''Precisamos construir o PT para quando Lula não estiver mais nas urnas'', diz Edinho Silva
Após tomar posse, Edinho Silva chamou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de ''maior líder fascista''
Recém-empossado como dirigente nacional do PT, o ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva afirmou, neste domingo, que é preciso preparar o projeto do partido para quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não puder mais disputar as eleições. Edinho afirmou que não surgirá um nome equivalente e que a resposta para a sucessão é uma legenda forte.
— Essa eleição [de 2026] é de fato a eleição mais importante da nossa vida. Nós teremos tarefas fundamentais. Temos a responsabilidade de construir o partido quando o presidente Lula não estiver mais nas urnas disputando o projeto. Ele nos deixa um legado que será fundamental para o resto da nossa existência, mas nós sabemos que ele sempre disputou as eleições nas crises. Após 2026, por direito ao descanso, nós não teremos mais. O seu substituto não será um nome, mas o PT — disse.
Edinho também criticou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pela imposição de uma tarifa adicional de 40% sobre produtos brasileiros, elevando o total da taxação para 50%, e chamou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de fascista.
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— Nós estamos enfrentando o maior líder do fascismo, que é Donald Trump. (...) Se o Trump que representa o fascismo, nega a urgência climática. Nós temos que dizer não a isso — afirmou.
O presidente nacional do PT deu as declarações durante o encontro nacional do partido, o lado do presidente Lula (PT). Onze ministros estão presentes.
São eles: Jorge Messias (AGU), Camilo Santana (Educação), Anielly Franco (Igualdade Racial), Luiz Marinho (Trabalho) Waldez Goés (Desenvolvimento Regional), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral) Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Luciana Santos (Tecnologia), Wellington Dias (Assistência Social) e Macaé Evaristo (Direitos Humanos).
O evento contou também com a participação do ex-ministro José Dirceu, condenado durante o Mensalão, que foi ovacionado pela militância com gritos de "Dirceu guerreiro do povo brasileiro". Ele ensaia um retorno à cena política e deve concorrer à Câmara dos Deputados no próximo ano.
Soberania e 2026
Após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter decretado o tarifaço contra os produtos brasileiros, a solenidade foi marcada por reações. A ministra Gleisi Hoffmann criticou a família do ex-presidente Jair Bolsonaro. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é investigado por articular sanções à autoridades brasileiras.
— Agora temos que lutar ainda pela soberania. Nunca achei que a gente fosse passar por isso. Ainda pela família de um ex-presidente que entrega nosso país ao estrangeiro. Uma gente traidora que nos vende, que tentou dar um golpe e agora quer um golpe continuado — disse Gleisi.
O tom eleitoral também permeou a cerimônia. O senador Humberto Costa (PE), que presidiu a sigla interinamente nos últimos cinco meses, disse que Lula disputará as eleições mais difíceis de sua vida
— A extrema-direita continua viva e disposta a destruir os valores. A mentira e ódio tentam se impor. Temos pela frente eleições decisivas, as eleições das nossas vidas. Elas podem consolidar um projeto civilizatório. O PT precisa mais do que nunca ser um projeto enraizado na vida real das pessoas — afirmou.
Posse de Edinho
O encontro reafirma o papel de Edinho como figura de confiança do núcleo mais próximo a Lula. Além de ter comandado campanhas presidenciais do petista, Edinho também atuou como ministro da Secretaria de Comunicação Social no segundo mandato de Dilma Rousseff e como tesoureiro do partido.
Sua vitória refletiu um desejo do Planalto de alinhar ainda mais a atuação institucional do partido com a estratégia de governo, especialmente num momento em que Lula tenta reforçar a base no Congresso e ampliar o diálogo com movimentos sociais e setores organizados da sociedade.
Desde sexta-feira, cerca de mil delegados de todos os estados, eleitos previamente nas instâncias estaduais do partido, participaram das discussões em torno do novo regimento interno e das diretrizes políticas da legenda.
Apesar de disputas internas e da tentativa de grupos menores de alterar o equilíbrio de forças, a corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), à qual pertencem tanto Lula quanto Edinho, manteve o controle da maioria do Diretório Nacional. A hegemonia da CNB, consolidada nas eleições internas, reduz as chances de mudanças profundas na linha política ou nas regras de funcionamento do partido.
O 17º Encontro Nacional também é palco de debates sobre as perspectivas eleitorais do PT para 2026, a relação com os aliados da frente ampla e o fortalecimento da presença digital do partido nas redes sociais, um dos temas considerados centrais pela nova direção.
A expectativa é que Edinho assuma um papel na reorganização da militância digital e na construção de pontes com setores do eleitorado ainda resistentes ao projeto petista.
Recentemente, a legenda teve bom desempenho nas plataformas digitais com campanhas temáticas que furaram a bolha da militância, como a defesa da taxação dos super-ricos e a mobilização em torno da soberania nacional, reacendida após o tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A expectativa da nova gestão é intensificar esse tipo de atuação, investindo em linguagem mais popular, engajamento com criadores de conteúdo e maior capilaridade entre os militantes digitais.

