King’s Man: A Origem pode ser um merecido retorno à excelente forma da franquia Kingsman
Por muitos anos as adaptações de histórias em quadrinhos alternativas – fora do eixo Marvel/DC – para os cinemas foram vistas como um grande risco a ser empreendido pelos estúdios de peças cinematográficas. Afinal a mídia parecia não “acertar” suas primeiras adaptações no gênero, algo exemplificado por filmes como Flash Gordon e Red Sonja na década de 1980 que não conseguiram bons retornos nas bilheterias.
Mas a partir da década de 1990, a coisa começa a mudar. O sucesso das adaptações de O Corvo e de Homens de Preto – que ganhou sua quarta edição em 2019 – mostraram que o público estava mais do que preparado para receber as películas de histórias que fugissem do padrão super-heróico, desde que estas fossem bem feitas. Abria-se assim um mercado com vasto espaço a ser explorado por Hollywood, graças à vastidão de histórias originais que poderiam ser levadas para as grandes telas.
Sem essa mudança, o primeiro filme da agora trilogia Kingsman possivelmente não teria o espaço ou o orçamento que permitiu seu sucesso desde a primeira instância da franquia. Mas isso não significa diminuir os méritos de Matthew Vaughn, diretor e roteirista do filme que arrecadou mundialmente 414 milhões de dólares contra um orçamento de 94 milhões.
O sucesso de Kingsman tanto em crítica quanto em bilheteria gerou uma sequência, Kingsman: O Círculo Dourado, que foi bem-sucedida nas finanças, mas não tão bem-sucedidade nas resenhas. A esperança é de que haja uma volta à forma com o terceiro filme, King's Man: A Origem, que será uma pré-sequência da história da agência de espiões britânica.
Acidez na medida certa
Kingsman é criação do escritor de histórias em quadrinhos Mark Millar, um dos mais célebres autores do gênero nos últimos anos. Fãs da mídia conhecem Millar através de histórias feitas para a Marvel como os Supremos e a Guerra Civil, enquanto que seguidores de HQs independentes tiveram contanto com as histórias do escocês por meio de Kick-Ass e Wanted, obras do “Millarworld” que foi comprado pela Netflix em 2017.
As peças de Millar costumam ter humor bem ácido em comparação a histórias em quadrinhos mais comuns, e Kingsman não é diferente. Tanto a HQ quanto a sua primeira adaptação à sétima arte contam a história do recrutamento e do treinamento de Gary "Eggsy" Unwin pela agência de espionagem secreta que dá nome à história.
A falta de temores quanto a mostra da brutalidade do treinamento e das missões de Eggsy como agente secreto são boa parte do apelo dos filmes de Kingsman, todos eles dirigidos pelo supramencionado Matthew Vaughn. Ele volta ao terceiro filme da franquia também como roteirista, com um elenco composto por nomes como Daniel Bruhl e Ralph Fiennes.
Bons nomes são o segredo do sucesso
Outra grande parte do apelo dos filmes de Kingman até aqui é justamente a boa química que os atores mostram frente às câmeras. Matthew Vaughn como diretor mostra esse talento desde a sua estreia em 2004 com Nem Tudo É o Que Parece, filme policial estrelado por Daniel Craig – também conhecido por interpretar a última versão do famigerado espião 007. O mesmo se viu em Kick-Ass, seis anos depois, que virou um “mega-hit” dentro e fora das salas de cinema.
Daniel Bruhl é outro nome de destaque por sua imensa versatilidade, e também o talento demonstrado desde seu “breakthrough” com Adeus, Lenin!, filme que lhe garantiu os prêmios de Melhor Ator nos Prêmios de Cinema Alemão e do Cinema Europeu. Ele deu prosseguimento com papeis celebres através de Bastardos Inglórios, filme de Quentin Tarantino onde sua interpretação lhe rendeu vários prêmios de crítica especializada nos Estados Unidos. Bruhl também fez parte de Tirando A Sorte Grande, filme espanhol que conta a história de Gonzalo García Pelayo e suas desventuras em cassinos. A especialidade de Pelayo era o famigerado jogo de roletas, onde se é permitido apostar em um número, em uma cor ou em uma sequência de números para realizar seus ganhos. E o ator espanhol-alemão também foi intérprete do piloto de Fórmula 1, Niki Lauda, em Rush - No Limite da Emoção – filme dirigido por Ron Howard e lançado em 2013. Este foi mais um filme que garantiu a Bruhl várias indicações a prêmios mundo afora por sua excelente atuação.
Já Ralph Fiennes é um dos atores mais celebrados de sua geração, conseguindo duas nominações ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por sua interpretação em A Lista de Schindler, e de Melhor Ator em O Paciente Inglês nos anos 1990. Desde então Fiennes tem mostrado seu alcance em atuação interpretando papeis em blockbusters como Fúria de Titãs, e em filmes mais artísticos como O Grande Hotel Budapeste.
Uma volta à boa forma?
Pode-se dizer que o primeiro filme de Kingsman foi quase uma tempestade perfeita. Uma história nova, com base em um roteiro simples, mas que permitia extrair o máximo das atuações de atores experientes como Colin Firth e Samuel L. Jackson, e também do jovem Taron Egerton no papel do novato agente “Eggsy”.
O segundo filme sofreu do declínio em qualidade mais do que usual em sequências de filmes extremamente bem-sucedidos, especialmente no que tange às expectativas que são carregadas em cima destas películas. Mas a receita humorística desse segundo filme manteve-se acima da média, assim como as excelentes sequências de ação que marcaram o primeiro filme.
Para os executivos, o mais importante é que as receitas tanto do primeiro quanto do segundo filme mantiveram-se acima dos 400 milhões de dólares contra um orçamento de quase 100 milhões, liderando bilheterias em seu lançamento nos cinemas – um tremendo sucesso para um filme baseado em uma história em quadrinhos independente. Entretanto o mundo do cinema – e das artes em si – é conhecido justamente pela dualidade entre o artista e o produtor/executivo, que pode se tornar um confronto ou uma cooperação.
A combinação ideal trará de volta os elementos que fizeram do primeiro Kingsman um sucesso de crítica e bilheteria, mas evitando fazer isso de maneira formulaica. Uma missão difícil para boa parte dos diretores de cinema, mas talvez não para Vaughn que em sua carreira tem tido uma taxa invejável de acertos, desde Nem Tudo É o Que Parece e Kick-Ass, até os filmes de Kingsman.
