Governador do MT reage sobre uso de câmeras por policiais e sugere monitorar juízes e políticos
Mauro Mendes afirmou que, se é necessário fiscalizar policiais por irregularidades, o monitoramento deveria se estender a outros poderes
O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), propôs que magistrados, membros do Ministério Público e políticos sejam monitorados por câmeras corporais, assim como policiais.
Leia também
• Moraes manda Jorginho Mello prestar depoimento à PF após fala de contato entre Bolsonaro e Valdemar
• Internado na UTI, prefeito de BH vai estender licença médica
• Ao NYT, Bolsonaro descarta apoiar filhos para a Presidência nas eleições de 2026
Durante entrevista à Rádio CBN Cuiabá nesta quarta-feira, Mendes afirmou que, se é necessário vigiar policiais por irregularidades, o monitoramento deveria se estender a todos os servidores públicos. A declaração, no entanto, não passou despercebida por membros do Judiciário, que reagiram.
— Tem juiz que foi flagrado vendendo sentença, assim como desembargador. Então, vamos botar câmeras em todos os juízes e em todos os desembargadores. Tem gente do Ministério Público também. Vamos colocar câmeras e vigiar todo mundo — afirmou o governador.
A afirmação veio após Mendes mencionar que apenas uma minoria dos policiais comete irregularidades e sugerir que, se o monitoramento serve para coibir desvios na segurança pública, ele deveria ser estendido a outros poderes.
— Um ou dois policiais, 1% ou 2% cometem alguma coisa errada. Então tá bom. Também vamos colocar câmeras em todos os políticos, como governadores, prefeitos, deputados estaduais — acrescentou.
Reações do Judiciário
O presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), desembargador José Zuquim Nogueira, criticou o posicionamento de Mendes, afirmando que ele questionou a integridade dos magistrados de forma "irresponsável".
"A partir de uma falsa simetria e de forma irresponsável, o governador atacou gratuitamente as instituições do sistema de Justiça, o que não é compatível com a posição a qual ocupa", declarou Zuquim, em nota.
A Associação Mato-Grossense de Magistrados (Amam) também reagiu, classificando as falas como "inaceitáveis", e anunciou que tomará medidas judiciais cabíveis.
"Comparar a atuação dos policiais com a de juízes e desembargadores ao mencionar casos de venda de sentença, a declaração foi não apenas infundada, como também lamentavelmente ofensiva a toda a classe jurídica e distorceu o propósito da Justiça", afirmou a Amam.
Polêmica no Judiciário
Mato Grosso foi palco de um suposto esquema de venda de sentenças no Tribunal de Justiça do estado no final do ano passado. A Polícia Federal investigou o esquema, envolvendo advogados, lobistas, empresários e magistrados. Na ocasião, os desembargadores Sebastião Moraes e João Ferreira Filho foram afastados.
Além disso, os holerites elevados de desembargadores do TJ-MT também geraram questionamentos. Eles ganham, em média, subsídios que chegam a R$ 130 mil líquidos por mês, furando o teto constitucional em mais de quatro vezes.
Procurado pelo Globo, o Governo do Estado de Mato Grosso afirmou que "o governador não atacou a magistratura estadual ou qualquer outra categoria". Segundo a Secretaria de Estado de Comunicação, "ele falou de forma genérica que casos de erros cometidos por profissionais da segurança podem ocorrer, mas também em diversas profissões e na classe política". Por fim, o Governo disse que "a frase foi interpretada de forma equivocada, pois circulou uma versão com corte".
A reportagem também procurou o Ministério Público Estadual, mas ainda não recebeu retorno. O espaço segue aberto para manifestação.