Ex-comandante do Exército depõe à PF por mais de 7 horas sobre suposto golpe de Estado
De acordo com as investigações, oficial teria 'resistido às investidas do grupo golpista'
Após pouco mais de sete horas de depoimento sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seus aliados e militares, o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, concluiu a oitiva no fim da noite desta sexta-feira. O oficial não foi alvo da última operação da corporação sobre o tema e falou aos investigadores na condição de testemunha. Ele começou a ser ouvido às 15h e permanecia na sede da Polícia Federal (PF) por volta de 22h30, mas já terminou de depor.
Antes de chegar à PF, a expectativa de integrantes das Forças Armadas era de que Freire Gomes esclarecesse alguns pontos do inquérito, como sua participação na reunião realizada no palácio da Alvorada sobre a minuta golpista, eventual omissão de sua parte no controle de seus subordinados e sua atuação dentro do Exército para conter os ímpetos antidemocráticos e o acampamento montado em frente ao quartel-general.
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Diálogos obtidos durante a investigação mostram que o general recebeu informações do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, sobre os planos de golpe ao longo de 31 dias. Freire Gomes foi comandante do Exército de março a dezembro de 2022.
Na representação que embasou a operação Tempus Veritatis, deflagrada no dia 8 de fevereiro com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), a PF cita cinco áudios encaminhados por Cid a um contato que, pela “análise dos dados e a contextualização” a partir das demais evidências colhidas pelos policiais, “indicam que as mensagens tinham como destinatário o então comandante do Exército, general Freire Gomes”.
Como mostrou a colunista Bela Megale, o general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira disse, em depoimento, ter participado da reunião com Bolsonaro, em dezembro de 2022, por ordem de Freire Gomes. A PF aponta que, no encontro, discutiu-se a possibilidade de um golpe de Estado.
A PF, no relatório que embasou a operação, afirma que Freire Gomes e o então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior, "teriam resistido às investidas do grupo golpista".
A PF acrescenta que, "no entanto, considerando a posição de agentes garantidores, é necessário avançar na investigação para apurar uma possível conduta comissiva por omissão, pelo fato de terem tomado ciência dos atos que estavam sendo praticados para subverter o regime democrático e mesmo assim, na condição de comandantes do Exército e da Aeronáutica, quedaram-se inertes".
No documento, a PF aponta ainda que o general Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro, chamou Freire Gomes de “cagão” ao saber que ele não aceitou participar do suposto plano de golpe de Estado.
A PF também escreveu em seu relatório que em outros diálogos, o militar Ailton Barros, com quem Braga Netto trocou mensagens, também criticou Freire Gomes por “estar dificultando a vida do PR [presidente da República]” ao “se colocar contra [o plano]”.

