Segurança Pública: Nunes aposta em sistema de câmeras e ex-prefeito 'linha dura' como secretário
Pesquisa de agosto mostrou que 20% dos moradores de São Paulo acreditavam que o tema teria de ser a prioridade do próximo prefeito
Apontado como o principal problema dos paulistanos segundo o Datafolha, a segurança pública passou a ser tratada com mais enfoque pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) nessa gestão.
Desde o ano passado, o emedebista já vinha sinalizando um olhar mais atento à essa área, de olho na reeleição, com o Smart Sampa, amplo programa de monitoramento por câmeras com reconhecimento facial, mas agora tem apostado em explorar os resultados do programa e colocou na Secretaria de Segurança Urbana um ex-prefeito "linha dura" como titular.
A segurança pública é de competência primária do governo estadual, responsável pelas polícias. Mas, na prática, a população também espera medidas da gestão municipal nessa seara — pesquisa Datafolha de agosto mostrou que, para 20% dos moradores de São Paulo, a segurança teria que ser a prioridade para o próximo prefeito para melhorar suas vidas, à frente de outras questões como saúde e educação.
De olho nessas cobranças da população, Nunes adotou uma postura mais proativa, especialmente num momento em que a política de segurança pública do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) enfrenta críticas em meio ao aumento da letalidade policial e investigações que apontam o elo entre o crime organizado e agentes das Polícias Militar e Civil.
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Uma mudança primordial aconteceu no comando da Secretaria de Segurança Urbana. Na gestão anterior, a pasta era comandada inicialmente por Elza Paulino, comandante da Guarda Civil Metropolitana (GCM).
No ano passado, ela saiu para concorrer às eleições como vereadora e foi Junior Fagotti, um advogado que já atuava na pasta como adjunto, quem assumiu o posto. O perfil discreto no cargo ficou para trás e, para o segundo mandato, Nunes mudou de rota e escolheu um nome político: o ex-prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando.
Com isso, Nunes garantiu uma visibilidade maior a começar pelas redes sociais, já que o ex-prefeito acumula mais de 100 mil seguidores no Instagram, e também mostrou que dá mais importância a essa secretaria ao optar por alguém famoso em seu comando. Fagotti segue como adjunto.
Nesta semana, Morando chamou a atenção ao adotar um discurso na mesma linha do secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), ao se posicionar contrariamente ao uso de câmeras corporais na GCM. Ao empossar novos integrantes da tropa nesta terça, Morando falou:
— Que chore a mãe do criminoso e nenhum parente de vocês – declarou.
Em relação às câmeras, afirmou que não há necessidade do uso dos equipamentos pela tropa por causa da baixa letalidade da GCM paulistana. Segundo dados do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público de São Paulo (MPSP), em 2024 houve dois registros de morte após intervenção de um agente da corporação.
Desde o fim do ano passado, o prefeito tem divulgado com mais afinco suas ações na segurança, com destaque para os casos de reconhecimentos, pelas câmeras do Smart Sampa, de foragidos da Justiça.
Com o auxílio da ferramenta, em seus meses de operação já foram presos 429 pessoas condenados por assassinatos, estupros, roubos, por integrarem organização criminosa ou por dívida por pensão alimentícia.
Também foram presos 1.644 pessoas em flagrante por furto, tráfico ou invasão de equipamentos públicos. Recentemente, um termo foi firmado com o Ministério da Justiça que permite a integração das câmeras municipais à Plataforma Integrada de Operações e Monitoramento de Segurança Pública (Córtex), ao Infoseg, que guarda as informações sobre mandados de prisão, e aos dados sobre veículos roubados.
Essas prisões têm ganhado vídeos no Instagram do prefeito com frequência, e sido amplamente exploradas pelo secretário em suas redes também, além de serem divulgadas em comunicados para a imprensa quase que diariamente desde o início do ano.
Reportagem do Globo já havia mostrado que a comunicação virou uma prioridade para o emedebista no segundo mandato.
Há duas semanas, por exemplo, a prefeitura fez questão de se fazer presente na prisão de um suspeito encontrado com o auxílio dessas câmeras. Orlando Morando foi até o 8º Distrito Policial (DP), do Belenzinho, na Zona Leste, acompanhar a prisão, e lá conversou com a imprensa.
Morando também tem feito "lives" em suas redes sociais semanalmente para falar da segurança pública da cidade, inclusive para receber queixas e sugestões da população.
Ao GlobO, o secretário afirmou que afirmou que é importante que o município trabalhe mais a questão da segurança pública e chamou as câmeras de “uma feliz realidade para São Paulo”, mas diz que o fato de ele ser político não é um fator que o levou ao cargo, e sim sua “capacidade gestora”.
— O prefeito me escolheu pelo desempenho que tive como gestor em São Bernardo e comandei a Guarda Civil Metropolitana, aqui posso colocar em prática essa minha capacidade gestora somada à experiência que tive já — falou.