Seg, 22 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
Entrevista

"Não vamos passar a mão na cabeça de ninguém", diz líder do PL no Senado

Membro da CPMI do INSS, o senador Izalci Lucas (PL-DF) foi o entrevistado da semana do podcast "Direto de Brasília", apresentado por Magno Martins

Izalci (D) afirmou que Frei Chico, irmão do presidente Lula (PT), deverá ser convocado para deporIzalci (D) afirmou que Frei Chico, irmão do presidente Lula (PT), deverá ser convocado para depor - Foto: Crédito: Reprodução/ YouTube Folha de Pernambuco

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura fraudes no INSS deverá esquentar nas próximas semanas. Quem garante é o senador Izalci Lucas (PL-DF), líder da sigla na Casa Alta. Em entrevista ao podcast "Direto de Brasília", ele afirmou que o Frei Chico, irmão do presidente Lula (PT), deverá ser convocado para depor, o que tende a explodir o clima na capital federal.

A CPMI começou com muitos depoimentos e tensão. Quem está realmente na mira do colegiado?
O "Careca" (Antônio Carlos Camilo Antunes) e o Maurício Camisotti (empresários), que realmente eram donos dessas instituições que desviaram recursos. Mas os maiores desvios, cerca de 72% dos R$ 12 bilhões que foram desviados de 2008 até hoje, são da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) e do Sindicato Nacional dos Aposentados (Sindnapi). Nesses casos, o presidente da Contag é irmão do deputado Carlos Veras (PT-PE), que é o primeiro secretário da Câmara Federal. E o Sindnapi tem como vice-presidente o Frei Chico, irmão do presidente Lula (PT).

Por que essas citações?
Existe uma lei de 2014 que proíbe qualquer convênio, qualquer relação com o poder público, se a entidade tiver parente até o segundo grau. Então, as duas principais, Contag e Sindnapi, nem poderiam ter assinado isso. E só está aparecendo agora. Durante esse período todo, eles conseguiram burlar a normativa. E a Contag sempre foi um braço do PT.

O Frei Chico vai ser convocado mesmo? Saíram notícias de que estava havendo um entendimento para não constranger o presidente da República...
Nada disso. Alguém do governo soltou isso. O que fizemos para começar a CPMI foi estabelecer um cronograma. Vamos votar todas as quebras de sigilo. Ainda não foi aprovado o requerimento do Frei Chico, mas vai ser votado. Mas tem que obedecer o plano de trabalho que o relator fez, ele tem uma sequência, porque uma coisa vai puxando a outra. É inadequado você chamar essa turma toda sem antes apurar os desvios dos recursos. A gente não pode atropelar para não comprometer as investigações.

E quanto ao ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto?
Ele foi o primeiro a ser demitido, era o homem de confiança do ex-ministro Carlos Lupi, inclusive foi elogiado por ele, mesmo depois de tudo isso. Então ele tem muito a falar. E também tem o servidor do INSS, procuradores e outros da área de pensão. Essa CPMI de fato vai passar a limpo essa situação.

O Lupi voltará à CPMI após ter feito o depoimento na semana anterior?
Ele não falou. Aliás, como explicar o inexplicável? Ele não vai confessar ali, ele colocou o chefe de gabinete dele para nomear todo mundo do INSS. Já aprovamos requerimentos, vamos chamar todos os ex-presidentes do INSS de 2015 para cá, e todos os presidentes das instituições dessas picaretagens, para a gente saber onde é que foi o dinheiro. Queremos ouvir não só os presidentes, mas também as pessoas que foram utilizadas como laranjas.

Mas ele disse que o INSS tem autonomia. Foi uma forma de lavar as mãos?
Exatamente. Ele fugiu das responsabilidades dele, porque como ministro é ele quem assina. Então quem assina responde pelos atos, e tem a prova de que ele nomeou o chefe de gabinete. Acho que ele faltou com a verdade em alguns casos, inclusive tem pedidos para ele retornar à CPMI, porque ele disse uma coisa na comissão da Câmara dos Deputados, e disse diferente na CPMI.

O senhor participou de muitas CPIs até hoje. A do INSS vai deixar algum legado?
Participei das CPIs da Petrobrás, da Lei Rouanet, do Carf, da JBS, da Covid, do 8 de janeiro, da Chapecoense e das Bets. Agora, na CPMI do INSS, a gente conseguiu realmente fazer uma grande articulação, mudamos a presidência e o relator, que já estava tudo acertado para serem do governo. Então eu tenho certeza que essa CPMI vai resgatar a credibilidade das investigações, e que nós da oposição temos o princípio de não passar a mão na cabeça de ninguém. Vamos apurar, porque o que interessa é mostrar para os aposentados e pensionistas para onde foi o dinheiro e fazer de tudo para indenizá-los.

Mas o governo já iniciou os pagamentos...
Lógico, porque não tem sentido. Já está pagando, inclusive eu questionei, porque fizeram um acordo com o Supremo que, para o aposentado receber, ele tinha que abrir mão e se comprometer a não entrar com ação judicial.

Por que fizeram isso?
Porque, pela Lei do Consumidor, é garantido, nesses casos, receber em dobro. Então o Supremo mandou o Executivo devolver, mas estão devolvendo com dinheiro do contribuinte, e ainda fora do arcabouço fiscal. Uma aberração. Mas a gente está acompanhando, quebrando o sigilo de todo mundo, porque queremos saber onde foi o dinheiro.

Falemos em eleições, o senhor vai disputar a reeleição para o Senado ou o Governo do Distrito Federal?
Olha, tudo tem seu tempo. Ninguém é candidato de si mesmo. Você tem que viabilizar isso. A gente está trabalhando diuturnamente. O PL hoje teria condições de fazer barba, cabelo e bigode. Nós teríamos condições de fazer o governador e as duas cadeiras do Senado. Porque, além da Michelle Bolsonaro, a deputada Bia Kicis também quer ser candidata ao Senado, e ela tem todas as condições. Isso tudo tem que ser conversado.

E os seus planos?
O meu entendimento é ser candidato ao governo. Não sou eu que vou decidir isso, o partido é que tem que tomar posição e a gente tem que ver a circunstância. Mas sou candidato majoritário, até porque já fui três vezes federal, já fui distrital, isso eu não quero mais. Então tem que ser majoritário. É o que nós estamos trabalhando e estou me preparando.

O que o senhor acha do governador Ibaneis Rocha (MDB)?
Tem muita obra, ele conseguiu fazer muita obra. Mas a saúde está um caos, a educação também.

Tem escândalos no governo?
Olha, tem que apurar. Eu participei da CPI da Covid e fiz um capítulo específico da saúde. O secretário foi preso e a saúde ainda não foi ajustada, então tem que aprofundar a investigação. Fiz um relatório de 500 páginas para dizer como a saúde aqui funcionava, com muito desvio de recursos e sem controle. Até hoje não tem controle, não tem nem controle de estoque de medicamentos, não tem integração nenhuma entre os hospitais da saúde, um caos. A educação também, 70% dos jovens estão saindo do ensino médio sem saber matemática, 60% sem saber português. Como é que pode?

Veja também

Newsletter