Bolsonaristas se dizem "usados" por Trump e veem retirada de sanções a Moraes como derrota
Decisão que livrou ministro da lista de alvos da Lei Magnitsky irritou bolsonaristas
A decisão do governo Donald Trump de recuar na aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes foi recebida nos bastidores do bolsonarismo como um revés direto para o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e para a estratégia articulada por ele nos Estados Unidos.
Entre aliados do PL, a leitura predominante é que o desfecho esvazia a narrativa construída pelo parlamentar e reforça a percepção de que as movimentações americanas sempre estiveram ligadas a interesses comerciais, e não a um alinhamento político ou ideológico com a direita brasileira.
Em caráter reservado, dirigentes e parlamentares do partido classificaram o resultado como “péssimo” e “aterrador”. Um deputado influente da bancada resumiu a avaliação em tom de frustração: “Trump nos usou”.
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Segundo esse aliado, o ex-presidente americano posou como defensor da liberdade e da democracia ao aplicar uma sanção considerada extrema, apenas para recuar de forma abrupta.
Na avaliação desse grupo, o gesto esvazia uma das leis mais simbólicas da política externa dos Estados Unidos e expõe que Trump agiu exclusivamente em função de seus próprios interesses, sem compromisso real com a pauta defendida publicamente por Eduardo Bolsonaro.
Entre esses interlocutores, há ainda a avaliação de que o governo americano poderia ter dado uma sobrevida maior à sanção, ao menos como sinal político, especialmente pelo fato de a prisão definitiva de Jair Bolsonaro ter sido decretada há cerca de duas semanas. Para aliados, o recuo reforçou a percepção de abandono no momento de maior fragilidade do ex-presidente e de sua base política.
Entre parlamentares, o tom é de frustração aberta. O deputado Bibo Nunes (PL-RS) afirmou estar chocado com a postura do governo Trump.
— Estou profundamente chocado com essa retirada da Lei Magnitsky. Depois de tanta veemência contra Alexandre de Moraes, é decepcionante — afirmou.
Moraes havia sido incluído na lista de sancionados em julho, no mesmo dia em que Trump formalizou a imposição de uma tarifa de 50% sobre exportações brasileiras. À época, o governo americano citou como motivação a atuação do ministro na ação penal sobre a trama golpista, que resultou posteriormente na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão. No entorno de Trump, Moraes era retratado como responsável por uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro.
Nos bastidores do PL, a avaliação é que o recuo não altera de forma significativa a percepção do governo americano sobre Alexandre de Moraes, mas produz um efeito político imediato: encerra a expectativa de que a pressão internacional pudesse gerar constrangimentos ou consequências concretas ao ministro do Supremo. Parte dos aliados afirma que o desfecho já era cogitado, mas avalia que o timing foi especialmente negativo.
Publicamente, lideranças do partido adotaram um discurso de contenção de danos. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que Trump sempre atuou a partir de interesses próprios.
— Trump tem interesses americanos em primeiro lugar. Ele nos deu uma grande janela de oportunidades, seremos eternamente gratos ao Donald Trump. O Eduardo já fez a opção da luta dele lá nos Estados Unidos desde quando ficou por lá — declarou.
Outros aliados evitaram comentar o impacto político do recuo e mantiveram o foco nas críticas ao ministro do Supremo. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou que a decisão americana não altera sua avaliação sobre Moraes.
— O ministro Alexandre, para mim, continua sendo um juiz injusto, vingativo, cruel e ideológico — disse.
O tom é o mesmo da reação pública de Eduardo Bolsonaro e do influenciador Paulo Figueiredo, que divulgaram uma nota conjunta lamentando a decisão, mas agradecendo o apoio de Trump ao longo do processo.
No texto, os dois afirmam que o ex-presidente americano demonstrou atenção à “grave crise de liberdades” no Brasil e atribuem o desfecho à incapacidade da sociedade brasileira de construir unidade política para enfrentar seus problemas estruturais.
Na nota, Eduardo e Figueiredo dizem ainda esperar que a decisão de Trump seja bem-sucedida na defesa dos interesses estratégicos dos Estados Unidos e afirmam que continuarão atuando, “no tempo que for necessário”, para buscar um caminho que permita a “libertação” do país.

