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Crítica: 'Cafarnaum' é retrato doloroso das mazelas humanas

Dirigido pela cineasta libanesa Nadine Labaki, 'Cafarnaum' está na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro e já foi premiado no Festival de Cannes de 2018

"Cafarnaum""Cafarnaum" - Foto: Divulgação

Vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2018 e indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, "Cafarnaum" é o tipo de obra que as premiações costumam amar. O longa-metragem, que entra em cartaz nas salas de cinema da Fundação Joaquim Nabuco, a partir desta quinta-feira (14), traz a comovente história de uma criança desamparada em meio a um contexto de extrema pobreza. Apesar da temática propícia a isso, a cineasta libanesa Nadine Labaki não cai na armadilha do sentimentalismo barato, oferecendo ao público mais do que uma enxurrada de lágrimas após a sessão.

O filme é centrado na trajetória do pequeno Zain, de apenas 12 anos, mas já com responsabilidades de adultos. Além de trabalhar o dia todo em uma mercearia, é ele quem cuida dos vários irmãos menores no cortiço onde vive com os pais. O menino é apresentado ao espectador no ambiente de um tribunal. Preso e condenado por ter esfaqueado um homem, ele resolve processar seus genitores por tê-lo colocado no mundo. O julgamento é entrecortado por flashbacks, que reconstroem a dura saga do personagem e explicam como ele chegou naquela situação.

Nadine Labaki percorre caminhos estéticos muito diferentes do que os dos seus trabalhos anteriores, "Caramelo" (2007) e "E agora, onde vamos?" (2012), que traziam críticas sociais pelo viés da comédia. Neste novo longa, embora pincele momentos de poesia, a diretora não alivia na exposição da miséria humana, em situações capazes de chocar até os mais insensíveis. Ela "coloca o dedo na ferida" de alguns dos maiores problemas do mundo, mas sem a pretensão de mostrar soluções fáceis ou apontar culpados. Em vez de retratar os pais de Zain como monstros sem coração, por exemplo, a trama tenta caracterizá-los como frutos de um contexto social e cultural perverso, que também os torna vítimas.

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Quando a irmã mais nova de Zain é forçada a se casar com um homem mais velho, ele foge de casa e passa a viver nas ruas. É assim que ele passa a cuidar do filho pequeno de uma imigrante ilegal da Etiópia em troca de comida e abrigo. Neste momento, o filme passa a falar também do drama de milhares de refugiados. Essas histórias se cruzam em meio à desordenada Beirute, capital do Líbano, cujo caos social inspira o título da produção. No dicionário, Cafarnaum significa "lugar em que há tumulto ou desordem".

Um dos trunfos da diretora (que também atua no longa, no papel de uma advogada) é o seu protagonista. Em sua estreia no cinema, o pequeno ator sírio Zain Al Rafeea demonstra talento de "gente grande" na tela. É o seu carisma e a capacidade de imprimir grandes emoções em cena que seguram o público. Em meio às injustiças e dificuldades, seu personagem tem reações intempestivas e extremadas. O ator consegue representar tudo isso da maneira mais natural possível, como se um documentário estivesse diante dos nossos olhos.

Cotação
Ótimo


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