Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, é recebido pela militância e lideranças políticas em sindicato
“Delúbio Soares, o réu sem crime”, foi o nome da palestra que o fundador e ex-tesoureiro do PT apresentou, nesta quinta-feira (11), no Sindicato dos Servidores Públicos Federais no bairro da Boa Vista. O evento teve o mesmo nome do seu livro-cartilha, no qual ele conta a versão de sua história após ser condenado no mensalão a 6 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal STF). O petista ficou preso durante dois anos. No livro, Delúbio diz que o processo e julgamento do mensalão serviram para a primeira tentativa de golpe contra o governo democrático de Lula. No encontro, os participantes levantaram o mote de que a criminalização das lideranças da legenda é usada pela classe dominante para enfraquecer as conquistas dos trabalhadores.
Participam do evento lideranças petistas, como o presidente estadual da legenda, o deputado Doriel Barros, o deputado estadual João Paulo, a vereadora Liana Cirne, do Recife, e o vereador Vinicius Castelo, de Olinda. Outros nomes de peso, como o presidente da CUT, Paulo Rocha, estão presentes. O senador Humberto Costa não pôde participar porque está fazendo tratamento médico.
Olhos marejados
Numa conversa direta com a militância, o ex-tesoureiro do PT frisou ter sido perseguido e condenado sem uma única prova.
"Todas as minhas contas sempre foram aprovadas por unanimidade com louvor, inclusive na época do governo FHC. Quando começaram aquelas denúncias, o PT entrou em parafusos. Eu mesmo pedi a Comissão de Ética para mim, a Comissão de Ética trabalhou e me absolveu. A direção do PT mudou e não aceitou o relatório produzido. O que fizeram? Criaram uma nova Comissão de Ética que fez um relatório e me expulsou. Eu pensei: quem vai pagar o preço é quem vai me expulsar. A mentira não vive o suficiente para envelhecer. No dia 22 de agosto de 2005 abriram a porta para toda a injustiça começar", destacou Delúbio, que frisou não guardar mágoa. O petista ficou com os olhos marejados ao citar nomes de pessoas que não o abandonaram nos momentos difíceis.
Segundo o advogado do petista, Pedro Paulo Guerra de Medeiros, que também estava presente na palestra, após vários anos do PT na Presidência da República, houve o que ele chama de movimento organizado por forças nacionais e internacionais conservadoras e ultraliberais para entrar no imaginário coletivo e impedir a continuidade das gestões populares. Para ele, criaram com o PT uma história do tipo Alibabá e os 40 ladrões, traçando um roteiro que entrasse fácil na cabeça das pessoas.

Roteiro de novela
De acordo com o advogado, escolheu-se um juiz, preparado por forças externas, municiado com informações e ferramentas "jamais vistas" até então, instrumentalizando-se instâncias judiciárias e o Ministério Público. Na época, para o advogado, cooptou-se o imaginário da maior parte da população brasileira por intermédio de parcela da grande imprensa brasileira.
"Não havia (contra Delúbio) a demonstração de desvio de um real sequer. Era só uma perseguição política e foi criado um enredo de novela, que passava na televisão todos os dias para tirar as pessoas próximas de Lula de circulação".
Pedro Paulo Guerra frisa que, após essa organização, houve o início da chamada Lava-Jato, onde se conseguiu aquilo que se conseguido parcialmente com o Mensalão: anular a existência política e eleitoral da maior força política brasileira, Luiz Inácio Lula da Silva. A Lava-Jato culminou com a prisão de Lula.
Persistência
Doriel Barros observou que a presença de Delúbio no Recife é o símbolo da persistência e o companheirismo. Delúbio retornou ao PT mesmo depois de ser expulso. "Sua luta e capacidade de se recriar nos inspira", declarou Doriel. Para o deputado João Paulo, todo processo vivido por Delúbio e a criminalização do partido refletem a luta de classes no Brasil. "Se não fosse nossa luta, a história contada seria outra. Hoje, nós podemos contar a reeleição de Lula como a maior vitória da história do Brasil", pontuou João Paulo.
Liana Cirne, que é advogada, também falou do golpe judicial vivido no País durante a Lava-Jato e das injustiças que, para ela, foram cometidas pela "Justiça de Curitiba".
"A Lava-Jato criou um simulacro de processo para dar um verniz de legalidade para as pessoas que já estavam condenadas antes de serem citadas. Foi um escárnio o que a extrema-direita fez com o nosso País. Espero que, quem colocou você como réu (Delúbio), como Sérgio Moro e toda a corja, respondam como réus na Justiça comum e sejam condenados no futuro", declarou.
Rádio Folha
Em entrevista à Rádio Folha, também ontem, Delúbio Soares disse que apoia o Governo Lula, mas negou interesse em participar da atual gestão. “Se for convidado, não fui e acho que não devo ser. Mas, se for (convidado), não vou participar agora. Tem que passar um tempo. Talvez em um outro governo, num governo futuro, mas esse Governo Lula foi eleito por uma base e ele tem que contemplar essa base. E a tarefa do militante político é apoiar as pessoas que estão no governo, os ministros, presidentes das estatais", concluiu.



