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BRASIL

Em meio à crise entre Brasil e EUA, Lula reforça discurso de soberania, mas dosa ataques

Respostas mais duras a serem dadas por integrantes da gestão petista a Trump, a partir de agora, devem focar na aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes

LulaLula - Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai manter a aposta na defesa da soberania, após as tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros serem efetivamente aplicadas. Há um diagnóstico de que o discurso trouxe ganhos políticos até agora, mas cresceu nos últimos dias o receio em relação ao impacto na economia da alíquota de 50% sobre os produtos brasileiros importados pelos americanos.

As respostas mais duras a serem dadas por integrantes da gestão petista ao presidente Donald Trump, a partir de agora, devem focar na aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

As sanções que impedem Moraes de, entre outras restrições, ter dinheiro em contas nos Estados Unidos e ter relações comerciais com empresas e cidadãos americanos foram classificadas como “inaceitáveis” por Lula. O governo vai enfatizar que as punições são uma tentativa de interferência no Judiciário brasileiro para deixar claro à população a motivação das medidas de Trump.

Disposto a negociar
Não está descartado que Lula faça um novo pronunciamento em cadeia de rádio de televisão, como o do dia 17 de julho, que foi bem avaliado. Paralelamente, o Planalto vai insistir no discurso de que segue disposto a negociar. Mas, mesmo assim, com a ênfase de que o Brasil não baixará a cabeça no diálogo com os americanos.

 

Auxiliares do presidente não enxergam no momento possibilidade de uma ligação para Trump, porque o americano não tem dado sinais de que estaria disposto a conversar com Lula.

A preocupação manifestada nas duas reuniões que Lula fez com ministros depois da publicação da ordem executiva e da sanção a Moraes foi com os empregos nos setores afetados. O diagnóstico feito no Planalto é que as indústrias, principalmente de máquinas e equipamentos, sofrerão as maiores perdas.

Uma onda de demissões poderia, na avaliação de aliados, fazer com que o governo enfrente desgaste diante da população. Para se contrapor a esse cenário, serão anunciadas as medidas de mitigação de impactos. Há também a expectativa de que uma nova rodada de negociações possa livrar mais setores do tarifaço de 50%. O Planalto decidiu que não haverá um pacote, e as iniciativas devem ser anunciadas pontualmente para cada setor.

Um outro ponto que está definido no governo é manter o protagonismo do vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin. A quantidade expressiva de produtos que ficaram fora do tarifaço foi atribuída ao trabalho de negociação do vice.

Alckmin também tem tido papel de destaque na comunicação das iniciativas. Na quinta-feira, ele esteve no programa “Mais Você”, da apresentadora Ana Maria Braga, na TV Globo, para um bate-papo informal sobre o tarifaço (leia mais na página 18). O tom sóbrio de Alckmin e a sua imagem de moderado servem para afastar as críticas de que o governo age de forma radical nas negociações com os Estados Unidos.

Apesar de reconhecerem que o discurso da soberania foi importante para dar um norte para o governo, auxiliares de Lula não acreditam que o tema possa se manter em evidência até a eleição do ano que vem e assim sustentar a popularidade do petista.

Um aliado com assento no Planalto relativiza a importância do discurso da soberania adotado depois que os EUA anunciaram no dia 9 de julho a imposição das tarifas à melhora da avaliação do governo na pesquisa da Quaest de julho. O levantamento mostrou que a taxa de desaprovação do governo recuou de 57% para 53%, enquanto a aprovação passou de 40% para 43%.

Para esse aliado, a pesquisa, que foi a campo entre 10 e 14 de julho, pegou apenas parte da repercussão das notícias sobre as medidas. Assim, o impacto correto do tarifaço e da reação do governo só poderá ser medido em novos levantamentos.

A pesquisa de julho também mostrou que, para 44%, o governo federal fez o que é “mais certo” no embate com o governo americano ao responder o tarifaço com a Lei da Reciprocidade, enquanto 29% avaliam o mesmo sobre Jair Bolsonaro e aliados, que incentivaram as sanções.

Entrevistados também opinaram se governo e oposição deveriam se unir em torno da defesa do Brasil para enfrentar a medida americana. Este é o movimento correto para 84%.

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