''Conclave'': como o filme oferece um vislumbre do processo sigiloso de escolha de um papa
A produção foi 'bastante precisa, exceto em algumas coisas', segundo Kurt Martens, professor de direito canônico na Universidade Católica da América
Nos próximos dias, cardeais com menos de 80 anos se reunirão no Vaticano para eleger o sucessor do Papa Francisco.
O processo, envolto em segredo, ocorre poucos meses após uma eleição papal ficcional ganhar tratamento hollywoodiano no drama ''Conclave'', de Edward Berger. O título do filme vem da conferência secreta em que cardeais da Igreja Católica escolhem o próximo líder da instituição.
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Com uma bilheteria global de US$ 115 milhões, o filme oferece um raro vislumbre de um processo que, na vida real, ocorre sob rigorosas medidas de segurança para garantir a confidencialidade. A produção foi “bastante precisa, exceto em algumas coisas”, segundo Kurt Martens, professor de direito canônico na Universidade Católica da América.
''Conclave'' foi amplamente celebrado e conquistou os principais prêmios do sindicado dos roteiristas dos Estados Unidos, da academia de cinema do Reino Unido e o Oscar de melhor roteiro adaptado.
A seguir, confira o que acontece no filme (atenção: pequenos spoilers) — e o que especialistas em assuntos papais afirmam ser verídico.
Sobre o que é o filme ''Conclave''?
O filme começa com a morte de um pontífice fictício e segue o processo dramático de uma eleição papel.
Ralph Fiennes interpreta o cardeal Thomas Lawrence, decano do Colégio de Cardeais. Os personagens de Stanley Tucci, John Lithgow, Lucian Msamati e Sergio Castellitto aparecem como candidatos de peso ao papado.
O longa acompanha os cardeais ao longo de diversas sessões de votação, refeições em um refeitório comum e nos aposentos do palácio papal onde ficam reclusos.
Embora muitos especialistas tenham elogiado o filme como uma das representações mais fiéis de um conclave, Piotr Kosicki, professor associado de história na Universidade de Maryland, faz uma ressalva: “em certo nível, pouquíssimas pessoas fora do Colégio de Cardeais podem realmente falar com propriedade sobre o que acontece a portas fechadas”.
Que rituais e processos de votação são mostrados?
Muitos dos rituais retratados — as orações, a queima das cédulas, uma agulha costurando os votos — são “mais ou menos corretos”, segundo Kosicki.
Durante a votação, cada cardeal escreve o nome de um candidato em uma cédula retangular. Os votos são lidos em voz alta, um por um, e cada cédula é perfurada por uma agulha antes de ser queimada. Se não houver um consenso de dois terços, a fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina é preta.
São permitidas quatro rodadas de votação por dia. Quando um papa é escolhido por maioria de dois terços, a fumaça que sai da chaminé torna-se branca.
No filme, alguns rituais são realizados em inglês e espanhol. Na realidade, “as orações no Vaticano são em italiano ou latim, ponto final”, afirma Kosicki.
A política nos bastidores é realmente tão feroz?
Embora seja difícil afirmar com precisão o que se passa dentro de um conclave, a eleição de um papa se assemelha à escolha de um chefe de Estado, explica Massimo Faggioli, professor de história na Universidade de Villanova.
As articulações ganham força logo após a morte do papa, durante o período que é chamado de ''sede vacante''. Alguns cardeais concedem entrevistas à imprensa para ganhar visibilidade ou impulsionar aliados. Há encontros formais e informais, e também congregações gerais, em que todos os cardeais discutem o estado da Igreja e possíveis sucessores.
''Desta vez, acho que será um conclave aberto, ou seja, sem um sucessor natural ou um cardeal que seja claramente o favorito'', diz Faggioli.
É comum haver várias rodadas sem uma decisão?
A palavra conclave deriva dos termos latinos “com” (juntos) e “clavis” (chave), e o processo foi instituído na Alta Idade Média para garantir a escolha rápida de um novo papa. Os cardeais fazem um juramento de sigilo e não podem deixar a área do conclave até que o novo papa seja eleito — salvo raríssimas exceções.
No filme, o papa é escolhido ao longo de três dias e sete votações dramáticas. Nos últimos dois séculos, porém, os conclaves não costumam durar mais do que quatro dias, afirma Faggioli. O Papa Bento XVI foi eleito em dois dias, em 2005 — o mesmo aconteceu com o Papa Francisco, em 2013.
''Todos preferem quando o processo é rápido, porque simboliza unidade'', comenta Kosicki. ''E envia uma mensagem forte ao mundo exterior — aos 1,4 bilhão de católicos''.
Confira o trailer:

