Chacrinha e o abacaxi
Se vivo, o apresentador faria 100 anos
Celebramos hoje, 30 de setembro, o centenário de José Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Maior comunicador da televisão brasileira. Nasceu em Surubim, no Agreste pernambucano. Durante anos apresentou, na TV Globo, A Buzina do Chacrinha (programa de calouros) e a Discoteca do Chacrinha (com sucessos musicais do momento).
Vestia-se com roupas coloridas, mais lembrando aquelas usadas pelos palhaços dos circos populares. Sempre rodeado por mulheres dançando no palco. A todo instante chamava por “Terezinhaaaaaaa”. Não se sabe, exatamente, quem seria essa senhora. Provavelmente nunca existiu. Era só um nome ao vento. Dizia, também, que “Quem não se comunica se trumbica”, orgulhoso de seus dotes de comunicador.
Quando acusado de copiar ideias de outros apresentadores, dizia que “Na televisão nada se cria, tudo se copia”. Em seu programa de calouros, aquele que cantasse bem era aplaudido e ia para o trono. Muitos nomes famosos começaram ali. Como Roberto Carlos, Agnaldo Timóteo, Nelson Ned, Raul Seixas. Já o calouro que cantasse mal, ele acionava uma buzina barulhenta. Interrompia o cantor. E lhe dava, como troféu, um abacaxi. Mas por que um abacaxi?, eis a questão.
O que sabemos é que em guarani, “ananás” significava “fruta saborosa”. Os índios penduravam suas folhas, imitando uma coroa, nas portas das ocas. Porque “nasce o ananás com coroa, como rei”, observou Frei António do Rosário (em Frutas do Brasil, 1702). Para aquele povo simples, apenas sinal de que visitantes seriam bem recebidos. “Há uma fruta nesta província do Brasil muito saborosa, que excede no gosto a quantas frutas há nesse reino.
Colhem-na do chão, com uma faca tiram-lhes a casca e cortam em talhadas, e dessa maneira comem”, descreve Pêro de Magalhães Gândavo (Tratado da Terra do Brasil, 1576). Essa casca aproveitavam para fazer bebida muito apreciada, o aluá - posta para fermentar em potes de barro, junto com mel de abelha.
Dela faziam também remédio, capaz de curar até “doentes de dor de pedra”, assim se dizia então do cálculo renal. As práticas foram descritas pelo Padre Nóbrega em carta (de 1561) enviada a seus superiores de Lisboa. Nóbrega, vale a lembrança culinária, não se dava bem com Dom Sardinha - aquele que foi prato principal no cardápio de um almoço dos Caetés. Mas essa é outra história.
“É a melhor fruta, e mais gostosa e apetitosa que se sabe” (para o Padre Simão Travaços (em Declaração do Brasil,1596). Nossos índios apreciavam também um tipo mais perfumado, mais macio e mais doce que aquele ananás - o “iuaka’ti” (fruta cheirosa). Convertido pelos portugueses, o som da palavra, no próprio nome que deram à fruta - “abacaxi”.
Embora abacaxi, bom lembrar, seja só uma variedade do ananás. “Há três variedades de ananás no Maranhão, chamadas abacaxi......Seu sabor é superior ao das espécies que conhecemos há longo tempo” observou o frade, médico e botânico Manuel de Arruda Câmara (1810). Tanto foi seu prestígio que acabou designando uma tribo, a dos “Iuaka’tis”. E dando nome a um Rio, o “Abacaxi”, afluente da margem direita do Amazonas (entre o Madeira e o Tapajós). Hoje está em todas as mesas.
E nas brincadeiras das crianças. “O que é, o que é? Tem escamas e não é peixe, tem coroa e não é rei, tem espada e não é soldado, tem olho e não vê, tem pé e não anda?”. A meninada então grita “abacaxiii!” Pena que a fruta acabou levando injusta fama. “Abacaxi”, para toda gente, acabou virando problema complicado. Donde “descascar abacaxi” seria resolver ou se livrar desse problema. A comparação, como operação física, até faz sentido.
Que descascar abacaxi dá mesmo muito trabalho. Fura dedo. Corta mão. E cansa o braço, no manejo da faca. Vai ver foi por isso escolhido como troféu por nosso Chacrinha. Como algo ruim. Sem nem atentar para o fato de que no sabor, e disso já sabiam nossos índios, vale qualquer sacrifício.
RECEITA DE MOUSSE DE ABACAXI
INGREDIENTES
6 claras de ovos
1 pitada de sal
5 colheres de sopa de açúcar
6 folhas de gelatina
500ml de polpa de abacaxi
250g de iogurte natural
200g de cubos de abacaxi
PREPARO
· Bata as claras em neve firme, com a pitada de sal
· Junte o açúcar e misture bem. Junte as folhas de gelatina, já dissolvidas
· Acrescente a polpa do abacaxi (batida anteriormente, no liquidificador, com bem pouca água), o iogurte e os cubos de abacaxi
· Coloque tudo em forma de buraco, untada com azeite. Leve à geladeira por, no mínimo, 6 horas
· Desenforme e, na hora de servir, cubra com calda - feita com polpa de ½ abacaxi (batida no liquidificador com bem pouca água) e 3 colheres de sopa de açúcar. Leve ao fogo, até que engrosse
É especialista em Gastronomia. Escreve semanalmente neste espaço.

