"Não vamos passar a mão na cabeça de ninguém", diz líder do PL no Senado
Membro da CPMI do INSS, o senador Izalci Lucas (PL-DF) foi o entrevistado da semana do podcast "Direto de Brasília", apresentado por Magno Martins
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura fraudes no INSS deverá esquentar nas próximas semanas. Quem garante é o senador Izalci Lucas (PL-DF), líder da sigla na Casa Alta. Em entrevista ao podcast "Direto de Brasília", ele afirmou que o Frei Chico, irmão do presidente Lula (PT), deverá ser convocado para depor, o que tende a explodir o clima na capital federal.
A CPMI começou com muitos depoimentos e tensão. Quem está realmente na mira do colegiado?
O "Careca" (Antônio Carlos Camilo Antunes) e o Maurício Camisotti (empresários), que realmente eram donos dessas instituições que desviaram recursos. Mas os maiores desvios, cerca de 72% dos R$ 12 bilhões que foram desviados de 2008 até hoje, são da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) e do Sindicato Nacional dos Aposentados (Sindnapi). Nesses casos, o presidente da Contag é irmão do deputado Carlos Veras (PT-PE), que é o primeiro secretário da Câmara Federal. E o Sindnapi tem como vice-presidente o Frei Chico, irmão do presidente Lula (PT).
Por que essas citações?
Existe uma lei de 2014 que proíbe qualquer convênio, qualquer relação com o poder público, se a entidade tiver parente até o segundo grau. Então, as duas principais, Contag e Sindnapi, nem poderiam ter assinado isso. E só está aparecendo agora. Durante esse período todo, eles conseguiram burlar a normativa. E a Contag sempre foi um braço do PT.
O Frei Chico vai ser convocado mesmo? Saíram notícias de que estava havendo um entendimento para não constranger o presidente da República...
Nada disso. Alguém do governo soltou isso. O que fizemos para começar a CPMI foi estabelecer um cronograma. Vamos votar todas as quebras de sigilo. Ainda não foi aprovado o requerimento do Frei Chico, mas vai ser votado. Mas tem que obedecer o plano de trabalho que o relator fez, ele tem uma sequência, porque uma coisa vai puxando a outra. É inadequado você chamar essa turma toda sem antes apurar os desvios dos recursos. A gente não pode atropelar para não comprometer as investigações.
E quanto ao ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto?
Ele foi o primeiro a ser demitido, era o homem de confiança do ex-ministro Carlos Lupi, inclusive foi elogiado por ele, mesmo depois de tudo isso. Então ele tem muito a falar. E também tem o servidor do INSS, procuradores e outros da área de pensão. Essa CPMI de fato vai passar a limpo essa situação.
O Lupi voltará à CPMI após ter feito o depoimento na semana anterior?
Ele não falou. Aliás, como explicar o inexplicável? Ele não vai confessar ali, ele colocou o chefe de gabinete dele para nomear todo mundo do INSS. Já aprovamos requerimentos, vamos chamar todos os ex-presidentes do INSS de 2015 para cá, e todos os presidentes das instituições dessas picaretagens, para a gente saber onde é que foi o dinheiro. Queremos ouvir não só os presidentes, mas também as pessoas que foram utilizadas como laranjas.
Mas ele disse que o INSS tem autonomia. Foi uma forma de lavar as mãos?
Exatamente. Ele fugiu das responsabilidades dele, porque como ministro é ele quem assina. Então quem assina responde pelos atos, e tem a prova de que ele nomeou o chefe de gabinete. Acho que ele faltou com a verdade em alguns casos, inclusive tem pedidos para ele retornar à CPMI, porque ele disse uma coisa na comissão da Câmara dos Deputados, e disse diferente na CPMI.
O senhor participou de muitas CPIs até hoje. A do INSS vai deixar algum legado?
Participei das CPIs da Petrobrás, da Lei Rouanet, do Carf, da JBS, da Covid, do 8 de janeiro, da Chapecoense e das Bets. Agora, na CPMI do INSS, a gente conseguiu realmente fazer uma grande articulação, mudamos a presidência e o relator, que já estava tudo acertado para serem do governo. Então eu tenho certeza que essa CPMI vai resgatar a credibilidade das investigações, e que nós da oposição temos o princípio de não passar a mão na cabeça de ninguém. Vamos apurar, porque o que interessa é mostrar para os aposentados e pensionistas para onde foi o dinheiro e fazer de tudo para indenizá-los.
Mas o governo já iniciou os pagamentos...
Lógico, porque não tem sentido. Já está pagando, inclusive eu questionei, porque fizeram um acordo com o Supremo que, para o aposentado receber, ele tinha que abrir mão e se comprometer a não entrar com ação judicial.
Por que fizeram isso?
Porque, pela Lei do Consumidor, é garantido, nesses casos, receber em dobro. Então o Supremo mandou o Executivo devolver, mas estão devolvendo com dinheiro do contribuinte, e ainda fora do arcabouço fiscal. Uma aberração. Mas a gente está acompanhando, quebrando o sigilo de todo mundo, porque queremos saber onde foi o dinheiro.
Falemos em eleições, o senhor vai disputar a reeleição para o Senado ou o Governo do Distrito Federal?
Olha, tudo tem seu tempo. Ninguém é candidato de si mesmo. Você tem que viabilizar isso. A gente está trabalhando diuturnamente. O PL hoje teria condições de fazer barba, cabelo e bigode. Nós teríamos condições de fazer o governador e as duas cadeiras do Senado. Porque, além da Michelle Bolsonaro, a deputada Bia Kicis também quer ser candidata ao Senado, e ela tem todas as condições. Isso tudo tem que ser conversado.
E os seus planos?
O meu entendimento é ser candidato ao governo. Não sou eu que vou decidir isso, o partido é que tem que tomar posição e a gente tem que ver a circunstância. Mas sou candidato majoritário, até porque já fui três vezes federal, já fui distrital, isso eu não quero mais. Então tem que ser majoritário. É o que nós estamos trabalhando e estou me preparando.
O que o senhor acha do governador Ibaneis Rocha (MDB)?
Tem muita obra, ele conseguiu fazer muita obra. Mas a saúde está um caos, a educação também.
Tem escândalos no governo?
Olha, tem que apurar. Eu participei da CPI da Covid e fiz um capítulo específico da saúde. O secretário foi preso e a saúde ainda não foi ajustada, então tem que aprofundar a investigação. Fiz um relatório de 500 páginas para dizer como a saúde aqui funcionava, com muito desvio de recursos e sem controle. Até hoje não tem controle, não tem nem controle de estoque de medicamentos, não tem integração nenhuma entre os hospitais da saúde, um caos. A educação também, 70% dos jovens estão saindo do ensino médio sem saber matemática, 60% sem saber português. Como é que pode?

