Sáb, 06 de Dezembro

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Política

Senadora bate-boca com relator da CPI do INSS: "É assim que trata mulher?"

Resposta de Alfredo Gaspar foi interpretada como "ameaçatória"

Senadora bate-boca com relator da CPI do INSS: "É assim que trata mulher?"Senadora bate-boca com relator da CPI do INSS: "É assim que trata mulher?" - Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) protagonizou um bate-boca com o relator da CPI do INSS, o deputado Alfredo Gaspar (União-AL), na sessão desta quinta-feira. Durante a oitiva do advogado Nelson Willians, que foi alvo de operação da Polícia Federal sobre desvios no órgão, Eliziane interveio diante do silêncio adotado pelo interrogado às perguntas feitas por Gaspar.

Ela questionou a paciência do deputado e disse esperar que ele adotasse o mesmo tom, quando mulheres fossem convocadas a depor. Gaspar mandou Eliziane respeitá-lo, o que foi interpretado como uma "ameaça" pela senadora.

—  Não vai ser tigrão para cima de mim, não. É assim que trata mulher? — questionou.

O relator da CPI disse que o questionamento feito por Eliziane tinha como pano de fundo um suposto "medo" de a irmã dela, Elisvane Gama, ser convocada para depor na CPI. Elisvane é superintendente federal da Pesca e Aquicultura do Maranhão. Há suspeitas relacionadas ao aumento no número de pescadores registrados no Maranhão, o que alavancaria os descontos e poderia justificar uma convocação dela. Até o momento, Elisvane não foi alvo de requerimento para depor, nem de operação da Polícia Federal.

— A senhora está com medo da sua irmã ser convocada? — perguntou Gaspar. 
 

Parlamentares da base governista o acusaram de machismo, enquanto membros da oposição negaram se tratar de uma ameaça. Os microfones chegaram a ser desligados, durante a briga. A sessão voltou apó alguns minutos.

Em seu depoimento, o advogado Nelson Willians se negou a assinar um termo no qual se comprometeria a dizer a verdade à CPI que investiga fraudes no instituto, nesta quinta-feira.

O escritório dele prestou serviços para o empresário Maurício Camisotti. Willians se recusou a responder a maioria dos questionamentos feitos pelo relator do colegiado, o deputado Alfredo Gaspar (União-AL), e afirmou que "não tem qualquer relação com as investigações". Em uma das poucas respostas, admitiu conhecer Camisotti e disse que a PF "não errou" ao fazer as recentes operações para combater as fraudes no INSS.

Wilians conseguiu habeas corpus concedido pelo ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), garantindo a ele o direito de permanecer em silêncio e não prestar depoimento. Apesar disso, ele teve que comparecer à sessão.

Nesta quinta, a CPI do INSS começa a ouvir pessoas ligadas ao empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, mais conhecido como o "Careca do INSS", apontado como figura central para as fraudes no instituto. Nesta segunda, Careca cancelou a sua participação no colegiado, o que fez com que a CPI reagisse e aprovasse a convocação do filho, da esposa, além de sócios dele. O acordo para aprovação dos requerimentos contou com a anuência de lideranças do governo e da oposição.

Careca e o empresário Maurício Camisotti foram presos na última sexta em ação determinada pelo STF em desdobramento da Operação Sem Desconto, que apura um esquema bilionário de descontos indevidos em aposentadorias e pensões. Segundo o GLOBO apurou, investigadores identificaram risco de fuga e indícios de ocultação patrimonial.

Por identificar o risco de fuga de Careca e Camisotti, a CPI já havia aprovado, no início do mês, um requerimento endereçado ao Supremo no qual pedia a prisão preventiva e a quebra de sigilo deles e de outros suspeitos citados em investigações da Polícia Federal. O presidente da CPI, o senador Carlos Viana (Podemos-MG), precisou pedir à Polícia Legislativa a intimação dos dois presos diante da dificuldade de encontrá-los.

Careca do INSS é apontado como operador central, responsável por intermediar as relações entre associações fraudulentas e servidores públicos. Relatórios da PF indicam que Antunes movimentou R$ 53 milhões em valores oriundos de entidades sindicais e empresas relacionadas, muito acima da renda mensal de R$ 24 mil que declarava oficialmente.

Após ser preso, Careca foi levado para a Superintendência da PF em Brasília. De acordo com a investigação, ele teria movimentado R$ 9,3 milhões em repasses destinados a pessoas ligadas a servidores do INSS, entre 2023 e 2024.

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