Tropa da CPI da Covid deve ser reescalada para nova investigação parlamentar dos atos golpistas
Governo deve repetir trio de senadores que comandou comissão de 2021 e usar parlamentares com "experiência em combate"
A base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso já começou a analisar nomes para preencher a Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) que quer apurar os atos golpistas. Logo após o governo mudar a posição e passar a defender o colegiado, a partir do caso envolvendo o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), aproveitou uma reunião de pauta com aliados da base para traçar as estratégias iniciais para a comissão.
A ideia é que deputados e senadores que já tenham experiência em outras CPIs e estejam acostumados com o embate sejam escalados para participar do grupo.
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O trio de senadores que comandou a CPI da Covid em 2021 deve aparecer também na CPMI dos atos golpistas do dia 8 de janeiro. Omar Aziz (PSD-AM), Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe são citados como nomes para defender o governo na nova comissão. Como mostrou o GLOBO, Omar e Renan defenderam o colegiado mesmo após Lula falar em janeiro que ele poderia dar uma "confusão tremenda".
Também presente na CPI da Covid, o senador Otto Alencar (PSD-BA) é outro nome apontado como provável na CPI mista. Líder do PSD, ele disse que ainda não decidiu quem serão os senadores indicados, mas não descartou a participação dele e de Omar. Maior partido do Senado, o PSD tem direito a indicar três senadores.
– Poderá ser qualquer um de nós. Eu já participei de quatro CPIs – declarou.
O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) também é citado como um dos indicados para participar das apurações como membro titular. Ele foi um dos primeiros a anunciar a mudança de posição na base em relação à CPMI. O petista foi senador e fez parte da tropa de choque a favor de Dilma Rousseff durante o processo que tirou a ex-presidente do cargo em 2016.
Como vice-líder do governo no Congresso, Lindbergh participou ontem da reunião com Randolfe em que as estratégias iniciais foram discutidas. A previsão é que o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), leia o requerimento de instalação da CPMI na sessão conjunta com senadores e deputados marcada para a próxima quarta-feira. Depois disso, os líderes partidários precisarão indicar os integrantes para que relator, presidente e vice-presidente sejam definidos e a comissão inicie seus trabalhos.
– A gente discutiu um pouco estratégias para a reunião do Congresso na quarta-feira. A gente quer montar, não está definido quem vai ser, são os líderes que definem, uma turma experimentada, gente acostumada com o embate. A gente monta uma turma que vai para cima – afirmou Lindbergh.
No PSOL, o deputado Guilherme Boulos chegou a ser sondado, mas ele sinalizou que não deve participar e indicar outro colega de bancada para compartilhar espaço com outros membros da legenda. O partido ainda não bateu martelo sobre a escolha, mas o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) já manifestou interesse em participar.
– Sempre fui contra essa tentativa do governo, que não prosperou, de retirar assinaturas - sabe-se lá a que preço. Vamos à CPMI, como determina o regimento – disse o deputado.
O colegiado terá 15 senadores e 15 deputados. Pela previsão da Secretaria-Geral da Câmara e a do Senado, o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro terá três vagas de senadores e mais três de deputados. Já o PT poderá indicar um senador e dois deputados.
No Senado, os dois blocos que apoiaram a reeleição de Pacheco, e que são mais próximos do governo, poderão indicar 11 membros, o que dá uma margem confortável para a base de Lula. Na Câmara a situação é diferente. Os dois blocos do Centrão, que abrigam também partidos governistas, mas que o Palácio do Planalto não tem total controle, terão direito a indicar sete integrantes.
Parlamentares bolsonaristas tentam alardear no governo uma omissão que teria facilitado os ataques. Um vídeo, revelado pela CNN, em que o general Gonçalves Dias, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, aparece ao lado dos invasores amplificou a estratégia dos opositores do governo.
Inicialmente, a base governista no Congresso agiu para tentar abafar uma CPMI para impedir que bolsonaristas tivessem oportunidade de reverberar os ataques, mas agora petistas falam em partir para ofensiva.

