Dom, 07 de Dezembro

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MP aciona TCU e pede que governo retire restrição de acesso a 16 milhões de documentos de convênios

Ministério da Gestão e Inovação diz que segue determinação da Lei Geral de Proteção de Dados ao remover arquivos do ar

Sede do Tribunal de Contas da União (TCU) Sede do Tribunal de Contas da União (TCU)  - Foto: Agência Brasil/Arquivo

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MP-TCU) apresentou na segunda-feira uma representação para que o governo suspenda imediatamente a restrição de acesso a cerca de 16 milhões de documentos sobre convênios, obras públicas, repasses e emendas parlamentares que foram retirados do ar.

O pedido foi encaminhado à Corte de Contas, que decidirá sobre o tema.

A iniciativa ocorre após O Globo revelar que o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) bloqueou o acesso a informações no sistema TransfereGov, sob a justificativa de que os arquivos poderiam conter dados pessoais protegidos pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

No documento encaminhado ao TCU, o subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado afirma que a medida adotada pelo governo representa um “prejuízo à transparência” e compromete o controle social sobre a execução de mais de R$ 600 bilhões em recursos federais.

Segundo ele, a ocultação da íntegra de termos de convênios, notas fiscais e relatórios de prestação de contas “pode configurar violação aos princípios da moralidade administrativa” e exige atuação urgente da Corte de Contas.

“Fazer com que o acesso a informações públicas ocorra exclusivamente por pedidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) representa um retrocesso na transparência governamental, pois impõe barreiras desnecessárias ao cidadão e limita a divulgação de dados que devem ser disponibilizados de forma proativa”, escreve Furtado.

Os documentos restritos incluem dados completos de convênios firmados com ONGs, relatórios de execução e outros documentos de empresas contratadas para realizar obras. A restrição impede também o acesso na integra de acordos que somam mais de R$ 600 bilhões em recursos da União, de acordo com dados do Portal da Transparência. Além disso, a medida atinge informações relacionadas a emendas parlamentares, incluindo aquelas que abasteceram o chamado “orçamento secreto”, declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2022 por falta de transparência.

Em nota divulgado no site do MGI, a pasta informa que "como são mais de 16 milhões de documentos anexados, desde 2007, que podem conter dados sensíveis, o acesso não é disponibilizado de forma ativa, apenas via Lei de Acesso à Informação (LAI), para qualquer cidadão ou cidadã que solicitar". Ao todo, esses acordos somam mais de R$ 600 bilhões em recursos da União, de acordo com dados da Controladoria-Geral da União (CGU).

“Os cerca de 16 milhões de documentos citados se referem à base histórica de documentos anexos complementares de beneficiários de políticas públicas e que podem conter dados e informações não padronizadas consideradas sensíveis pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), como nome, CPF, contracheque, RG e email, entre outras", disse a pasta, acrescentando que “os anexos seguem disponíveis para acesso por órgãos de controle com os dados identificáveis para fins de fiscalização”.

A representação do MP do TCU, contudo, argumenta que a retirada dos documentos foi baseada em interpretação equivocada de um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU). “Verifica-se que o MGI, de forma repentina, deixou de divulgar no portal TransfereGov milhões de documentos anteriormente disponibilizados à sociedade no que se refere a convênios, repasses e emendas”, diz o procurador.

Além da suspensão imediata da restrição de acesso, o MP do TCU pede que o tribunal apure possíveis irregularidades e encaminhe cópia da representação ao Congresso Nacional.

Questionado nesta segunda-feira, o Ministério da Gestão afirma que os documentos seguem disponíveis para órgãos de controle e que trabalha no desenvolvimento de uma ferramenta de anonimização de dados para retomar a publicação gradativa dos arquivos. Não há, porém, prazo definido para a liberação dos documentos antigos, que somam mais de 16 milhões de registros desde 2007.

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