Sáb, 06 de Dezembro

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TRAMA GOLPISTA

Defesa de ex-assessor de Bolsonaro leva ao STF conversas em rede social atribuídas a Mauro Cid

A versão contraria o que Cid afirmou durante seu interrogatório na última semana no Supremo

Mauro Cid na sessão do primeiro dia de interrogatórios do núcleo 1Mauro Cid na sessão do primeiro dia de interrogatórios do núcleo 1 - Foto: Ton Molina/STF

O advogado Eduardo Kuntz, responsável pela defesa do ex-assessor presidencial Marcelo Câmara, informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que manteve conversas com Mauro Cid sobre a delação premiada do ex-ajudante de ordens por meio de uma conta no Instagram. A informação consta na defesa apresentada nesta segunda-feira, 16, na qual os advogados também pedem a anulação do acordo de colaboração.

A versão contraria o que Cid afirmou durante seu interrogatório na última semana no Supremo, quando disse não ter tratado da delação com outros investigados ou com a imprensa. A negativa foi dada após questionamento feito pelo advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro. Tanto Cid quanto Bolsonaro integram o chamado núcleo central da suposta tentativa de golpe de Estado e prestaram depoimento na Primeira Turma do STF. Já Câmara faz parte do núcleo 2 da ação penal que investiga o caso

Segundo a defesa de Câmara, os diálogos ocorreram entre janeiro e março de 2024, por meio da conta identificada como "GabrielaR702", apontada como sendo administrada por Cid e cujas mensagens vieram a público em reportagem da revista Veja.

Nas conversas, o ex-ajudante de ordens teria falado diretamente com o advogado sobre a delação, feito críticas à investigação e ao relator, ministro Alexandre de Moraes, e compartilhado links de reportagens com detalhes da apuração e do próprio acordo de colaboração.

O advogado afirma que foi procurado por Cid em janeiro. Para confirmar a identidade do militar, os dois realizaram uma ligação telefônica, e o próprio Cid enviou uma foto. Kuntz declarou que já conhecia o tenente-coronel e que, inicialmente, acreditou que o contato pudesse ter como objetivo uma eventual contratação para assumir a defesa de Cid.

A defesa sustenta que as conversas demonstram falta de voluntariedade por parte de Cid ao firmar o acordo de colaboração, o que, segundo os advogados, compromete a validade jurídica da delação. Por isso, pediram ao STF que declare a nulidade do acordo.

Além de questionar a delação, a defesa de Câmara também pediu o afastamento de Moraes da condução do caso, alegando que o ministro é parte interessada no processo. A denúncia da Procuradoria-Geral da República inclui Câmara entre os acusados de integrar um suposto esquema de monitoramento ilegal contra Moraes. Os advogados afirmam que essa condição compromete a imparcialidade do relator.

Nesta segunda-feira, 16, a defesa de Bolsonaro também pediu a anulação da delação de Mauro Cid, alegando que o ex-ajudante de ordens mentiu em depoimento ao STF e violou o sigilo da colaboração, citando como prova uma série de mensagens reveladas pela reportagem.

Os advogados solicitaram ainda que o Supremo oficie a Meta, responsável pelo Instagram, para que forneça dados detalhados da conta "GabrielaR702". Entre as informações requeridas estão registros de IP, localização geográfica, histórico de dispositivos e o conteúdo integral das mensagens trocadas na conta. Anteriormente, Moraes já havia determinado à empresa o envio dessas informações no âmbito da investigação.

O tema veio à tona após o advogado Celso Vilardi, defensor de Bolsonaro, questionar Cid durante o interrogatório no STF se ele havia usado esse perfil para se comunicar com terceiros - o que foi negado pelo ex-ajudante de ordens tanto naquele momento quanto depois da divulgação da reportagem com o conteúdo das mensagens.

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