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LUTO

Carlos Ranulpho: relembre a trajetória do marchand, que morreu aos 94 anos

Pioneiro nem seu setor, o pernambucano abriu a primeira galeria de artes comercial no Recife, em 1968

Carlos Ranulpho teve biografia lançada pela CepeCarlos Ranulpho teve biografia lançada pela Cepe - Foto: Anderson Stevens / Folha de Pernambuco

Pernambuco perdeu uma das figuras que mais movimentaram o mercado de arte no Estado nas últimas cinco décadas. Na segunda-feira (15), amigos e familiares se despediram de Carlos Ranulpho, marchand pioneiro no Recife, que se tornou referência nacional e teve papel importante na consagração de diversos artistas locais. 

O galerista morreu no último domingo (14), aos 94 anos, após sofrer uma parada cardíaca no Hospital Memorial São José, no bairro do Derby, Centro do Recife, onde estava internado desde o dia 27 de março, com um quadro de infecção. O sepultamento ocorreu no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife. 

O empresário nasceu em 28 de abril de 1929, em uma casa na Rua da Praia, região central da Capital pernambucana. Seu gosto pela arte veio de berço. Afinal, era filho de Maria José das Neves e J. Ranulpho, um desenhista que ganhava a vida desenhando caricaturas para jornais e anúncios publicitários. 
 

Com o pai aposentado por invalidez, após contrair tuberculose, Carlos precisou começar a trabalhar ainda aos 15 anos, para sustentar a família. Passou a vender produtos de porta em porta, como prestamista. Depois, foi joalheiro e chegou a abrir uma loja de decoração. Essa trajetória é descrita com riqueza de detalhes na biografia “Carlos Ranulpho: O Mercado da Beleza”, escrita pelo jornalista Marcelo Pereira e lançada em 2018, pela editora Cepe.

“Perdemos o nosso pai quando eu tinha 8 anos de idade e Ranulpho assumiu a casa, ainda iniciando a vida e a carreira. Com muito esforço, sustentou a mãe e os dois irmãos, sem deixar faltar nada. Deixou um legado de boas obras aqui na terra”, relembra Cássio Albuquerque, irmão mais novo do galerista. 

Ranulpho abraçou o comércio da arte a partir do encontro com o cearense Aldemir Martins.  Após desenhar algumas jóias a pedido do pernambucano, o artista sugeriu que ele realizasse uma mostra mais ampla, incluindo também suas pinturas. Assim, no dia 19 de julho de 1968, o marchand organizou sua primeira exposição, com a ajuda da esposa, Maria Dulce, em sua galeria de jóias, na Rua da Aurora. Mesmo sem divulgação, o evento chamou a atenção do público na época. Com isso, nascia a primeira galeria comercial de arte no Recife. 

Nomes de peso das artes visuais, como Cícero Dias, Wellington Virgolino, Vicente do Rego Monteiro, José Cláudio e Reynaldo Fonseca, tiveram obras avaliadas e comercializadas pelo marchand. O reconhecimento nacional fez o empresário abrir, em 1977, uma filial de sua galeria de arte nos Jardins, região nobre de São Paulo. No Recife, a Galeria Ranulpho passou pelos bairros da Boa Vista, Boa Viagem e, desde 2001, tem seu endereço na Rua do Bom Jesus.

Marinês Oliveira foi assessora pessoal de Ranulpho por 29 anos. Para ela, a convivência com o patrão durante todo esse tempo foi de constante aprendizado. “Ele vivia ensinando. Muitos artistas passaram pelas mãos dele. Nomes que ele fez crescer. Era um marchand sério, honesto e dedicado à arte, que era tudo o que ele amava fazer”, afirma a funcionária. 

Ranulpho partiu deixando três netas. Seu único filho, o advogado Filipe Carlos Albuquerque, faleceu em 2015. Segundo Rafaela Albuquerque, uma das netas, o futuro da Galeria Ranulpho e do legado de seu avô ainda será discutido pela família. 

“Neste primeiro momento, a gente vai parar um pouco para sentir esse luto e a falta que ele faz como avô. Depois, vamos começar a pensar nisso, porque é um nome que realmente marcou o mercado de arte em Pernambuco e no Brasil. Em conjunto, vamos resolver como dar continuidade a isso”, aponta. 

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