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ELEIÇÕES 2026

PT quer Haddad na disputa em SP, mesmo se candidatura de Flávio empurrar Tarcísio a buscar reeleição

Líderes do partido confiam na pauta econômica para diluir favoritismo do governador, e citam Alckmin como alternativa no estado

Haddad Haddad  - Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Lideranças do PT em São Paulo encaram com desconfiança a pré-candidatura a presidente do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o que inclinaria o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) a uma tentativa de reeleição no estado em 2026, na qual entraria como favorito.

Ainda assim, a meta é clara: convencer o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), a encarar a disputa pelo governo paulista, repetindo o embate ocorrido há três anos, ou apelar ao recall do ex-governador e atual vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB).

O favoritismo de Tarcísio no estado, ancorado em pesquisas eleitorais de momento ou que medem o nível de aprovação de governo, é minimizado publicamente. Os petistas rejeitam a visão de que poderia ser uma “ida ao sacrifício” e alegam que o momento político é outro. No caso de Haddad, existe um entusiasmo em cima da pauta econômica. Alckmin, por sua vez, é visto como um político experiente, que pode diminuir resistências no interior e tem como traçar comparativos concretos com o atual governo.

Na terça-feira (9), o presidente do PT, Edinho Silva, mencionou os dois nomes como possíveis candidaturas fortes em São Paulo. Ele declarou, porém, que tanto Haddad quanto Alckmin terão as suas escolhas pessoais respeitadas na construção da tática eleitoral de 2026, posicionamento que destoa de outros momentos. Depois de eleito para liderar o partido, por exemplo, Edinho garantiu que o ministro da Fazenda teria “missão eleitoral” no ano que vem.

"A melhor alternativa é o PT se apresentar com candidatura própria, e o nome ideal, não temos dúvida, é Fernando Haddad. Duro é convencê-lo", defende o ex-deputado estadual Simão Pedro, que foi secretário do ministro quando ele era prefeito da capital, entre 2013 e 2016. Neste ano, Pedro tem organizado uma série de encontros com militantes do PT ao lado do ex-ministro José Dirceu, que pretende concorrer de novo a deputado federal.

A avaliação do ex-deputado é que a agenda tem avançado mais pelo calendário eleitoral que se aproxima do que propriamente pela escolha de Bolsonaro por Flávio. Até porque, nas conversas com as lideranças políticas, um diagnóstico popular é de que Bolsonaro estaria promovendo uma chantagem contra os partidos do “Centrão” para se manter em evidência e com chances de emplacar a anistia no Congresso. O senador, desse modo, desistiria no meio do caminho.

"Haddad tem o tempo certo dele, porque é focado naquilo que faz. Não gosta de desviar atenção das ações no Ministério da Fazenda e está concentrado nos desafios que ele tem lá. Mas, evidentemente, se for um chamado do presidente Lula, uma missão que o presidente lhe dê, isso tem um peso muito grande na decisão", aponta.

O deputado estadual Emídio de Souza (PT) vai além e garante que “não dá para levar a sério” a candidatura de Flávio Bolsonaro porque ela foi construída através de postagens nas redes sociais e sem combinar com as principais lideranças do campo da direita. Partidos como PL, Republicanos, PP, União Brasil e PSD têm se articulado há meses para fechar oposição a Lula. Depois de a escolha de Jair Bolsonaro vir à tona, dirigentes se mostraram contrariados.

"Não aconteceu nada, não mudou nada. Se nem eles acreditam na candidatura do Flávio, porque a gente vai acreditar?", declara.

O parlamentar, próximo de Lula, diz que o cenário eleitoral para São Paulo “continua o mesmo”, com a preferência por Alckmin ou Haddad como protagonistas.

"São dois nomes competitivos independentemente de quem esteja do outro lado. E o Tarcísio não é imbatível. Ele está bem até aqui porque está jogando sozinho, ninguém disputa com ele", avalia.

Diante do vácuo de uma candidatura encaminhada na esquerda, quem tem cumprido esse papel é o ministro do Empreendedorismo, Márcio França (PSB), outro que está pouco convencido da possibilidade de Flávio frustrar os planos presidenciais de Tarcísio. Para ele, a escolha de Bolsonaro por um de seus filhos seria o mesmo que desistir de tentar derrotar Lula no ano que vem.

O PSB procura manter Alckmin na chapa presidencial, investindo na imagem de vice leal e que aproxima o petista do empresariado. Além disso, parte do governo entende que o ex-governador paulista estaria mais propenso a aceitar uma eleição ao Senado do que novamente ao Executivo, por se tratar de um cargo que ele ainda não exerceu na vida pública. Quando estava no PSDB, Alckmin chefiou o estado quatro vezes.

Do lado de Haddad, os petistas acreditam que o ministro teve a imagem fortalecida desde a eleição passada com a pauta econômica. Citam, por exemplo, dados de queda no desemprego e a aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Sobre a derrota para Tarcísio, dizem também que foi por pouco diante das circunstâncias — 55,3% a 44,7% em votos válidos no segundo turno — e que o PT teve bom desempenho na capital paulista.

"Precisamos de uma candidatura forte para apoiar Lula. Haddad tem muitas coisas para mostrar, é um candidato com musculatura, que foi ao segundo turno com o Tarcísio. É o melhor nome para enfrentar o Tarcísio", opina o deputado estadual Paulo Fiorilo (PT), que menciona ainda a necessidade de ganhar cadeiras no Senado contra o bolsonarismo, possivelmente escalando as ministras do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), e do Planejamento, Simone Tebet (MDB).

Em entrevistas, Haddad demonstra até uma certa irritação quando perguntado sobre as chances de concorrer a algo. Souza considera natural que o ministro da Fazenda demonstre resistência em ir às urnas, mas não por falta de chance, e sim por estar inserido hoje em debates nacionais. Ele pondera, no entanto, que “não é só a posição pessoal que conta” nas decisões internas do partido quando “um projeto desse tamanho” está em jogo.

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