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Entrevista

"Anistia não passará no Congresso", crava Rollemberg

Deputado federal e ex-governador do Distrito Federal foi o entrevistado da semana do podcast "Direto de Brasília", apresentado por Magno Martins

"O PSB está muito bem posicionado para 2026, como alternativa real de poder em vários locais do país", destacou Rodrigo Rollemberg (D) "O PSB está muito bem posicionado para 2026, como alternativa real de poder em vários locais do país", destacou Rodrigo Rollemberg (D)  - Foto: Reprodução youtube/Folha de Pernambuco

De volta à Câmara Federal, o ex-governador do Distrito Federal Rodrigo Rollemberg (PSB) atesta que a pauta da anistia não passará no Parlamento. Em entrevista ao podcast "Direto de Brasília", apresentado por este blogueiro, ele acredita que seu partido vencerá a disputa distrital e previu maior protagonismo da sigla no pós-Lula (PT). “O PSB está muito bem posicionado para 2026, como alternativa real de poder em vários locais do país”, destacou.

A oposição tem insistido na proposta de anistia aos condenados do 8 de Janeiro. Com sua volta à Câmara dos Deputados, como se posicionará?
Sou contra a anistia. O que vimos foi algo grave. Poderíamos estar vivendo uma ditadura. Não podemos tratar isso como algo normal. Não foi um passeio no parque, foi um ataque às instituições. Claro que temos que tratar de forma diferente os que estavam na armação do golpe e o conjunto da população, mas sou contra a anistia e ela não passará.

Como vem sendo o retorno à Casa após 14 anos?
Demorou (risos). Desde junho do ano passado já tínhamos maioria no Supremo Tribunal Federal (STF), mas só agora pudemos tomar posse. Uma conjuntura geopolítica muito desafiadora: guerras na Ucrânia e em Gaza, tarifas impostas pelos Estados Unidos. Tudo isso vai exigir do Congresso muito equilíbrio, ponderação, experiência e compromisso com o país, no sentido de construir ampla maioria em defesa dos interesses nacionais. Espero que possamos vencer todos esses desafios para que o Brasil possa aproveitar as oportunidades que esse momento também oferece. Estamos sediando a COP, os países precisam investir em transição energética.

O senhor já foi governador do Distrito Federal e seu partido lançou Ricardo Cappelli como pré-candidato. Quais as chances dele na disputa do ano que vem?
Muito grandes. Não é uma eleição fácil, mas temos um quadro com muitas fragilidades no governo Ibaneis Rocha (MDB), em função da corrupção. Por outro lado, entendo que a direita não chegará unida. Há muitas postulações para poucos cargos, uma grande possibilidade de divisão, enquanto Cappelli se consolidou como grande alternativa da esquerda. É ele quem faz a oposição mais contundente no Distrito Federal. Vamos fazer uma ampla aliança com os setores que defendem a democracia e estão na oposição ao governo Ibaneis.

Essa corrupção começou no segundo mandato?
Já no primeiro governo. Os casos de corrupção são recorrentes, muita coisa ainda vai aparecer até o final do governo, e isso terá impacto em 2026.

Mas o governador se reelegeu bem...
Porque não tinha uma oposição forte no Distrito Federal. Por negligência dele, tivemos o 8 de Janeiro. Ele disse que estava dormindo enquanto a cidade era depredada. Além de omissão, houve negligência e conivência do governador. Uma vergonha: o governador da capital afastado pela primeira vez pelo Supremo Tribunal Federal. É um momento político diferente de 2022, justamente quando Cappelli ascendeu como interventor e conduziu o processo com muita firmeza. Isso o credenciou a se apresentar como candidato a governador.

A vice-governadora Celina Leão (PP) lidera as pesquisas de intenção de voto. Isso não preocupa?
É natural, num momento em que ela tem grande exposição e está no exercício da vice, muitas vezes substituindo o governador, porque Ibaneis gosta de viajar muito. Isso dá a ela uma exposição muito grande. Mas é um governo com grandes fragilidades. Ela está recorrendo ao Ministério Público para adiar um processo em que esteve envolvida no passado. Ela aparece em primeiro lugar, Cappelli vem crescendo seguidamente e já se consolidou. Vejo uma chance grande de a gente vencer.

Não é pela aprovação do governo?
Ele já foi muito mais aprovado. Os problemas recorrentes na saúde, o descaso, a falta de empatia que ele demonstra com o sofrimento da população mais pobre, tudo isso tem criado uma degradação na imagem do governo e, ainda maior, na imagem dele e da vice. Nesse sentido, tenho convicção de que eles têm fragilidades a serem aproveitadas numa campanha eleitoral. Eles têm a máquina, a mídia, mas, quando começar o processo eleitoral e houver uma democratização dos espaços, certamente o jogo será outro.

Cappelli parece não conhecer o Distrito Federal como o senhor, que já foi deputado, senador e governador. Ele caiu de paraquedas?
Ele foi secretário do Ministério dos Esportes por muito tempo, tem filha nascida no Distrito Federal. Embora tenha passado um tempo como secretário de Flávio Dino no Maranhão, não conheço um político que fez o que Cappelli está fazendo. Ele está conhecendo o Distrito Federal com muito mais profundidade do que muita gente que não tem disponibilidade de conhecer a realidade da população.

É uma iniciativa meio populista, que lembra o folclórico ex-governador Joaquim Roriz...
Roriz era um político muito popular, que você pode criticar em outros aspectos. Mas Cappelli foi para Santa Luzia, um dos lugares mais pobres do Distrito Federal, que está totalmente abandonado pelo governo. Ibaneis é um governador elitista, só governa para os ricos. Só vai na periferia na época da eleição. Ele não gosta de povo, gosta de negócio. E, nesse sentido, Cappelli tem cumprido um papel.

Ibaneis o acusa de ter sido o pior governador do Distrito Federal. O que responderia?
Se ele hoje tem feito algumas obras, foi graças a mim. Todos que conhecem a política do Distrito Federal sabem a situação que eu peguei a administração e a que eu deixei. E isso permitiu que o governador seguinte pudesse fazer investimentos. Algumas obras que ele diz que fez, eu fiz 90%. Hoje estamos no auge da seca e os reservatórios estão cheios por causa de obras estruturantes que fiz. As áreas mais pobres tiveram um olhar atencioso de nossa parte. Sou um dos poucos ex-governadores do Brasil que saiu com todas as contas aprovadas e não respondo a processo, sem escândalo. E isso, certamente, Ibaneis jamais poderá dizer.

Ele terá o apoio de Bolsonaro para disputar o Senado?
É muito difícil o grupo de Bolsonaro apoiar Ibaneis. A prioridade da direita é fazer maioria no Senado, e precisamos construir as melhores chapas para evitar isso. Bolsonaro não confia em Ibaneis. Provavelmente, a chapa deles seria a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e a deputada federal Bia Kicis, ou o desembargador (aposentado) Sebastião Coelho, o que me faz especular que Ibaneis nem seja candidato. Se ele perceber que vai haver divisão e, por ser pessoa orgulhosa e ter receio de perder, pode nem disputar o Senado.

Como enxerga o momento hoje do PSB?
O PSB está em um momento positivo no campo progressista. Foi o partido que mais elegeu prefeitos e vereadores, teve dois milhões de votos a mais que o PT nas eleições municipais. E hoje tem lideranças que representam a renovação, como o prefeito João Campos, um nome nacional que vem fazendo administração brilhante no Recife, e a deputada Tabata Amaral. E o nosso vice-presidente Geraldo Alckmin, uma referência de equilíbrio, bom senso e compromisso com o país. No governo Lula, o perfil mais amplo, que conversa com todas as forças políticas, é Alckmin. Tudo isso coloca o PSB muito bem posicionado para 2026, como alternativa real de poder em vários locais do país, contribuindo com Alckmin na vice para a reeleição do presidente Lula.

O senhor foi um dos defensores da candidatura de Eduardo Campos pelo PSB ao Planalto. Enxerga que hoje o partido pode ser uma opção real para acabar com a polarização entre PT e Bolsonaro?
Tenho muita convicção de que estamos caminhando nessa direção. Uma característica do PSB é a qualidade das gestões. Veja o que João Azevêdo faz na Paraíba, o que Renato Casagrande faz no Espírito Santo e João Campos no Recife. Muita seriedade e qualidade na gestão, para entregar para as pessoas que mais precisam. Além da figura de Alckmin, com toda a sua experiência. Esses são valores que fazem o PSB e nos permitem ocupar um espaço político cada vez maior. Não somos culpados pela polarização. Hoje, quem promove isso é o campo da direita, através da família Bolsonaro. A eleição de 2026 ainda será polarizada, e apoiaremos Lula com Alckmin de vice, não tenho dúvidas. Mas, posteriormente, teremos uma nova geração de políticos e vejo o PSB ocupando um espaço importante, especialmente na figura de João Campos e Tabata em São Paulo, com um mandato brilhante. Temos vários quadros; isso fará o PSB ocupar um espaço político cada vez maior no campo progressista do Brasil.

Como será o PSB nas eleições, já que a bancada diminuiu muito?
Será um desafio grande. Sob a liderança de João Campos, vamos ter um aumento significativo na bancada. Sou o mais antigo no PSB, participei do registro definitivo, conheço profundamente o partido e vejo as movimentações que estão acontecendo nos estados. Temos Cid Gomes, teremos Renato Casagrande e João Azevêdo, então teremos bancadas expressivas.

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