Pina Cocktails tem aura clandestina

Nos moldes dos speakeasy, é difícil encontrar o Pina sem referências antecipadas. Fica numa improvável rua no bairro do Pina, que concentra uma muvuquinha de comércio local, ocupando o primeiro andar de uma academia de ginástica. É isso. Nem o som das coqueteleiras de Luciano vão lhe fazer encontrar de primeira o bar. É aí onde reside o primeiro atrativo desse tipo de negócio: vende experiência e não somente bebida. Esse é o verdadeiro espírito dos “speaks”.

Com a senha em mãos, que será entregue ao segurança da casa, você não vai se arrepender de ter encarado o protocolo. Ali, no pequerrucho Pina Cocktails & Co., são feitos os melhores coquetéis da Cidade, sem pestanejar. A afirmação é possível pelo conjunto da obra que vai em um copo servido por Luciano: ingredientes de qualidade, alguns feitos na própria casa, emprego de técnica e criatividade. Com carta 100% autoral, não espere achar caipirosca. É o único drinque vetado pelo profissional, que não abre mão de estimular a experimentação nos clientes. Nem cerveja, vinho ou bebida em doses. Outros clássicos, porém, como caipirinha e negroni podem ser solicitados à parte, mesmo que não estejam descritos no cardápio etílico. Uma minúscula seleção de petiscos fica à disposição, entregando mesmo que o astro ali não é a comida.

A carta
Renovada a cada seis meses, a atual carta homenageia grandes artistas como Tim Maia, Brigitte Bardot e John Lennon, enquanto a próxima temporada irá beber da fonte dos clássicos hollywoodianos. Com pegada delicada, o Monroe (R$ 17) é o drinque mais cênico da temporada. A infusão de rosas com espumante brut, bitter de laranja e pérolas de cereja vem acomodada em uma bola de vidro. Tanto pela base alcoólica quanto pela apresentação, este drinque é muito consumido por mulheres, quantifica Luciano. Já o Lennon, uma homenagem ao falecido Beatle, é mais encorpado, forte, combina gim, saquê, chá preto e cordial de limão siciliano. Sai a R$ 21. O bartender segue explorando a mixologia no Armstrong (R$ 20) unindo numa talagada só vodca polonesa, rum guatemalteco, cranberry, gengibre e tintura de jambú - afamada erva paraense que deixa boca e língua formigando. Mas nem só de pancadão vive a carta de Luciano. O Bardot, uma alusão à musa eterna Brigitte, tem a adocicada vodca de baunilha, sumo de limão siciliano, licor St. Germain e espumante brut (R$ 22). Em livre interpretação, pode-se dizer que é coquetel tão sexy quanto feminino como a própria diva que inspirou a coqueteleira.

Um cuidado que vale o registro. Um bom coquetel é como um prato assinado por chef de cozinha - é pensado, testado, tem ingredientes de primeiríssima qualidade. Em se tratando de coquetelaria, marcas de bebida, insumos preparados no dia de forma artesanal, modo de servir e enxoval são quase a totalidade de um ótimo drinque. Mas bartender que se preze vai além disso.

Detalhe quase imperceptível ao paladar menos treinado, o gelo parece estar ali, no centro do copo ou taça, apenas como coadjuvante. Mas entenda. A maioria dos gelos utilizados por aí derrete rapidamente e deixa gosto residual que não orna com o drinque. Luciano faz o próprio gelo com água mineral fervida três vezes para tirar o oxigênio, deixa esfriar naturalmente em um cooler, não em forminhas, por quatro dias, de forma que resfrie por igual. Dessa forma também o bloco gelado fica translúcido por igual e leva mais tempo para se desfazer e, por consequência, não deixa a bebida aguada.

Serviço >
Pina Cocktails & Co.
A casa tem apenas 20 lugares.
Informações e reservas: 99216.7329.
Instagram: @pinacocktails

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