'Curral', de Marcelo Brennand, é retrato da política brasileira
Gravado em Gravatá, filme traz Thomás Aquino e Rodrigo García no elenco
Primeiro longa-metragem de ficção do pernambucano Marcelo Brennand, “Curral” chega nesta quinta-feira (11) às salas de cinema de todo o Brasil. Rodado na cidade de Gravatá, no Agreste de Pernambuco, o filme forma um retrato do que há de pior no sistema político brasileiro a partir dos bastidores de uma eleição municipal.
Na trama, os eleitores se dividem entre o Azul e o Vermelho, cores que representam os partidos políticos que tradicionalmente comandam a cidade. Em meio a uma seca que afeta a população menos abastada, a água é o alvo das promessas de candidatos sedentos por poder.
É nesse cenário de disputas que o público encontra Chico Caixa (Thomás Aquino), protagonista do longa. Motorista do caminhão-pipa que abastece a zona rural e a periferia do município, o homem simples detém a confiança de boa parte dos moradores. Essa influência faz com ele seja convidado a trabalhar como cabo eleitoral de uma amigo de infância, que resolve se candidatar a vereador.
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O ator Rodrigo García interpreta Joel, jovem advogado com aspirações políticas, que usa e abusa do protagonista para conquistar votos. “Ele simboliza o político que chega com o discurso ilusório de que será algo novo, mas obviamente não consegue ser muito diferente daquilo que já conhecemos”, pontua o ator.
Quanto mais se aprofunda na campanha do amigo, mais Chico Caixa se vê diante de um dilema ético. Seus valores são testados em um contexto dominado pela corrupção e pela exploração. Para Rodrigo, a relação entre o candidato e seu cabo eleitoral revela questões da estrutura social brasileira. “Existe na vivência desses personagens um racismo velado. Vemos um homem branco que se mantém num lugar muito confortável, enquanto o negro fica com o trabalho braçal”, aponta.
Antes de “Curral”, Marcelo Brennand havia dirigido o premiado documentário “Porta a Porta” (2011). O filme, que acompanhava a batalha real por votos em Gravatá, acabou servindo de inspiração para um roteiro ficcional. Em 2018, o diretor retornou a cidade para filmar o novo longa e acabou utilizando moradores locais para contracenar com os atores em alguns momentos.
“Acho que Marcelo teve uma inteligência muito grande nas suas escolhas. Eu não conseguia atuar de maneira falsa olhando para aquelas pessoas, que sofrem de verdade e há anos ouvem promessas vazias. Isso tem tudo a ver com a proposta hiper-realista do filme”, afirma. Também integram o elenco os atores Carla Salle, José Dumont, Thardelly Lima, Giordano Castro, Pedro Wagner, Clébia Sousa e Fernando Teixeira.

