Zema diz que Moraes "paga pelo que plantou" e critica Lula e Brics; governador do Piauí rebate
Na série de debates do Globo, contudo, os dois convergem ao analisar efeitos econômicos do tarifaço imposto por Donald Trump
No segundo debate da série Diálogos, organizada pelo Globo nesta semana, os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e do Piauí, Rafael Fonteles (PT), manifestaram divergências profundas sobre a crise entre Brasil e Estados Unidos, a despeito da concordância sobre os efeitos econômicos do tarifaço.
Opositor do presidente Lula (PT), o mineiro disse que o ministro Alexandre de Moraes “paga pelo que plantou”, criticou a postura do petista na relação com Donald Trump e questionou a participação do país no Brics.
— Querendo ou não, as questões econômicas e políticas têm uma zona de interseção, uma zona meio cinzenta. Está claríssimo que temos tido, principalmente por parte do Supremo, do ministro Alexandre de Moraes, excessos. Ele é o réu, o juiz, o acusador, a testemunha. Isso cria realmente um problema sério para a credibilidade do nosso Judiciário — alegou. —Nesse caso específico da ação contra ele, ele está pagando o preço por aquilo que plantou.
O governador de Minas chegou a questionar até a participação do Brasil no Brics, bloco que entrou na mira de Donald Trump.
— Estar no Brics para mim também é um problema. É um 'Frankenstein', um pedaço de boa parte do mundo que não tem nada em comum. São cristãos como o Brasil? São democráticos como o presidente Lula prega tanto? Estão próximos do Brasil?
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Aliado do governo federal e correligionário de Lula, Fonteles, que também preside o Consórcio Nordeste, foi por outro caminho: elogiou a forma como a gestão petista conduz o caso, tentando diálogo “sem ser subserviente”.
— A postura do governo federal tem sido correta e gerado efeitos no curto prazo. O governo americano já recuou em 700 itens e já adiou por mais sete dias o início do tarifaço. Ou seja, temos mais tempo ainda para continuar com esse diálogo conduzido por um dos homens mais capacitados do país, o ministro (Geraldo) Alckmin — afirmou. — Vejo uma postura correta de manter o diálogo sem ser subserviente.
O mais preocupante, disse o piauiense, é a mistura entre temas políticos e assuntos comerciais.
— É algo desrespeitoso com o povo e as instituições brasileiras. Misturar um julgamento na Corte do país, se está feito ou não de maneira correta, com tarifas comerciais, é algo muito grave. A maioria do povo brasileiro se revolta com uma situação como essa.
Do ponto de vista econômico, os dois convergem ao elencar perdas para setores da economia.
— Tem um impacto muito grande em Minas Gerais que é um estado exportador, mas ontem, com a exclusão de alguns itens, já tivemos certo alívio. Mas ainda tem um peso muito grande a questão do café, que continua com 50%. O que tenho visto é que vão fazer ajustes de acordo com o mercado interno americano. Se perceberem que o café está subindo, vão reduzir a taxa. É acompanhar — avaliou Zema, que anunciou R$ 200 milhões de crédito emergencial via banco de desenvolvimento para aliviar as perdas dos exportadores.
No Piauí, indicou Fonteles, a dependência dos Estados Unidos é pequena, mas a preocupação dele aumenta enquanto presidente do consórcio regional.
— Há na nossa base exportadora menos de 5% para o mercado americano, enquanto mais de 65% são para a China. O efeito para o Piauí é pequeno se comparado a outros estados, inclusive do Nordeste, que tem mais de 40% — explicou. — Como estou na presidência do Consórcio Nordeste, isso me preocupa. Terei uma reunião na semana que vem com o presidente Lula e o vice Alckmin.
Série Diálogos
O primeiro encontro da série de debates, realizado na segunda-feira, foi entre o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD). Nesta sexta-feira, será a vez do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e do prefeito do Recife, João Campos (PSB). As conversas são mediadas pela colunista Vera Magalhães.

