"Será a disputa do Partido das Trevas com o Partido da Luz", diz Rogério Marinho
Senador foi o entrevistado do poscast Direto de Brasília desta semana
Aliado de primeira hora do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), promete uma grande pressão contra o governo Lula (PT) em 2026. Em entrevista ao podcast Direto de Brasília, ele defendeu a pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL) ao Planalto, prometeu uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar denúncias contra a Secretaria de Comunicação e reforçou que a direita seguirá unida para a disputa. “Ninguém mata uma ideia nem aprisiona um sentimento”, resumiu Marinho.
Senador, o ex-presidente Jair Bolsonaro completou três meses preso e lançou o filho Flávio ao Planalto. A influência dele continuará intacta para a eleição do ano que vem?
Bolsonaro está preso, é verdade. Injustamente, perseguido e censurado. Mas o que eles não entenderam é que ninguém mata uma ideia, ninguém aprisiona um sentimento. Desconheço pesquisa que mostre que partidos do centro estão melhor posicionados. Todas as pesquisas mostram que há dois partidos no Brasil: um é o Partido das Trevas, que é o PT, e o outro é o Partido da Luz, que é o PL. São os dois maiores partidos do Brasil, a anos-luz dos outros. São duas visões diferentes de mundo, e nós vamos ter a oportunidade novamente, a partir de 2026, de colocar isso à prova. Não tenho dúvida nenhuma de que vamos governar de novo o país.
Muita gente não acreditou quando a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência foi lançada. Mas hoje ela é pra valer mesmo?
O primeiro sentimento de parte da classe política foi de certa perplexidade. Ocorre que o tempo passou e as pessoas estão entendendo que é uma candidatura que de fato defende um legado, uma forma de se encarar o país, uma visão de mundo diferenciada. Ninguém melhor que Flávio Bolsonaro para defender o que foi construído pelo presidente Jair Messias Bolsonaro ao longo de quatro anos. Flávio é uma pessoa jovem, que tem espírito público, inclusive até mais moderado que o pai. Tem toda a possibilidade e capacidade de fazer um grande governo, uma grande campanha eleitoral, defendendo essa visão de mundo que une a todos nós, que é respeito à família, à propriedade, à vida e sobretudo à visão de um Estado onde a proficiência, o equilíbrio e o mérito sejam levados em consideração.
Alguns analistas colocaram que essa postulação atrapalharia a centro-direita e o centrão. Como avalia?
É importante que a discussão política seja absolutamente cristalina, aberta e franca. A direita tem candidato, que é Flávio Bolsonaro, que representa a defesa de um legado. A centro-direita, você sabe, normalmente dá governabilidade a quem ganha. Vários partidos estão hoje desembarcando do governo Lula, do qual fizeram parte, com ministros, indicações e cargos. Nós somos a direita que fez oposição a este governo.
Então o grupo está unido?
Olha, Bolsonaro é um sentimento. Ele uniu a direita, foi ele quem deu voz àqueles que são humildes, anônimos, que não tinham como se expressar. E ele nomeou Flávio Bolsonaro como aquele que vai falar em seu nome, e é o que o Flávio está fazendo. A candidatura de Flávio para nós é unificadora, é extremamente importante, é a defesa de um legado. E ele está fazendo isso com muita consistência, com muita vontade, muito espírito público. E vamos certamente fazer uma bela campanha em 2026, discutindo o que interessa para o Brasil.
Houve certa pressão para que o ex-presidente anunciasse o nome do substituto, por conta do risco de prisão, que ocorreu em setembro. Foi uma forma de pacificar essa tensão?
Bolsonaro é maior do que todos nós. Foi ele quem deu essa palavra de ordem que uniu as pessoas, que fez com que boa parte da população brasileira pudesse ter voz e representatividade. É evidente que ele é o maior líder da direita brasileira. Na hora que ele aponta um caminho, não o faz de forma intempestiva. Há três anos a gente conversa a respeito de qual será a nossa alternativa à Presidência da República, e havia a nossa crença de que as instituições permitiriam, já que não houve nenhum crime, que o próprio Bolsonaro constasse na urna e nos representasse. Isso caiu por terra após a sua condenação em definitivo e o trânsito em julgado. Feito isso, Bolsonaro, com toda a responsabilidade e legitimidade que tem, aponta um caminho de unificar não a família, mas a direita brasileira, pelo senador Flávio Bolsonaro.
E como analisa a receptividade do nome dele?
As pesquisas publicadas após a sua apresentação como candidato já demonstram a viabilidade e a consistência. Ele certamente vai dar muito trabalho àqueles que pensam de forma diferente, e em 2027 nós teremos um novo presidente da República que será Bolsonaro. Não Jair Messias, infelizmente, mas Flávio Bolsonaro.
Alguém pode governar o Brasil sem o centrão?
Nesse momento não. Eles têm um número de deputados que representam praticamente 60% do Parlamento brasileiro, tanto na Câmara como no Senado. Então é evidente que a governabilidade determina que se procure representantes de partidos do centro ou da centro-direita, para que possam dar condição de que as ações executivas tenham materialidade. O PT buscou a relação com o centro e com a centro-direita. Agora, cada vez mais há uma identificação do eleitor brasileiro com aqueles que representam a sua forma de visão de mundo, de país, de economia.
E isso favorece o PL...
Nós defendemos a direita, e o PL representa isso com muita propriedade, já tem hoje quase 100 deputados federais entre os 513. Esperamos que nas próximas eleições isso suba para 120, ou até 150. Temos hoje 15 senadores, dos quais seis vão disputar a reeleição. Esperamos ter entre 25 e 30 senadores após a eleição, e gradativamente esse tamanho partidário, com partidos que convergem conosco, vai nos dar o conforto para executar as políticas que serão implementadas em função do que for discutido durante o processo eleitoral.
O Congresso aprovou o projeto de lei da dosimetria, mas o presidente Lula já afirmou que vetaria...
O projeto não é o que queríamos. Defendemos desde o início uma anistia ampla, geral e irrestrita, mas infelizmente, pela correlação de força dentro do Parlamento, nós não tivemos a condição de pautar o projeto da anistia que foi tratado desde o início do ano. Porém, conseguimos o possível, que foi a diminuição de penas. Esperamos que haja bom senso, que haja sobretudo um entendimento do colegiado de virar essa página e que possamos discutir os assuntos importantes.
E quanto ao veto do presidente?
Eu não vi as últimas declarações do presidente Lula, mas tenho me deparado com uma série de pérolas que ele tem desferido. E veja que contradição: o próprio Lula é beneficiário de anistia, ele recebe entre R$ 10 mil e R$ 12 mil por mês. Ele foi anistiado pela Lei de 1979, assim como vários deputados federais, senadores e dirigentes do PT, além de nomes que já faleceram, como Leonel Brizola e Miguel Arraes. Essas pessoas foram anistiadas, e o país se recompôs. São os mesmos que são mais ativos para impedir que haja um processo de anistia. Essas pessoas certamente não evoluíram, não têm grandeza, é gente que vive no passado, com um coração cheio de ódio, de rancor e não consegue olhar para frente. Parece-me que o retrovisor é muito maior do que o para-brisa, mas acho que o Parlamento vai fazer o seu trabalho e ajudar o Brasil a se reencontrar.
Uma coisa que gerou burburinho foi a aliança do PL com Ciro Gomes no Ceará. O tema foi pacificado?
Nós tivemos uma certa dificuldade em função do presidente Bolsonaro ter ficado incomunicável. Ele recebeu medidas cautelares que o censuraram e o impediram de se comunicar com seu grupo político. Isso atrapalhou muito a formação de palanques por todo o Brasil. O Ceará é um caso bastante peculiar. Começamos a fazer tratativas através do nosso presidente André Fernandes, que tem o nosso respeito, tem legitimidade para isso, com o grupo do ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes. Houve um ruído de comunicação com a presidente do PL Mulher, a senhora Michelle Bolsonaro, que, com toda a justiça, colocou que se sentia atingida por algumas declarações feitas anteriormente contra ela e contra sua família pelo Ciro. Entendemos que a negociação está pausada, não está encerrada. André vai saber conduzir esse processo da melhor forma possível e, ao mesmo tempo, preservar a nossa identidade e coerência, respeitando todos os atores políticos, inclusive o Ciro.
O senhor será candidato a governador do Rio Grande do Norte?
Nossa pretensão é de pré-candidato ao governo. Há mais de um ano estamos construindo, discutimos isso com o nosso partido em nível nacional, com o presidente Bolsonaro. Várias coisas ocorreram nesse tempo, mas o Rio Grande do Norte está com tantos problemas, tem tido tantas intempéries, sofrido com um governo desastrado, que tem penalizado a população. Eu vejo isso muito mais como um propósito e como uma missão. Agora, ninguém pode ser candidato de si mesmo. Estou construindo uma candidatura junto com os nossos parceiros políticos. A direita no Rio Grande do Norte está unida e já tem um pré-candidato, que é Rogério Marinho. Agora temos que tentar atrair outros segmentos da política para termos um palanque ainda mais forte e mais consistente; essa é a nossa expectativa.
O desgaste da governadora Fátima Bezerra (PT) é um estímulo?
Olha, por um lado é evidente que nos estimula. Por outro lado, nos deixa muito tristes, porque nós não torcemos pelo pior para o nosso estado. A população do Rio Grande do Norte vem sendo vítima de um desgoverno, de uma catástrofe, um desastre do ponto de vista gerencial. Estamos na fronteira com a Paraíba e com o Ceará, que são estados que também têm governadores de esquerda, mas o desastre que acontece no Rio Grande do Norte é tão grande que não dá nem para comparar e não dá para fazer uma associação imediata à questão ideológica. É incompetência mesmo. Veja: temos uma governadora que é professora, e estamos entrando no oitavo ano de governo em que o Rio Grande do Norte é o último colocado do Ideb nacional.
Nos tempos de redes sociais, cada lado diz que está forte e o outro é que está fraco. E as pesquisas apontam números relativamente próximos. A que se deve isso?
Estamos vivendo um momento de narrativas cada vez mais fortes, e nós vemos uma narrativa que é impulsionada e turbinada por recursos públicos, que têm sido injetados nas redes de comunicação, nas redes sociais dos grandes jornais do país. Isso inclusive vem sendo denunciado por vários veículos de imprensa. Nós estamos recolhendo assinaturas para fazer uma CPMI da Secom do governo federal. Há denúncias de se pagar influenciadores e pessoas da mídia para impulsionar não apenas propaganda positiva para o governo, mas também depreciar, detratar, desqualificar os opositores. O próprio (ministro) Sidônio Palmeira está sendo acusado de que sete ou oito empresas que ganharam licitação no Ministério das Comunicações estão sendo geridas por um ex-sócio dele. É muita coincidência.

