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De olho em 2026, Tarcísio acena a evangélicos e marca presença na Marcha para Jesus

Ao falar com os fiéis, governador que tenta quebrar resistência de lideranças religiosas adotou tom de pregação, mas com indiretas políticas

 Governador Tarcísio de Freitas e o prefeito Ricardo Nunes participam da Marcha para Jesus. Governador Tarcísio de Freitas e o prefeito Ricardo Nunes participam da Marcha para Jesus.  - Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Cotado para disputar a eleição presidencial de 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), prestigiou ontem, em aceno aos evangélicos, a edição paulista da Marcha Para Jesus.

E não foi uma participação protocolar: chegou a posar para fotos com a bandeira de Israel, país em guerra com o Irã e na Faixa de Gaza, e a cantar um louvor ao lado de pastores. Ausente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou uma carta em que enaltece o evento religioso.

Não foram poucas as vezes em que lideranças do universo evangélico, sobretudo o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, manifestaram resistência a Tarcísio como opção para 2026.
 



Bem nas pesquisas — empata em segundo turno com Lula, segundo o Datafolha —, o governador vem tentando afagar essa parcela do eleitorado. Divulgados este mês, os dados religiosos do Censo do IBGE apontam que os evangélicos cresceram e são agora 26,9% do país. É uma fatia que impõe rejeição mais alta a Lula do que a média geral.

No fim de semana passado, Tarcísio fez uma publicação nas redes citando os personagens bíblicos Abraão e Moisés, e recebeu elogios de políticos evangélicos. Durante a participação de ontem na Marcha, o governador sancionou um projeto de lei que transforma o evento e o grupo gospel Renascer Praise, autor do louvor entoado por ele no palco, em patrimônios culturais do estado.

O projeto foi assinado ao lado de deputados estaduais e federais, vereadores e secretários estaduais e municipais. Ao falar com os fiéis, Tarcísio adotou tom de pregação, mas com indiretas políticas.

— O dia de hoje é de avivamento, de reconciliação. E se a nação sucumbir à idolatria, à corrupção? Deus responde à oração de Salomão. Isso vale para a gente (também), que às vezes não prospera pois a terra está seca, porque veio a praga, porque veio o gafanhoto, porque está faltando reconciliação — disse. — E o dia de hoje é o dia de pedir perdão, aí a praga vai embora, aí a gente vai se encontrar de novo com a prosperidade e com a bênção.

A expectativa da Igreja Renascer em Cristo, organizadora da Marcha, era de que 2 milhões de pessoas participassem do ato — não foi divulgada estimativa de público. O trajeto começou por volta das 10h no Centro e seguiu até o palco principal em Santana, na Zona Norte.

Além de Tarcísio, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), também aliado de Jair Bolsonaro, participou. As autoridades estavam no trio principal ao lado do Apóstolo Estevam Hernandes e da Bispa Sônia, líderes da Renascer em Cristo e responsáveis por trazer a Marcha ao Brasil.

A última pesquisa Genial/Quaest aponta Tarcísio à frente na preferência do eleitorado de direita para substituir Bolsonaro, inelegível, na disputa de 2026. Ele empata tecnicamente com a ex-primeira-dama Michelle. No último levantamento do Datafolha, Lula lidera, mas tem empate técnico com Tarcísio em um eventual segundo turno. O governador aparece com 42%, contra 43% do presidente.

Entre as autoridades nacionais, compareceram o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, que é pastor, e o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, evangélico que representou Lula.

Sem citação a Lula
Membro da Igreja Batista, Messias já tinha representado o governo nas últimas duas edições. Ontem, ele optou por não citar Lula ao discursar — em 2023, foi vaiado ao fazê-lo —, mas entregou a Hernandes uma carta do presidente, que justificou a ausência por “compromissos de governo”. No texto, o presidente parabeniza a organização da Marcha e enaltece o evento.

“Quero parabenizá-los, Apóstolo Estevam e Bispa Sônia, pela liderança firme e generosa à frente desse grande movimento de esperança. A Marcha para Jesus é muito mais do que um evento, é um ato extraordinário de fé coletiva, uma caminhada de oração, de louvor e de compromisso com um Brasil mais humano, mais justo e mais solidário”, escreveu o petista. “Vocês têm sido, ao longo desses anos, verdadeiros pastores do seu povo. Um casal que, com coragem e espírito de serviço, cumpre aquilo que está escrito no livro do profeta Ezequiel.”

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