Seg, 08 de Dezembro

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Política

Sergio Moro: "Temo pela reeleição do Lula"

Em entrevista ao "Direto de Brasília", o senador analisou o legado da Operação Lava Jato e disse não se arrepender de ter sido ministro de Jair Bolsonaro (PL)

 Senador (D) afirmou que não se arrepende das decisões que tomou na Lava Jato Senador (D) afirmou que não se arrepende das decisões que tomou na Lava Jato - Foto: Reprodução Youtube/Folha de Pernambuco

Ex-juiz da Operação Lava Jato e atual senador, Sergio Moro (União Brasil-PR) promete empenho contra a reeleição do presidente Lula (PT). Vendo as dificuldades da oposição, ele convoca a união entre a direita e o centro para evitar um quarto mandato do petista, hipótese sobre a qual confessou “temor”. Em entrevista ao podcast "Direto de Brasília", Moro analisou o legado da Operação Lava Jato e disse não se arrepender de ter sido ministro de Jair Bolsonaro (PL). “O Brasil não aguenta mais quatro anos do Lula”, disparou.

O senhor foi colocado como presidenciável em 2022, mas optou por disputar o Senado. Para 2026, está posto para o governo do Paraná. Não pensa mesmo em disputar o Planalto?
Nossa prioridade vai ser proteger o Paraná dessa loucura de Brasília. Se o Lula for reeleito, ele vai querer espalhar essa loucura para os outros estados. Não posso correr esse risco de ter o meu estado governado por alguém do PT, aliado ou que se junte ao PT depois da eleição. Não quero que aconteça o mesmo que acontece hoje na Bahia, estado com a maior violência do Brasil, e é governado pelo PT. Precisamos fazer nossa lição de casa.

A oposição, hoje, tem dificuldade com nomes, enquanto o presidente tem melhorado o desempenho nas últimas pesquisas...
Nacionalmente, vou apoiar um candidato, como fiz em 2022, para tentar derrotar o Lula. Temos muito tempo pela frente; houve uma recuperação da popularidade do governo Lula, não por mérito dele, mas dá um fôlego curto. Eles não se importam em arrebentar as contas do país para ganhar a eleição. Temos potenciais candidatos a presidente, como os ex-governadores. Todos são bons nomes.

Quais seriam?
O Ronaldo Caiado, que é do meu partido, reduziu os indicadores de criminalidade em Goiás. O Tarcísio de Freitas (Republicanos) é competente, trabalhador, um cara sério, com um potencial enorme. O Romeu Zema (Novo), com dois mandatos em Minas Gerais, pegou um estado arruinado pelo PT e consertou. E o Ratinho Júnior (PSD) tem elevadíssima taxa de aprovação no Paraná, faz um governo com pontos meritórios. E tem o ex-presidente Bolsonaro, que a gente vê hoje que está difícil, por estar inelegível, mas é uma liderança política importantíssima. Tenho defendido a união da direita e da centro-direita. Se entrarmos em uma lógica autofágica, não vamos a lugar nenhum.

Mas as pesquisas apontam que nenhum deles empolga...
Não sei o que vai acontecer no ano que vem; tenho medo pela reeleição do presidente Lula. Vou trabalhar para que não aconteça, mas não como candidato a presidente. Quero proteger o meu estado; teremos lá uma fortaleza. Proteger o Paraná dos aliados e das garras do PT. Vamos unir a direita e a centro-direita.

Pode subir no palanque com Bolsonaro, depois de todo o problema que houve na sua saída do governo dele?
Tudo é possível. Contra o Lula, temos que estar todos juntos, com a faca nos dentes. Em 2022, não tive apoio de Bolsonaro no primeiro turno, mas fui aos debates com ele no segundo turno. Deixamos de lado as divergências porque temos um adversário em comum. O Brasil não aguenta mais quatro anos do governo Lula. Já está no cheque especial, e a conta vai vir se não tivermos um ajuste na economia.

Se arrepende de ter aceitado o convite para ser ministro de Bolsonaro?
Não fico pensando no que poderia ter acontecido. Quando fui convidado, fui com as melhores intenções, com o objetivo de fortalecer a agenda do combate à corrupção. Vimos que o sistema estava reagindo, e foi impossível conter. Começou a haver derrotas na Lava Jato. Mas fui para combater o crime organizado, um dos maiores males do nosso país, e fiz esse trabalho. Aprovamos leis importantes; foi uma operação de guerra que ninguém tinha tido coragem de fazer. Adotamos políticas eficazes para melhorar o controle de fronteiras; me senti realizado. Me sentiria mais se tivesse ficado mais. Mas não quero voltar a essas feridas abertas do passado. O próprio Bolsonaro já disse que tem que olhar para frente, e eu também acho. Mantenho minhas razões, porque ficou uma situação incontornável.

Muita gente fala que, se o senhor tivesse continuado, poderia ter virado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)...
Será? Depois de tudo... O juiz Marcelo Bretas foi aposentado compulsoriamente pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a meu ver erradamente. Vimos reações do sistema. A verdade é que não podemos ter essa ilusão: a corrupção é muito forte no Brasil. O sistema ficou quatro anos na defensiva, não só contra a Lava Jato, mas contra a Zelotes, a Castelo de Areia e outras operações. Tudo isso acaba sendo anulado e invalidado. É um absurdo hoje vermos Sérgio Cabral solto, Eduardo Cunha, José Dirceu e até Lula presidente. Tudo um absurdo.

O senhor hoje responde a um processo no STF, que pode lhe render uma eventual inelegibilidade. Como está essa ação?
Estou confiante de que vai ser considerada improcedente. Foi uma brincadeira numa festa junina; eu nem era senador ainda, então não era competência do Supremo. Não divulguei o vídeo e, evidentemente, não acusei o ministro Gilmar Mendes de vender sentenças numa festa junina. Quem divulgou, na verdade, aquele vídeo foram apoiadores do governo Lula. Então, se alguém tem que ser punido por isso, é esse pessoal. É uma tentativa de atacar meu mandato, de me atacar. Esperamos que o Supremo tenha serenidade de julgar conforme a lei e as provas. Não vou me intimidar com isso.

E quanto ao risco de inelegibilidade para 2026?
Acho que é uma hipótese muito improvável. A sanção penal é tão absurda que não podemos levar a sério. É esperar. Sempre fiz críticas respeitosas ao Supremo, com base em fatos. Acho que eles erraram em alguns temas; acho excessivas as penas de 8 de janeiro. Há uma série de problemas, mas minha crítica é honesta, não é uma brincadeira de festa junina.

Como enxerga o posicionamento do STF com a Lava Jato, após a sua saída?
Ali houve uma reviravolta política. Claramente, não existe razão jurídica para a anulação dos processos. O próprio STF autorizou a prisão do Lula em março de 2018. Ele foi condenado em mais de uma instância, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), depois o Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a condenação. A realidade está posta: o STF reconheceu e manteve a prisão e as condenações. Depois, numa reviravolta política, anulou as condenações. Acho que é uma decisão absolutamente errada, mas segue a vida. Não vamos ficar nos lamentando, mas vamos apontar esses erros.

E qual foi o legado da Lava Jato?
As pessoas despertaram para os males da corrupção. Primeiro teve o mensalão — eu, inclusive, era juiz auxiliar do STF em 2012, quando houve o julgamento —; depois veio a Lava Jato. Qual país prospera dessa forma, onde a trapaça vira regra e o crime vira rotina? A Lava Jato mudou a percepção sobre esse problema. Infelizmente, a tradição da impunidade voltou com força e até para intimidar. Mas a gente não se dobra, e tenho certeza — claro que não será fácil —, essa pauta voltará com força. Precisamos retomar, porque o país não aguenta.

O senhor considera que cometeu excessos enquanto juiz?
Não houve excessos. Se houvesse algum caso de reversão de prisão que decretei ou condenação que emiti, porque a pessoa era inocente ou porque as provas não eram convincentes, eu seria o primeiro a pedir desculpas. Colocar um inocente na cadeia, jamais. O que vimos foi uma reviravolta política em todas as operações contra a corrupção. Veja: nenhum tribunal teve coragem de dizer que a pessoa era inocente. Não falam isso porque sabem o que aconteceu de verdade. Não tenho nada de que me arrependa; fiz o meu papel. Tenho a consciência do dever cumprido, mas o sentimento de que precisamos retomar essa agenda para restaurar a dignidade moral da administração pública.

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