Sáb, 06 de Dezembro

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BRASÍLIA

"Vamos lutar, mas governo não devolverá dinheiro desviado do INSS", diz Magno Malta

Senador Magno MaltaSenador Magno Malta - Foto: Saulo Cruz/Agência Senado

Em seu terceiro mandato como senador da República, Magno Malta (PL-ES) vem sendo um dos principais opositores do governo Lula (PT) na Casa Alta. Apesar de comemorar a oficialização da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, ele alerta para interferências dos governistas no funcionamento dos trabalhos.

Em entrevista ao podcast Direto de Brasília, apresentado por Magno Martins, Malta denunciou o envolvimento de congressistas nos desvios da Previdência Social, acusa de "mentiroso" o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e negou a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para 2026.

O senhor defendeu a CPMI do INSS, que foi oficializada. Mas alguns governistas dizem que a investigação pode resvalar em nomes ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Qual a sua expectativa?

Pra mim, bandido é bandido. Se resvalar em alguém que passou pelo governo Bolsonaro, tenho certeza de que não passou pelo presidente, que ele nada sabia que tinha alguém envolvido. E se tiver, que pague. Roubar aposentados, idosos, é algo de uma canalhice sem tamanho. Ainda que tenha sido no governo Bolsonaro, se aparecer, tem que tomar cadeia. Deveríamos ter prisão perpétua para quem abusa de crianças e quem assalta aposentados, gente que trabalhou e construiu esse país. Que se exploda.

Mas a CPMI só deve começar para valer em agosto, após o recesso parlamentar, isso prejudica?

Normalmente o pedido de CPMI trava uma pauta do Congresso. Estranhamente, foi lido só no final da sessão da terça-feira (17). Foi uma derrota para o governo, que trabalhou, usou dinheiro de forma irresponsável, sem pensar nas consequências, uma prática comum deles. (O governo) Comprou e pagou gente, soltou emendas e mesmo assim não teve como conter, barrar algo que vem da força do povo. Eles tentaram de tudo, não quiseram assinar a CPMI, esconderam todo mundo. E agora já querem indicar o senador Omar Aziz (PSD-AM) como presidente. Então sabemos que há uma tentativa de abafar. Mas nós vamos mostrar a cara para a nação, para o mundo, como mostramos sobre o dia 8 de janeiro, quem estava de fato envolvido nessa falácia, naquela trama mentirosa, criada por eles. A queda das máscaras, que começou com o 8 de janeiro, está chegando agora.

Acredita que o governo conseguirá esvaziar a CPMI?

Toda vez falam isso. Eles não assinaram a CPI do dia 8 de janeiro, tentaram de tudo para que ela não acontecesse. Quando viram que não dava, entraram, fizeram maioria e tomaram tudo. A gente não conseguia aprovar um requerimento para trazer alguém que de fato era suspeito. (Os ministros do STF) Flávio Dino apagou as imagens, Alexandre de Moraes impediu os deputados e senadores de cumprirem seu dever constitucional de fiscalizar, de ir aos presídios, dar assistência. Todo mundo que era convocado estava protegido, era colocado na lista da relatora, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que é do Maranhão, do Flávio Dino. Mas conseguimos expor a cara de todos. A montanha no final pariu um rato.

A CPI então dará o que falar?

O PT é mestre nisso. CPI do serve quando é para eles. O PT pediu a CPI do Orçamento, depois a do INSS. Quer dizer, se o PT pede para investigar a vida dos outros é legítimo, eles falam de boca cheia que é instrumento da minoria. Agora já não é mais, dizem que já não precisa de CPI porque o Ministério Público e Polícia Federal já estão investigando. Mas quando é contra eles, o instrumento deixa de ser parlamentar. Eu presidi duas grandes CPIs, a do Narcotráfico e a da Pedofilia, ambas de grande resultado. Porque é CPI de causa, e sempre tem apoio da população. Eles dizem que não tem necessidade e que vai atingir mais o Bolsonaro. O grande medo deles é a Polícia Federal descobrir que tem deputado e senador envolvido, e tem que mostrar a cara desses pilantras.

Tem provas disso?

A PF tem nomes de senadores e deputados. Por que eles estão tentando abafar de todo jeito e jogar no colo de Bolsonaro? Ora, quem era o ministro antes? O Paulo Bernardo, ex-esposo da ministra Gleisi Hoffmann, que foi preso por esse crime. Eles sempre voltam para a cena do crime. Paulo Bernardo estava fazendo empréstimo consignado em nome dos aposentados sem que eles soubessem. E ele foi preso. Sabemos disso. O senador Renan Calheiros, na época do impeachment da Dilma, fez um discurso indignado, falou que agora não servia mais. Só servia enquanto presidente da Casa, porque ele teve que ir no STF para evitar que a então senadora Gleisi fosse indiciada e que o marido dela fosse preso. Isso não é coisa nova.

Sobre os desvios da Previdência Social, o governo Lula tem dito que vai pagar aos aposentados aquilo que foi subtraído indevidamente...

Falácia. O país está de ladeira abaixo, a economia também. Hoje temos o maior imposto do planeta, a maior carga tributária e uma inflação crescente no país. Quem está na ponta, no mercado ou na feira, o que se comprava com R$ 100 reais não se compra nem com R$ 500. Na minha visão, lutaremos para isso, mas esse dinheiro não vai voltar.

Como viu a postura do ex-presidente Bolsonaro no julgamento diante do ministro Alexandre de Moraes? O senhor teria a mesma atitude?

Experiência é igual a dentadura, só cabe na boca do dono. Não sei como eu procederia. Já fiquei olho a olho com Moraes, na sabatina dele no Senado. Ele era ministro da Justiça, vinha como um todo poderoso indicado pelo Michel Temer. Sabatinei olhando no olho e disse que todos vendem a mãe para colocar essa toga. Ele recebeu ataques do PT, da Gleisi, do Randolfe Rodrigues, do Lindberg Farias, e hoje são amigos. Não sei quem mudou, mas quando Alexandre de Moraes faz o discurso sobre liberdade, na verdade é um estelionatário. Todos são. Eles mentiram. O ministro Luís Roberto Barroso diz que mentira tem que voltar a ser crime, repetindo frase do Lula. Veja como as coisas são ensaiadas. E quem mentiu mais que eles na sabatina?

Mas e quanto ao Bolsonaro?

Bolsonaro mostrou que ele era o Bolsonaro. Chegou de forma descontraída, como quem não tem conta para pagar com Alexandre de Moraes. E na verdade é só narrativa essa tentativa de golpe, que o Anderson Torres disse ser o golpe do Google. É assim que eu trato. A piada que Bolsonaro fez mostra que Moraes é um arrogante, que já atravessou o rio, queimou a canoa e não tem como voltar. Uma brincadeira descontraída, de quem sabe que será sim candidato em 2026.

Mas ele não deveria ter seguido uma certa liturgia?

E onde está a liturgia para quem não respeita a Constituição? Bolsonaro estava diante de um debochado jurídico, que acha que pode criar leis, debochar de pessoas. Alexandre é o CEO de um consórcio de malvados, perversos, que envolve desde o governo, a Procuradoria Geral da República e infelizmente a criminalidade crescente no Brasil.

Especialistas têm apontado a possibilidade de Bolsonaro ser preso ainda esse ano? Acredita nessa hipótese?

Não temo pela prisão. Indiciamento não significa ser criminoso. No Brasil, a palavra ficou criminalizada, mas só quer dizer que tem indícios, suspeitas, então deve-se continuar investigando. Mas a palavra está criminalizada. Já destruiu alguém perante a opinião pública, como se estivesse condenado. A denúncia do Paulo Gonet é o encontro do nada com coisa nenhuma. Esse indiciamento não vai levar a lugar nenhum. É uma cortina de fumaça, porque eles não têm interesse de dar um fim a esse estômago do elefante, que vai entrando pelo sétimo ano, esse inquérito do fim do mundo do Alexandre de Moraes.

Como viu a prisão do ex-ministro Gilson Machado?

Gilson foi preso sem prova nem indício. A coisa mais forte em tudo isso é que ele é amigo de Bolsonaro. Eles estão enfraquecidos, a delação do Mauro Cid foi por água abaixo. Extrapolaram tudo. Acho até que outros indiciamentos virão, mas duvido que vão botar a mão em Bolsonaro. De, e desafio Moraes. Tente a sorte, porque o azar já tem.

O senhor então não tem medo do STF...

Medo eu conheço de ouvir falar, nunca fui apresentado. Se eu tiver medo de Alexandre Moraes, se eu perder para ele, vou empatar com quem? Ele nasceu ontem? Parece que ele não tem passado. Tenho uma missão para cumprir no meu país. E eu não falo mentiras. Sabatinei Barroso, Moraes, todos mentirosos. Mentiram em tudo e posam, dando entrevista como popstar, como se não tivesse um passado tenebroso. Temos que fazer um pouco de exceção, mas são raras. Não tenho medo. Deus traçou minha vida. Só temo a Deus.

E qual a expectativa para a manifestação convocada para o dia 29?

Será gigante, será um evento por justiça. Há um adubo de injustiça semeado neste país. Mas pessoas que têm sede de justiça estarão lá. Tentaram nos calar, mas vamos continuar

Nos próximos dias o Senado deverá votar o aumento de deputados federais que foi aprovado na Câmara. Qual sua posição sobre criar novas vagas?

Claro que votarei contra e trabalharei para derrubar esse projeto. Um país à deriva, endividado. Hoje a Câmara é um peso morto para o Brasil, o Senado também, porque não cumprem seu papel constitucional. O Brasil vive essa escalada de violência, onde o Poder Judiciário passa a mão na cabeça de bandido. O povo espera uma reação, mais do Senado, relacionada a essa escalada de autoritarismo do STF. Chegamos ao ponto do presidente da Câmara dizer que anistia para quem não cometeu crime não é pauta importante para o Brasil, e aumentar vaga de deputados e despesa é prioridade...

Como avalia o cenário 2026 sem Bolsonaro? Quem seria o melhor nome para a direita?

Não vejo um cenário sem Bolsonaro. Eleição sem Bolsonaro é golpe. E eles estão preparando o golpe de verdade para se eternizar no poder.

Mas hoje o ex-presidente está inelegível...

Não acredito nessa inelegibilidade da Procuradoria Geral da República. Como votam inelegibilidade sem base jurídica? Por isso não vejo cenário sem Bolsonaro. Sei que virão outros, e existem quadros colocados. Mas tem um detalhe, o povo que gosta do Bolsonaro tem uma paixão. E com essa paixão no inconsciente das pessoas, se o Bolsonaro não for candidato, será o grande cabo eleitoral. Mas a pessoa precisa ter uma contribuição pra dar, porque o Bolsonaro sozinho não elege ninguém. Pode ser um bom gestor, mas essa paixão que está ali enrustida, não sei se tem essa capacidade de transferir para outro.

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