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"A Primavera", de Sérgio Bivar, estreia no cinema nesta quinta-feira (23); veja resenha do filme

Longa-metragem é o primeiro de Bivar e ambientado na capital pernambucana

Em meio às contradições do Recife, Jeová vive entre a poesia e o relacionamento com Maria Suzanne  Em meio às contradições do Recife, Jeová vive entre a poesia e o relacionamento com Maria Suzanne  - Foto: Divulgação

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Recife, uma cidade atravessada por rios, desejos, melancolia e poesia. Cidade onde se abraçam a decadência e a esperança, o amor e o dinheiro. Cenário e também personagem de “A Primavera”, o novo longa-metragem de Sérgio Bivar e Daniel Aragão, que entra em cartaz nesta quinta (23), no Moviemax Rosa e Silva, Zona Norte do Recife.

Jeová, o poeta
O filme, uma espécie de autorretrato poético da capital pernambucana e suas contradições, conta a história do poeta de rua Jeová (Luiz Aquino), que vê o trajeto de sua vida mudar a partir do momento em que ele conhece Maria Suzanne (Eduarda Rocha), uma garota de programa por quem se apaixona, e que uma figura misteriosa passa a pagá-lo por seus (novos) poemas.

“A Primavera” é a estreia de Sérgio Bivar - que é escritor, com dois livros publicados - como diretor, função que ele divide com Daniel Aragão. Bivar ainda assina o roteiro e a produção da obra, enquanto Aragão comanda a direção de fotografia e a montagem do longa.

Poesia delirante
Com o roteiro engavetado por 10 anos, a faísca inicial de “A Primavera” surgiu à mente de Sérgio em uma noite no Bar Central - local boêmio da cidade, que fechou suas portas em 2024 -, quando abordado por um conhecido poeta, Haroldo, que andarilhava o centro, lendo e vendendo seus poemas, xerocados em metade de um papel A4.

“O que distinguia aquele papel de um mero informe publicitário era que a entrega estava condicionada à contrapartida de alguma moeda, não somente para ajudar na sua subsistência, mas implicando também no seu reconhecimento como artista”, lembra Bivar.

No longa, Jeová - interpretado pelo estreante Luiz Aquino - é esse poeta, cuja busca por viver de sua arte esbarra em uma distopia urbana que desumaniza. Em suas andanças pelo centro do Recife ele esbarra, na Ponte de Ferro, com a garota de programa Maria Suzanne - a também estreante Eduarda Rocha.

A partir de então, uma jornada existencial se delineia entre o casal. Em paralelo, uma figura misteriosa passa a pagar regularmente pelos poemas de Jeová, cuja produção poética, agora, é alimentada e inspirada em Maria Suzanne.

Em uma narrativa poética, por vezes delirante e psicodélica, a trajetória dos personagens é atravessada por (ou atravessa) Recife, seus vários cenários, pela arte, por fantasmas e desejos, mediados aqui pelo dinheiro.

Recife cru
Bairro do Recife, Mercado da Boa Vista, Praça do Sebo, Parque de Esculturas, Pracinha do Diario. A cidade do Recife é o cenário de praticamente toda a história de “A Primavera” - apenas uma cena do filme se passa na Praça da Sé, em Olinda.

A cidade acontecendo diante das telas é registrada, uma vez que muitas cenas foram acontecendo, sem obedecer a um roteiro fechado.

“À medida que a gente ia filmando e deixando a coisa acontecer, parecia que as coisas estavam vindo no sentido do filme”, conta Bivar. Foi assim, por exemplo, na inauguração da estátua do poeta Miró da Muribeca, que entrou como cena do filme.

O poeta, inclusive, é relembrado no filme, através de seus poemas, ditos aqui por Marlon Silva e Odailta Alves.

Esse Recife que abriga a história de Jeová e Maria Suzanne reflete suas contradições de metrópole nordestina em um país terceiro-mundista, decadente, melancólica, mas, ao mesmo tempo, ainda carregando a esperança de alguma primavera despontar. 

“Da beleza da cidade, que, ao mesmo tempo em que ela está se destruindo, também tem uma resistência. Às vezes, a resistência política fica sem esperança, mas parece que a resistência poética é um lugar que dá para você se agarrar e ir mais longe”, comenta Bivar.

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