Sáb, 06 de Dezembro

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POLÍTICA

Fraude no INSS e carona em avião: polêmicas em torno de Lupi que marcaram vaivém de governos do PT

Ministro entregou o cargo sob pressão por desconto irregular em aposentadorias

Ex-ministro da Previdência Social, Carlos LupiEx-ministro da Previdência Social, Carlos Lupi - Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Nove dias depois de uma operação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União ( CGU) revelar um amplo esquema de fraudes em descontos associativos de aposentadorias e pensões do INSS, Carlos Lupi se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto nesta sexta-feira e deixou o posto.

Auxiliares de Lula passaram a defender a saída diante da análise de que Lupi demorou a tomar medidas. Em entrevista ao GLOBO, ele mesmo reconhece que “sabia o que estava acontecendo”.

As entidades sob investigação receberam, segundo a PF, R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024 a partir de descontos diretamente do contracheque de aposentados e pensionistas.

Mas não se sabe o quanto disso efetivamente foi pago irregularmente. O então presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanutto, foi afastado do cargo por decisão judicial e depois demitido por Lula.

 

Na crise que o pressionou a sair, o agora ex-ministro viveu um enredo semelhante ao desgaste que já havia inviabilizado sua permanência no primeiro escalão de uma gestão petista há 14 anos.

Crise em 2011
Em 2011, quando integrava o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, Lupi viveu situação parecida. Ele pediu demissão após uma série de denúncias de irregularidades no Ministério do Trabalho, então chefiado por ele.

Na época, a Comissão de Ética Pública recomendou à presidente a exoneração. Ele foi acusado de ter acumulado entre 2000 e 2005 dois cargos de assessor parlamentar em órgãos públicos distintos e foi apontado como funcionário fantasma da Câmara dos Deputados entre 2000 e 2006.

Na ocasião, Lupi apresentou sua demissão, dizendo que saía com “a consciência tranquila do dever cumprido, da minha honestidade pessoal, e confiante, por acreditar que a verdade sempre vence". Em meio a todas as polêmicas, ele foi também acusado de ter viajado em um avião alugado por um empresário que obteve posteriormente contratos de projetos ligados ao ministério.

O uso da aeronave teria ocorrido em 2009, no segundo governo Lula, quando Lupi já era ministro do Trabalho.

O caso só veio à tona em 2011 depois que um site de notícias divulgou uma foto de Lupi saindo de uma aeronave no Maranhão, segundo o proprietário do portal. O avião em questão havia sido alugado por um responsável por ONGs que receberam verbas de convênios com a pasta. O caso foi revelado pela revista Veja.

Em nota divulgada na época, o ministério afirmou que a viagem do ministro tinha atividades do ministério e partidárias e, nesses casos, a aeronave foi de “responsabilidade” do PDT, partido de Lupi.

Ao GLOBO, o empresário em questão contestou na ocasião declarações do ministro de que os dois não se conheciam. O homem afirmou que possuía “elementos suficientes” para fazer o ministro refrescar a memória e confirmou que “providenciou” o avião.

— Queria contestar essa história do ministro. Eu queria dizer claramente que o ministro está equivocado ou está sem memória — disse o empresário.

Relações políticas
Lupi assumiu a presidência nacional do PDT em 2004, quando morreu Leonel Brizola, seu padrinho político, e não saiu do cargo desde então. Atualmente, ele está licenciado da função.

Assim como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) é ligada ao PT, o PDT tem uma conexão histórica com a Força Sindical que representa diversos sindicatos e federações de trabalhadores.

Em 2015, quando o governo Dilma já estava em crise, Lupi chegou a dizer publicamente que o PT roubou demais e que o partido "se esgotou".

— O PT exauriu-se, esgotou-se. Olha o caso da Petrobras. A gente não acha que o PT inventou a corrupção, mas roubaram demais. Exageraram. O projeto deles virou projeto de poder pelo poder — disse em abril de 2015 a correligionários, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.

Neste terceiro governo Lula, ele voltou como ministro com o apoio de Ciro Gomes, que havia disputado a Presidência da República em 2022. Quando foi anunciado, Lupi disse que Lula o pediu empenho para reduzir as filas do INSS.

A espera para conseguir o benefício, porém, não diminuiu. A fila fechou o ano de 2024 com 2,042 milhões de requerimentos por benefícios sociais e da Previdência. É o maior número de requerimentos aguardando análise em todo o terceiro mandato, após a promessa de campanha de acabar com a fila.

O tempo médio de espera foi de 46 dias em dezembro. A meta de Lupi, porém, era reduzir o tempo de análise de requerimentos de benefício assistencial e previdenciário para 30 dias.

Durante a sua gestão, Lupi também trabalha recorrentemente para reduzir o teto de juros do empréstimo consignado dos aposentados. Esses movimentos, porém, chegaram a levar a suspensão de empréstimos, já que os bancos passaram a operar as taxas no negativo.

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