Betty Faria lembra de filme que Cacá Diegues escreveu para ela e a filha Flora
Depois da morte da caçula, cineasta abandonou projeto de 'A Dama', que uniria as duas atrizes em cena
Estrela de "Bye bye Brasil" (1979), um dos principais filmes de Cacá Diegues, que morreu nesta sexta-feira aos 84 anos, a atriz Betty Faria lembrou sobre o projeto do filme "A dama", escrito pelo cineasta para ela e a filha caçula, a também atriz Flora Diegues, morta em 2019 aos 32 anos, vítima de um câncer no cérebro.
"O melhor roteiro dele, ele escreveu para mim. Mas era uma mocinha que ligava a história. E ela era a Flora". E aí esse filme não foi feito. Mas ele me convidou para almoçar em Ipanema e me mostrou", contou Betty durante o velório do diretor na sede da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Centro do Rio, neste sábado (15).
Cacá Diegues trabalhava na produção de "A dama", um thriller político ambientado no período do regime militar brasileiro, na década de 70, após o lançamento de "Grande circo místico", do qual Flora também participou como atriz, quando a filha ficou doente.
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À época, ele havia revelado à revista Variety que pensou no projeto só com a Betty em mente e, depois que ela aceitou, começou a idealizar melhor a história.
"Meu projeto era fazer um filme com Flora e Betty Faria, chamado 'A dama', sobre duas gerações políticas tão diferentes. [Depois que ela ficou doente], não fui capaz de fazer o filme com outra atriz, joguei fora o roteiro", escreveu Cacá Diegues, num de seus textos publicados no GLOBO, em 2021.
“'Bye bye Brasil' foi uma experiência inesquecível na minha vida. O sertão, a Transamazônica. Por onde passamos, por onde andamos, o que vivemos… Só tenho que agradecer tudo de bom que ele me deu em termos de amor, confiança, prestigio. "A dama" é prova disso: ele acreditava em mim", declarou Betty.
Tragédia pessoal
Atriz de filmes como "O grande circo místico" (2017), dirigido por Cacá, e de novelas como " Além do tempo" (2015) e " Deus salve o Rei" (2018), Flora começou a carreira de atriz ainda adolescente, no filme "Tieta do Agreste" (1996), dirigido pelo pai.
No teatro, trabalhou com Domingos Oliveira, na peça "Os melhores anos de nossas vidas" (2000), e também atuou na montagem de "O Auto da Compadecida" de Leonardo Brício e Pedro Kosovski. Na televisão, ela estreou em 2014, como uma das protagonistas da série de humor “Só garotas”, exibida no Multishow.
"Flora era meu ser humano predileto, a pessoa que eu mais amava neste planeta e com quem conversava durante dias seguidos sobre arte, política, o cinema e a vida. Ela estudou cinema na PUC, mas queria mesmo era ser atriz e foi uma ótima atriz, enquanto pôde", escreveu Cacá Diegues em 2021, acrescentando que desde a morte da filha caçula, passou a viver para sempre com o "coração em frangalhos".
"Desde então, envelheci. Não que eu quisesse morrer também, nunca pensei nisso. Mas não consegui fazer mais nada, a não ser escrever, uma vez por semana, para esta coluna no GLOBO", escreveu, no mesmo texto publicado no GLOBO.
O que aconteceu com Cacá Diegues?
O diretor, produtor e escritor Cacá Diegues faleceu nesta sexta-feira aos 84 anos. Um dos fundadores do movimento do cinema novo, ele foi imortal da Academia Brasileira de Letras e assinava uma coluna no Segundo Caderno do GLOBO, publicada aos domingos.
O cineasta sofreu complicações de uma cirurgia na próstata.

