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MÚSICA

Don L reinventa o rap e o Brasil em "CARO Vapor II - qual forma de pagamento?"

Novo álbum do rapper cearense chama a atenção pelo diálogo com o Sul global e as riquezas culturais do nosso Brasil

Don LDon L - Foto: Bel Gandolfo/Divulgação

Diretamente da América Latina, Sul global… mais especificamente do Brasil, o “último bom malandro” volta a dar o seu recado. Após quatro anos do elogiado “Roteiro pra Aïnouz (Vol. 2)”, o rapper Don L lançou, em junho, o álbum “CARO Vapor II - qual forma de pagamento?”, seu projeto mais ambicioso.

Neste novo trabalho, Don L – recentemente confirmado no line up do festival No Ar Coquetel Molotov – propõe uma nova estética para o rap brasileiro, relendo a própria trajetória cultural e social do Brasil, e reflete sobre os custos de viver, sonhar e construir seus sonhos em meio a um cenário social historicamente adverso.

“CARO Vapor II” tem produção de Don L, com Iuri Rio Branco e Nave, e contou com diversas colaborações, entre elas, Giovani Cidreira, Alice Caymmi, Anelis Assumpção , Luiza de Alexandre, MC Dricka e Terra Preta.

“CARO Vapor II”
Este novo álbum é uma continuação da estreia fonográfica solo de Don L, a mixtape “Caro Vapor/Vida e Veneno de Don L” (2013). À época, recém-egresso do grupo Costa a Costa e tentando levar a vida artística em São Paulo (SP), agora, ele atualiza as questões que urgiam em seu primeiro trabalho.

Em “CARO Vapor II”, Don L projeta utopias em meio à distopia que marca a história brasileira. Ele traz à baila questões como o capitalismo tardio, identidade e pertencimento, as ilusões de sucesso e felicidade propagadas pelas redes sociais, assim como exalta o Sul global e a potência do que é feito aqui, indo de encontro a referências coloniais e imperialistas.

“A distopia brasileira começa com a invasão colonial. Ali foi o fim do mundo para vários povos. Um fim de mundo que prenuncia o que a gente tá vivendo agora, 500 anos depois”, reflete Don L sobre o Brasil que, em “CARO Vapor II”, ele tenta reinventar, não só poeticamente, nas letras, mas, também, esteticamente.

Anti-imperialismo
“CARO Vapor II” é um disco de profunda coesão entre seu discurso e a forma de execução. Em sua busca por uma nova formatação do rap, ele foi em busca das riquezas culturais nacionais, que entram no disco através de samplers ou de referências. 

No lugar das batidas do hip hop, ele lança mão de gêneros/ritmos como o baião, o samba, a bossa nova para criar os beats que embalam “CARO Vapor II”.

Ele explica que, no rap estadunidense, “os caras pegaram a música negra norte-americana, samplearam ela, pegaram as batidas, colocaram numa bateria eletrônica, transformaram em outra coisa. Releram o que os grandes deles tinham feito nos anos 1950, 60, 70. Eu não queria usar o que eles fizeram, porque isso já se tornou deles, eu queria usar o método. Sampleei batidas, como uma batida de baião, como em 'Para Kendrick e Kanye', só que usando uma drum machine, usando o método”.

No álbum, sampleados ou reinterpretados, ouvimos ecos do Clube da Esquina, atualizando “Para Lennon e McCartney”; Ednardo, Rodger Rogério e O Pessoal do Ceará; Itamar Assumpção; Dorival Caymmi e diversas referências que nutrem Don L de farto material para alçar o Brasil a um lugar em que é possível – apesar das adversidades – sonhar e viver com orgulho.

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