Ter, 23 de Dezembro

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Vida saudável

O café, sabor e prazer

Solange Carvalho Paraíso é nutricionista e atua no Tribunal de Justiça de Pernambuco no Núcleo do Programa Saúde Legal. Contato: 98654.1611

Solange ParaísoSolange Paraíso - Foto: Alfeu Tavares

Eu amo café. Sou da geração que o consumia sem culpa e que valorizava tanto, ao ponto de generalizar o nome das refeições em que ele estava presente, incluindo-o na denominação: café da manhã e café da noite. É certo que já, àquela época, se restringia um pouco o uso do café para as crianças, no sentido de não viciar, ou para priorizar o uso do leite, reconhecidamente nutritivo.

O café, na realidade, tem valor nutricional irrisório. É mais fácil atribuir-lhe vantagens e desvantagens pelas propriedades do seu componente mais estudado hoje em dia, cafeína: é estimulante do sistema nervoso central (mantendo o estado de vigília), é diurética, acentua o tônus do músculo cardíaco, interfere na motilidade gás­trica, e possui função termogênica (auxiliando no metabolismo das gorduras).

Pelo efeito estimulante, o café sempre foi o queridinho das pessoas que adentravam as madrugadas estudando, e dos trabalhadores noturnos; hoje existe um enorme filão comercial com adição de cafeína a bebidas industrializadas, as chamadas bebidas energéticas, cujo consumo requer moderação. Pela associação com o uso do cigarro, o café é considerado “gatilho”, influenciando no perfil da depen­dência. Pessoas com doenças cardíacas, gastrite e refluxo, bem como aquelas com transtornos do sono, são orientadas para moderar o consumo de café ou substituí-lo pela versão descafeinada. Esta, por definição, deverá ter, no máximo, 3% do teor de cafeína, comparado ao contido no grão original.

O consumo do café no Brasil tem fortes raízes culturais em virtude do amplo cultivo e da geração de riquezas, tornando-o, até hoje, exportador prestigiado. Além disso, esta bebida deliciosa conquista cada vez mais os consumidores internos, haja vista a proliferação das cafeterias e a capacitação de apreciadores e baristas, os quais atingem razoável nível de conhecimento dos segredos e nuances para a obtenção de um bom café.

No meu caso particular, não me curvo às restrições impostas por um refluxo esofa­golaríngeo que se manifesta pelo sintoma de um pigarro aborrece­dor, nem pelo padrão ruim do sono. Tomo pelo menos duas xíca­ras de café forte ao dia: ao acordar e no início da tarde. Se for dormir mais tarde ainda encaro consumir uma xícara até as 19 horas; senão, lanço mão do descafeinado, achando-o um “café de mentira”.

Na premissa de apreciadora de um bom café, me interessei em fazer uma Oficina de Preparo de Café Filtrado para Iniciantes, com uma barista pernambucana premiada. Fui mais pela curiosidade, e uma pontinha de esperança de conhecer os recursos para lidar com meu padrão de consumo sem culpa. Qual não foi minha surpresa, ao vivenciar a experiência: além de constatar a competência, vi na profissional um carisma e um empenho típicos das pessoas que amam o que fazem, sem vaidade e muita simpatia.

Aprendi um pouco da história do café, os tipos de grãos, os utensílios e técnicas de filtragem; degustei vários tipos de bebidas e aprendi a fazer, eu mesma, um café decente. Tudo isto num clima prazeroso, cercada de gente linda e, por sinal, com muito mais conhecimento do que eu esperava na categoria “iniciantes”. Aí me dei conta de que o maior valor agregado disso tudo foi estar completamente presente no agora, fazendo algo com atenção plena e culminando no prazer sem culpa!

P. S. um carinho especial por Lidiane Santos, barista e mestra das boas!

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