Eventos paralelos de Lula e Tarcísio em SP são marcados por trocas de farpas
Presidente visitou favela alvo de desocupações polêmicas do governador, que esteve em São Bernardo, berço político do PT
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) trocaram farpas e indiretas ontem em eventos de anúncios sociais voltados para moradia organizados quase de forma simultânea em São Paulo.
O petista visitou a Favela do Moinho, na capital paulista, onde formalizou ajuda federal no custeio de famílias que serão removidas da comunidade, onde será construído um parque pela gestão Tarcísio. O governador foi convidado para o evento, mas não compareceu já que, pouco antes, ele entregou novas unidades habitacionais do programa Casa Paulista em São Bernardo do Campo, berço político de Lula , no ABC Paulista.
A desocupação do Moinho, maior favela ainda existente no Centro de São Paulo, tem provocado uma disputa de narrativas entre os governos federal e estadual. A área pertence à União, e Tarcísio conta com a cessão do terreno para transformá-lo em parque, parte de um amplo projeto previsto para a região central que inclui a mudança da administração estadual para o bairro dos Campos Elísios, uma promessa de campanha do governador.
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A comunidade foi alvo de operações policiais de desocupação no mês passado, que acabaram em protestos dos moradores. O governo federal acusou o estadual de descumprimento do acordo de remoção das famílias.
Presença de ministros
No discurso que fez no Moinho, Lula fez críticas à gestão Tarcísio, sem citar o nome do governador. O presidente afirmou que ainda não oficializou a cessão do terreno porque teme que a gestão estadual expulse os moradores mediante força policial e sem uma oferta habitacional adequada.
— A minha preocupação é que se a gente fizer a cessão, e eles tiverem que usar isso aqui amanhã, eles vão utilizar outra vez a polícia e vão tentar enxotar vocês sem vocês conseguirem o que querem — disse Lula.
Lula esteve acompanhado dos ministros Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), Esther Dweck (Gestão e Planejamento), Jader Filho (Cidades), Fernando Haddad (Fazenda) e Márcio França (Empreendedorismo), além da primeira-dama Janja Silva e do presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Fernandes. Pelo lado do governo estadual, compareceu uma assessora da Secretaria de Habitação.
— (A cessão será feita) depois de provarem que vocês foram tratados com decência, respeito e dignidade. É por isso que a gente não fez a cessão agora. Quando tiver tudo pronto, a casa que vocês vão comprar, o (auxílio) aluguel para vocês, aí a gente faz a cessão definitiva para o estado — falou Lula.
Foi a primeira vez que um presidente da República visita a favela, e o evento causou comoção nos moradores. Eles estenderam faixas de “Lula, obrigado” e o petista foi recebido com gritos de “Lula, eu te amo”. Na véspera, Macêdo tinha ido ao local preparar a visita.
Lula chegou por volta das 15h, visitou uma escola e a casa de uma moradora. Depois, na quadra esportiva da comunidade, assinou as portarias que efetivam a destinação de moradias para cerca de 880 famílias.
Foi um pedido do presidente que a assinatura fosse feita dentro da favela — e não no Armazém do Campo do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), como previsto inicialmente. O presidente fez críticas implícitas à gestão Tarcísio ao mencionar os planos do governo estadual de construir um parque na área.
— Por mais que seja bonito um parque, ele não pode ser feito às custas do sofrimento de um ser humano. É importante que as pessoas que queiram visitar este parque não venham pisotear sangue de pobres que aqui foram agredidos . Vamos fazer com decência e dignidade — afirmou o presidente.
Em maio, Lula e Tarcísio firmaram um acordo no Moinho. As famílias terão acesso a moradias de até R$ 250 mil pelo Minha Casa Minha Vida, na modalidade “compra assistida”, utilizada após as enchentes no Rio Grande do Sul, no ano passado.
O custeio será dividido entre os governos estadual (R$ 70 mil) e federal (R$ 180 mil). Enquanto aguardam os imóveis, elas receberão R$ 1.200 de auxílio-aluguel — antes, o valor oferecido pela gestão estadual era R$ 800.
Evento no ABC
Em evento em São Bernardo do Campo, berço da criação do PT, Tarcísio participou da entrega de cerca de 200 moradias populares. No discurso, o governador disse que estava tranquilo com o ato paralelo promovido pelo petista no Moinho.
— Eu estou muito tranquilo com isso, o presidente vai fazer o evento dele lá, está tudo certo e nós vamos continuar trabalhando. Tomamos a frente — disse Tarcísio, em alusão à frequente crítica feita pela gestão estadual de que Lula só entrou na questão do Moinho após iniciativa do governador.
— O governo federal veio, se juntou a nós. É ótimo, é muito bem-vindo. Agora, tem as outras políticas públicas (estaduais) que estão ali colocadas, principalmente a de emprego. E o nosso objetivo, sinceramente, não é fazer evento. Nosso objetivo é fazer entrega — afirmou Tarcísio.

