Esquerda mostra apoio tímido nas redes à indicação de Messias ao STF
Sigla vê como positiva dissociação dele com o campo e avalia que a distância mantida pelo partido tende a beneficiá-lo com o centro e a direita
Defendida por Lula, a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF) tem mobilizado pouco, no ambiente on-line, a base alinhada ao governo, que tem atuado com mais força em outros temas de interesse da esquerda. Dentro do PT, integrantes afirmam que a mobilização tem sido tocada fora das redes sociais e que a distância mantida pelo partido tende a beneficiá-lo com o centro e a direita; ambos divididos entre o apoio e a crítica ao nome de Messias.
Um levantamento da consultoria Palver a partir da análise de conversas de mais de 100 mil grupos de WhatsApp mostra que, em geral, menos de 10% das mensagens diárias trocadas sobre o tema foram em apoio a Messias, enquanto posts críticos corresponderam a mais de 50%.
O silêncio de governistas também foi observado em canais de mensagens no aplicativo que reúnem militantes de esquerda e influenciadores ligados ao PT monitorados pelo Globo. Nas últimas semanas, os grupos têm priorizado temas como a isenção do Imposto de Renda, o fim da escala 6x1 e críticas à derrubada pelo Congresso dos vetos presidenciais na lei do licenciamento ambiental.
A defesa do nome de Messias nas redes sociais permaneceu em baixa mesmo após a publicação de uma nota pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), em que ele acusava “setores do Executivo” de tentar associar dificuldades de apoio no Congresso à negociação de cargos. Em resposta, somente a ministra Gleisi Hoffmann, das Relações Institucionais, entrou em cena e foi ao X dizer que o Planalto tem por Alcolumbre “o mais alto respeito e reconhecimento”.
O baixo engajamento em prol da indicação do AGU também foi capturado por um relatório divulgado pela FGV Comunicação, que identificou 177 mil posts e 2,5 milhões de interações sobre o tema, dos quais os 25 com maior repercussão foram feitos por opositores.
Dentro da cúpula do PT, a baixa mobilização nas redes sociais por Messias tem sido minimizada por parte dos integrantes, que afirmam esperar maior barulho neste momento daqueles que são contrários à indicação, como os representantes do bolsonarismo.
Também há confiança de que o líder do PT no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), atua internamente para garantir a aprovação do nome dele na sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, marcada para o próximo dia 10.
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Outras alas da sigla, no entanto, enxergam a distância mantida pelo partido como benéfica para o AGU, uma vez que a aproximação dele com a legenda poderia dificultar ainda mais a conquista de apoio à indicação entre representantes do centro e da direita.
A indicação de Messias também chegou a enfrentar resistências iniciais de setores progressistas, que demandavam por mais representatividade no Supremo, e foi alvo de uma nota de repúdio publicada por integrantes do coletivo Mulheres que Decidem, que argumentou que a escolha de Lula deveria ser pautada pela participação social e não pela tentativa de “angariar apoio de movimentos religiosos”.
Em meio ao silêncio da esquerda, o debate sobre a escolha de Lula tem se tornado menos sobre “a clivagem” entre governistas e a oposição nas sociais, e sim um assunto que divide opiniões dentro da própria direita, explica Marco Aurélio Ruediger, diretor da FGV Comunicação.
— Agora que a escolha do Lula já foi formalizada, não há mais contestação interna e a escolha da esquerda está dada. O conflito que tem acontecido on-line passa a ser entre parte dos evangélicos, que apoiam Messias e o reconhecem como qualificado para representá-los no Supremo, e o bolsonarismo raiz — explica.

