Sex, 05 de Dezembro

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INVESTIGAÇÃO

Abin paralela: PF aponta existência de seis núcleos e divisão de tarefas de espionagem

Organização criminosa atuava espionando adversários políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro e difundindo desinformação sobre o sistema eleitoral, segundo a polícia

AbinAbin - Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

No relatório final da investigação sobre uma estrutura paralela dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a Polícia Federal aponta a existência de seis núcleos de atuação da organização criminosa.

Conforme a investigação, havia também uma divisão de tarefas bem definida, como ações de espionagens políticas contra opositores, com o Judiciário e atos de ataque ao sistema eleitoral.

Núcleo político
Conforme a PF, o núcleo era composto por figuras de alto escalão do governo da época, incluindo o então presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ). Este núcleo foi o responsável por definir as diretrizes estratégicas da organização criminosa, "determinar os alvos das ações clandestinas (opositores, instituições, sistema eleitoral) e se beneficiar politicamente das operações". O relatório final da polícia aponta que este era o centro decisório e o principal destinatário das "'vantagens' ilícitas", ataque a adversários.

Núcleo da estrutura paralela (comando e alta gestão)
Liderado pelo então diretor-geral da agência, Alexandre Ramagem, e composto por servidores de sua confiança, a maioria de policiais federais cedidos e oficiais de inteligência. Este núcleo, segundo a PF, usava a estrutura física, tecnológica (como o software espião FirstMile) e orçamentária da Abin para executar as ações clandestinas determinadas pelo núcleo político.

"Integrantes deste núcleo atuavam em posições de alta gestão e/ou executavam diretamente as ações clandestinas, plenamente cientes de seu desvio de finalidade em benefício ao núcleo político", diz a PF.

Núcleo da estrutura paralela (assessoria da alta gestão e execução de ações clandestinas)
Conforme relatório da PF, este núcleo foi fundamental para viabilizar as operações ao gerenciar contratos, como o do FirstMile, ao se omitir na implementação de controles, facilitar o acesso a ferramentas e obstruir investigações internas ou externas sobre o uso irregular dos recursos, como o software espião. Integravam o núcleo servidores da Abin e policiais federais.

Núcleo de gestão DOINT (gestores da estrutura operacional de inteligência - DOINT)
Composto por policiais federais e militar cedido à Abin, os servidores deste núcleo "eram responsáveis pela execução de ações clandestinas demandadas pelo núcleo alta-gestão e tinham unidade de desígnios no intento criminoso". "Os servidores deste núcleo eram vinculados de fato à cúpula da Abin e atendiam suas determinações manifestamente ilegais", informa a PF.

Núcleo dos vetores de produção e propagação de fake news
Atuava na produção e propagação de desinformação. Este grupo era composto por assessores e servidores lotados na Presidência da República. Eles recebiam dossiês e repassavam informações, facilitando o acesso e a difusão do material produzido pela organização criminosa em benefício do núcleo político.

Núcleo do embaraçamento da investigação
Identificado em fase posterior da investigação, era composto por integrantes da atual gestão da Abin, como o diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, o ex-diretor-adjunto Alessandro Moretti o ex-secretário de Planejamento e Gestão Paulo Maurício Fortunato, o chefe de gabinete Luiz Carlos Nóbrega e o corregedor-geral José Fernando Moraes Chuy.

"Este núcleo atuou para dificultar as investigações sobre a ORCRIM [organização criminosa] da gestão anterior, por meio de estratégias conjuntas com investigados, recalcitrância na entrega de provas (logs), ações para assediar e desacreditar a ex-Corregedora, omissão sobre operações ilegais e potencial manipulação de informações e procedimentos internos", diz o relatório da PF.

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