Sáb, 06 de Dezembro

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Defesa

Eduardo cobra Nikolas por participação mais "ativa" em defesa de Bolsonaro

Filho do ex-presidente vocaliza insatisfação que vem sendo relatada por outros integrantes da bancada do PL; base esperava mobilização à la "Pix 2.0"

O deputado federal Nikolas Ferreira - Eduardo Bolsonaro evitou críticas diretas, mas fez cobranças públicas ao mineiro O deputado federal Nikolas Ferreira - Eduardo Bolsonaro evitou críticas diretas, mas fez cobranças públicas ao mineiro  - Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

A atuação considerada discreta de Nikolas Ferreira nas redes sociais, durante a semana mais turbulenta do entorno de Jair Bolsonaro desde o fim de seu governo, tem causado incômodo entre aliados do ex-presidente e foi vocalizada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL).

O filho do ex-presidente evitou críticas diretas, mas fez cobranças públicas ao mineiro em entrevista à Revista Oeste, nesta sexta-feira. Eduardo sugeriu que Nikolas poderia estar mais ativo na divulgação das ações da direita e no enfrentamento ao Judiciário:

— Da minha parte, não tem problema nenhum. Mas eu poderia estar falando muito mais dele se estivesse mais engajado com o trabalho que estamos fazendo aqui. Se ele pudesse ser mais ativo nas redes sociais, acho que ajudaria muito — afirmou.

Deputado federal mais votado do país em 2022 e figura central da militância digital bolsonarista, Nikolas não assumiu o protagonismo esperado após a operação da Polícia Federal que teve Bolsonaro como alvo.

Apesar de ter publicado dezenas de conteúdos desde a última sexta-feira, sua comunicação foi considerada tímida por integrantes da base, especialmente quando comparada a mobilizações anteriores.

Nos bastidores da bancada bolsonarista, há quem diga que Nikolas “ajuda muito quando quer”, mas que desta vez ficou devendo. A expectativa era de uma mobilização digital semelhante à da chamada crise do Pix, em janeiro, quando o deputado viralizou ao criticar uma medida do governo sobre fiscalização de transações bancárias.

O vídeo superou 335 milhões de visualizações e é citado como exemplo do alcance e do impacto político que ele pode provocar quando decide liderar o discurso. À época, o governo recuou após a reação pública.

Na última segunda-feira, Nikolas viajou a Brasília apenas para participar da entrevista coletiva em apoio a Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Retornou a Belo Horizonte no mesmo dia. O gesto foi interpretado como sinal de distanciamento por colegas que permaneceram na capital federal, participando de reuniões com o ex-presidente na sede do PL e encontros estratégicos com outros parlamentares da linha de frente.

Embora o desconforto cresça entre aliados, nem todos compartilham das críticas. O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido na Câmara, minimizou o ruído e saiu em defesa do mineiro:

— O Nikolas esteve lá conosco essa semana, está empenhado na comunicação, está montando estratégia, padronizando, unificando. Tá fazendo um trabalho incrível. Se alguém falou dele, é muita injustiça. Está trabalhando demais — disse Sóstenes.

Para o líder do PL, é natural que existam divergências de percepção em momentos de crise, especialmente quando se trata da atuação em redes sociais, que varia de estilo para estilo.

Interlocutores próximos a Nikolas também rejeitam a ideia de afastamento. Segundo aliados, o deputado não abandonou o ex-presidente e tem se mantido engajado.

Como exemplo, apontam que ele reagiu já na sexta-feira à operação da PF, com uma publicação em tom irônico: “A Venezuela está com inveja”, escreveu. No domingo, voltou ao tema em um vídeo de quase 14 minutos, no qual questiona a legalidade e a proporcionalidade das medidas impostas a Bolsonaro.

— Me parece que no Brasil não tem mais nada mais importante para poder se combater, tipo, sei lá, crime organizado — ironizou.

No mesmo vídeo, Nikolas afirmou que o Brasil já não vive uma democracia plena, atacou o STF, questionou a atuação da PGR e insinuou que há um projeto em curso para inviabilizar Bolsonaro politicamente.

Apesar disso, o desconforto entre parlamentares reflete a pressão crescente sobre as lideranças digitais do bolsonarismo para que assumam um papel mais agressivo na defesa de Bolsonaro, sobretudo diante do avanço das investigações da PF e da decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que impôs medidas cautelares ao ex-presidente.

A reportagem procurou Nikolas Ferreira e sua assessoria, mas não obteve retorno até a publicação. O espaço permanece aberto para manifestação.

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