos poucos, por etapas. Esse tipo de abordagem é comum, assim como também é necessário para tornar o processo do luto mais suportável. “Às vezes ele chora e vem conversar, e eu preciso me reinventar nesses momentos. Mas sempre falo a verdade diante dos questionamentos. Para as mães que não sabem como lidar diante de uma situação tão sofrida, eu aconselho a buscar um apoio profissional, mas nunca fugir do assunto. Enquanto mães, precisamos impulsionar nossos filhos para a vida. E esses processo de morte e de luto fazem parte dela.”

