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CCJ do Senado rejeita PEC da Blindagem por unanimidade

Presidente da CCJ diz que texto vai ao plenário apesar da rejeição

Senador Alessandro Vieira, relator da PEC da Blindagem na CCJ.Senador Alessandro Vieira, relator da PEC da Blindagem na CCJ. - Foto: Saulo Cruz/Agência Senado

A mobilização popular do último fim de semana, quando milhares de pessoas foram às ruas contra a PEC da Blindagem e a anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro, selou o destino da proposta no Senado. Após uma votação expressiva na Câmara — 353 votos a favor e 134 contrários — e pedidos de desculpas de deputados que apoiaram o texto, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou nesta quarta-feira (24), por unanimidade, o relatório do senador Alessandro Vieira (MDB-SE), contrário à medida.

O presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), afirmou que, apesar da votação ter sido unânime, o texto irá ao plenário da Casa para ser derrotado por todos os senadores, em um acordo com o presidente Davi Alcolumbre (União-AP)

Já no domingo (21), o Globo havia mostrado que havia votos suficientes para barrar a PEC no Senado. Ao longo da semana, esse placar se ampliou com senadores antes indecisos ou omissos declarando voto contrário, pressionados pelas manifestações e pela repercussão negativa da aprovação na Câmara.

“PEC para proteger bandido”
Em seu parecer, Alessandro Vieira classificou o projeto como um retrocesso inaceitável:

— É uma PEC desenhada para proteger bandido. Foi testada no passado e levou a centenas de pedidos de investigação arquivados sem análise de mérito. O interesse público exige rejeição — disse.

Vieira lembrou que, entre 1988 e 2001, quando regra semelhante vigorou, quase 300 pedidos de investigação contra congressistas não prosperaram, e apenas um avançou. Para o relator, caso aprovada, a proposta permitiria “a integração ainda maior do crime organizado armado dentro do Parlamento”.

O senador também rebateu tentativas de emenda, como a apresentada por Sergio Moro (União-PR), que buscava restringir a blindagem a crimes contra a honra:

— Não há nada na PEC aproveitável. O voto secreto é quase uma cereja do bolo, porque foi retirado, com destaque, e depois reintegrado numa manobra antirregimental. Mas o conjunto da obra é absolutamente inviável. Não dá para pegar um pedaço dela e dizer: isso aqui é melhorzinho, isso é pior. Não tem, é muito ruim — afirmou.

Moro recua, mas defende imunidade de opinião
O ex-juiz Sergio Moro apresentou emenda assinada por outros 13 senadores para restringir o alcance da proposta, mas, diante do cenário de rejeição, também votou contra:

— Eu manifestei contrariamente a ela. A minha esposa, a deputada federal Rosângela Moro, participou da votação na Câmara e votou contra essa PEC em todos os momentos — disse.

Moro, contudo, insistiu na defesa da imunidade parlamentar.

— Discordo do relator em relação à questão da imunidade material. Eu não vejo que ela está sendo estritamente respeitada no contexto atual. A Constituição de 88 era clara ao estabelecer que parlamentares são invioláveis por seus votos, palavras e opinião. Não é um privilégio, é um instrumento fundamental para que o parlamentar represente seu eleitor sem medo de ser processado, seja civil ou criminalmente.

O senador Eduardo Girão (Novo-CE) reforçou o apelo para que a proposta fosse arquivada sem margem para sobrevida.

— Há um clamor grande para que essa PEC seja enterrada. Peço que o relatório seja acatado por aclamação.

O senador Jorge Seif (PL-SC), que chegou a apresentar voto separado, retirou o texto antes da votação. Ainda assim, aproveitou para pedir que outra proposta fosse apreciada:

— Eu retiro meu voto em separado, porém faço um apelo para que o senhor (presidente da CCJ) paute a nossa PEC 5/2024, que reforça o artigo 53 da Constituição, garantindo que nenhum parlamentar pode ser processado ou censurado por suas palavras e votos. Essa é a demanda da maioria dos parlamentares.

A proposta aprovada pela Câmara previa:

Pressão das ruas e cálculo político
A rejeição da PEC foi acelerada pela repercussão dos protestos de domingo, que reuniram milhares de pessoas em todas as capitais. Senadores reconheceram que a pressão popular foi determinante. Vieira resumiu:

— Nós já tínhamos maioria contrária à PEC, mas os movimentos populares deram ainda mais visibilidade. Não há hoje nenhum senador que não saiba o que está votando. Quem apoiar essa PEC estará votando para defender bandido.

O contraste com a Câmara também pesou. Deputados que apoiaram a proposta viraram alvo de críticas e alguns pediram desculpas publicamente. No Senado, até integrantes de partidos que haviam votado em peso a favor — como o PL, principal legenda de oposição — migraram para o campo do “não”.

Na CCJ, o relatório foi aprovado por unanimidade. No levantamento do GLOBO, atualizado até esta quarta-feira, 56 senadores se dizem contrários, seis favoráveis, três indecisos e 16 não responderam.

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