Brasileiros veem desinformação digital em temas políticos e evitam conteúdos rotulados como falsos
Estudo do centro de pesquisa InternetLab aponta que 70% da população afirma não compartilhar postagens inverídicas
A percepção de desinformação é maior, entre os brasileiros, em temas como eleição e política, e menor em assuntos da vida cotidiana, segundo estudo realizado pelo centro de pesquisa InternetLab em parceria com a Rede Conhecimento Social e divulgado nesta segunda-feira.
}O levantamento conclui que, diante de um cenário impactado por notícias falsas, os brasileiros não se limitam a receber notícias passivamente, e assumem o papel de verificar por conta própria o que consomem.
Os usuários de internet, segundo os pesquisadores, selecionam, checam e compartilham conteúdos, de forma a construir redes próprias de confiança que envolvem familiares, amigos e influenciadores.
A pesquisa “Vetores e implicações da desordem informacional na América Latina” realizou 6.065 entrevistas no Brasil e em outros 18 países em julho de 2024. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos
O estudo indica que a percepção sobre a quantidade de notícias falsas que circulam varia de acordo com o tema tratado. Quando é eleição, por exemplo, 37% da população brasileira acredita que tudo ou quase tudo o que é informado é formado por desinformação. Em relação a política em geral, 27% têm a mesma percepção. Já no caso de temas cotidianos, como preços de alimentos no mercado, o total de brasileiros que acredita que toda ou quase toda a informação que circula é falsa cai para 11%.
— As pessoas confiam muito mais nos ciclos íntimos. Isso faz com que os assuntos do cotidiano sejam mais confiáveis, por estarem sendo falados por pessoas que elas conhecem de fato. Esse cenário também é influenciado pelo contexto político na América Latina, de desconfiança em relação a governos — aponta Ester Borges, consultora de desinformação do InternetLab.
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De acordo com o estudo, profissionais da área que envolve a notícia e especialistas são vistos pelos brasileiros como referências para confirmar uma informação, mas o círculo social, mas familiares e amigos são mais lembrados no país, numericamente, que em outros da América Latina. No Brasil, 24% dos entrevistados disseram que os familiares estão entre os mais confiáveis para falar do assunto, índice que é de 18% na região. Amigos são considerados referências para 17% das pessoas, e 15% afirmaram confiar em si mesmos. Esses percentuais são, respectivamente, de 12% e de 11% na América Latina como um todo.
O estudo questionou os usuários sobre caminhos para evitar a disseminação de notícias falsas. Um dos pontos identificados pelos pesquisadores é a moderação pelas plataformas, uma vez que 70% dos brasileiros afirmam não compartilhar conteúdos rotulados como falsos ou enganosos.
O papel ativo dos usuários na coleta de informações é evidenciado, segundo os pesquisadores, pela preferência dos brasileiros pelas plataformas de pesquisa, que aparecem à frente de redes sociais, aplicativos de mensagens ou serviços de streaming. O Google é apontado por 64% dos brasileiros que utilizam a internet como a principal ferramenta para obter informações ou procurar notícias, seguido por Instagram (54%), Youtube (45%) e Facebook (23%).
Somam 77% os brasileiros que afirma, utilizar mais de uma fonte para se informar sobre as notícias do dia. Quando questionados sobre quais são os meios de comunicação que os brasileiros veem pela primeira vez uma notícia, os entrevistados colocaram as redes sociais e os aplicativos de mensagens à frente (59% das respostas).
Desse total, quase metade do grupo (48%) afirma que checa as informações posteriormente em outras fontes na internet. Já outros 22% afirmam procurar na TV ou no rádio. Os demais 30%, por sua vez, responderam não ir atrás de mais conteúdos sobre o tema. Entre os brasileiros que afirmam ter a TV e o rádio ou sites de internet como primeira fonte de notícias, a maioria também alega procurar outras fontes para procurar mais informações sobre o assunto.
O cenário brasileiro possui contrastes em relação ao de outros países da América Latina, apesar de uma constatação em comum na região: a consolidação de novos ecossistemas de validação, que colocam o usuário no centro de uma ação mais ativa de checagem. Já entre as diferenças, no caso do México, por exemplo, 69% dos usuários afirmam compartilhar notícias pelo Facebook, quase o dobro desta parcela no Brasil (31%).
Apesar de aparecer como o aplicativo mais popular em número de usuários, o Whatsapp não figura entre as ferramentas de busca de informação, O Brasil e Cone Sul, composto pelo Chile, Argentina, Uruguai e Paraguai, se diferenciam pelo uso do YouTube, enquanto na América Central e no Caribe o TikTok ganha relevância.

