'É uma questão familiar', diz Temer sobre atuação de Eduardo Bolsonaro nos EUA
Ex-presidente acredita que parlamentar está disposto a defender o pai até as 'últimas consequências'; ele também afirma que sanções contra Moraes são um 'exagero brutal'
O ex-presidente Michel Temer afirmou, na noite desta quinta-feira, que acredita que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) está disposto a defender o pai, o também ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), até as "últimas consequências".
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Temer ponderou que a postura pode até ser chamada de "exagerada politicamente", mas é "uma questão tipicamente familiar". O ex-mandatário também expôs considerar que as justificativas políticas para as sanções impostas pelos Estados Unidos ao Brasil são, na verdade, um "pretexto" para revidar as recentes ações do governo nos Brics.
"Você sabe que esta é uma questão familiar. Eu, aqui comigo penso, eu acho que ele pensa em defender às últimas consequências do pai dele, né? É uma coisa que você pode chamar de exagerada politicamente, mas é uma questão tipicamente familiar", afirmou Temer, em entrevista concedida ao Canal UOL. "Eu acho que a emoção de natureza fraternal, familiar ou até filial, ele levou as últimas consequências", completou.
O ex-presidente também declarou "não saber" se o Congresso está disposto a cassar o mandato de Eduardo por conta de sua atuação nos EUA.
"Pelo o que ele está fazendo lá — e, como eu disse, é uma questão familiar, eu não sei qual emoção o move —, pode ser que digam que ele está prejudicando o país. Isso poderia, eventualmente, gerar uma queixa", explicou. "Mas não sei se o Legislativo está disposto a isso, porque a Câmara está muito dividida, como o Brasil está dividido, o que é péssimo para o país", continuou.
Em relação ao tarifaço imposto por Donald Trump, Temer lembrou que o maior parceiro comercial do Brasil é a China e destacou o papel do país na promoção do multilateralismo, mas defendeu a manutenção das boas relações com os EUA.
De acordo com ele, contudo, as declarações do presidente Lula (PT) sobre a desdolarização nas relações comerciais entre os países dos Brics foram a maior motivação para a imposição das tarifas.
"Eu verifico que essa questão do ex-presidente Bolsonaro, a que o Donald Trump alude — e é claro que ele tem uma boa relação com a família Bolsonaro —, mas eu acho foi um pretexto para criticar o Brasil, porque o ponto central é justamente esse foco político-econômico", disse.
'Exagero brutal'
Sobre a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Temer afirmou que a medida foi "equivocadíssima". O político lembrou que a sanção é aplicada para criminosos de alto risco e violadores de direitos humanos, o que defende não ser o caso do magistrado.
"Isso foi um exagero sem precedentes, um exagero brutal. Especialmente porque o ministro Alexandre é um grande constitucionalista", declarou o ex-presidente, que lembrou que escolheu Moraes como ministro da Justiça, em seu governo, devido ao seu "histórico na área jurídica", disse.
'Punição inevitável'
Para o ex-presidente, em relação aos esforços da oposição para anistiar os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, a "punição era inevitável", e o que deve ser discutido é o "montante da pena" aplicada. Temer defendeu que o Supremo faça uma dosimetria das sentenças — podendo até liberar quem já tenha cumprido um terço da pena, por exemplo.
"Muitas pessoas estão presas há mais de um ano, dois anos. Pelo sistema normativo nacional, quando alguém cumpre um sexto da pena, se tiver bom comportamento, já pode ser liberado. Também há sempre possibilidade de livramentos condicionais, até de prisões de natureza domiciliar", apontou Temer. "Com tanta 'conflitância' no país, será que é preciso mais uma?", questionou.
O ex-mandatário também revelou que, quando sugeriu que os "apenados ou processados" pelo 8 de janeiro entrassem com uma revisional no STF, um ministro da Corte o telefonou para dizer se tratar de uma "grande ideia". De acordo com ele, uma união entre os Poderes poderia colocar "ordem na casa".
"Por que eu digo isso? Porque você evita um conflito. Se vier a anistia, vai haver um conflito (do Congresso) com o Supremo, porque alguém vai levantar a tese da inconstitucionalidade", explicou.

