Entenda por que no Oscar 2025 todas as indicadas têm chance de levar o prêmio de Melhor Atriz
Indicadas ao troféu são Fernanda Torres, Demi Moore, Karla Sophia Gascón, Cynthia Erivo e Mikey Madison e cada uma tem um trunfo a seu favor
As indicações ao Oscar anunciadas na semana passada trouxeram uma estatística marcante: pela primeira vez desde 1978, todas as cinco indicadas a melhor atriz participam de longas metragem também indicados a melhor filme.
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Existem algumas maneiras de avaliar essa estatística. Uma delas é que o recente esforço para diversificar a Academia de fato rendeu dividendos: por muito tempo, filmes liderados por mulheres simplesmente não recebiam o mesmo peso que os estrelados por homens.
Agora que mais mulheres se tornaram eleitoras do Oscar e o prêmio principal se expandiu para além de cinco indicados, os tipos de filmes que são considerados os mais importantes do ano também mudaram.
Essa é uma abordagem intelectual do fato. Mas quem simplesmente gosta de suspense na disputa pelo Oscar, pode ver na estatística uma prova de que esta é a escalação mais forte para o prêmio de melhor atriz em anos.
Qualquer uma das cinco indicadas pode vencer e, abaixo, listamos os motivos.
Cynthia Erivo, "Wicked"
A atriz Cynthia Erivo. Foto: Neilson Barnard/ Getty Images North America/ Getty Images via AFP
Entre os eleitores do Oscar, o respeito tende a aumentar com o tempo, e Cynthia Erivo, de 38 anos, vem provando enfaticamente que não é um sucesso efêmero.
A única concorrente nesta categoria a estrelar um blockbuster genuíno, ela também é a única que já foi indicada ao Oscar antes, por atriz e canção original na cinebiografia “Harriet” (2019).
Ainda assim, será que a Academia prefere esperar um pouco mais para premiá-la? Ao passar da Broadway para a tela grande, “Wicked” foi dividido em duas partes, e o arco da bruxa não tão perversa de Erivo só ficará completo na sequência, “Wicked: For Good”, que chega aos cinemas em novembro.
Embora Erivo deixe os espectadores em êxtase ao cantar “Defying Gravity” no final da Parte 1, ainda há a sensação incômoda de que, quando termina, ela está apenas começando.
Para realmente competir, ela precisará vencer em uma das duas cerimônias mais favoráveis que terá pela frente.
Uma vitória no SAG Awards (o prêmio do Sindicato dos Atores, em 23 de fevereiro) pode ser a mais plausível, já que os eleitores ficaram tão entusiasmados com “Wicked” que até indicaram seu colega de elenco Jonathan Bailey como ator coadjuvante.
Mas Erivo também pode pontuar no BAFTA, o equivalente britânico do Oscar. Nesse caso, ela tem a vantagem de jogar em casa.
Karla Sofía Gascón, "Emilia Pérez"
A atriz Karla Sofía Gascón. Foto: Reprodução/Redes Sociais
Se “Emilia Pérez” é o favorito do ano para melhor filme, então Karla Sofía Gascón, de 52 anos, é puro ouro.
Os dois últimos vencedores de melhor filme, “Oppenheimer” e “Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo”, também levaram Oscars de atuação principal, e com 13 indicações, vale considerar “Emilia Pérez” o favorito para o prêmio principal do Oscar.
Ainda assim, essa não é o único fator que impulsiona Gascón, indicada por interpretar uma chefe de cartel mexicana que faz a transição em segredo.
Ela é a primeira atriz abertamente trans a ser indicada ao Oscar, e os membros liberais da academia podem ver seu voto em Gascón como uma rejeição ao presidente Donald Trump, que prometeu reverter as proteções para pessoas transgênero.
A colega de elenco de Gascón, Zoe Saldaña, também está em uma posição forte nesta temporada: ela já ganhou um Globo de Ouro de atriz coadjuvante, e se os eleitores estão dispostos a dar a “Emilia Pérez” apenas um troféu de atuação, Saldaña provavelmente tem uma chance melhor.
Mas por que eles se conteriam agora? Os membros da Academia indicaram seu amor por “Emilia Pérez” em várias categorias, e essa enorme quantidade de indicações pode ser o prenúncio de uma contagem igualmente generosa de vitórias que inclui Gascón como personagem-título de seu filme favorito.
Mikey Madison, "Anora"
A atriz Mikey Madison. Foto: Reprodução/Redes Sociais
Nas duas décadas antes da academia diversificar seus eleitores, a disputa pela melhor atriz era considerada um jogo de mulheres mais jovens.
O Oscar geralmente ia para rostos novos, como Jennifer Lawrence (“O lado bom da vida”), Emma Stone (“La La Land”) e Brie Larson (“O quarto de Jack”), já que os eleitores do Oscar, que eram principalmente homens mais velhos, estavam mais inclinados a recompensar uma jovem ingênua em vez de uma mulher da sua idade.
Se ainda vivêssemos naquela época, a favorita para melhor atriz certamente seria Madison. Em “Anora”, a atriz de 25 anos interpreta uma dançarina exótica cortejada por um herdeiro russo vulgar.
Ela tem um papel de destaque, com sotaque impetuoso, grandes batidas cômicas e um final emocionante. Em outras palavras, é o tipo de desempenho ao qual os eleitores do Oscar normalmente adoram dar seu selo de aprovação.
Mas os tempos mudaram, e a Academia também. À medida que mais mulheres foram convidadas para se tornarem eleitoras do Oscar, a idade média da premiada como melhor atriz aumentou, e quase todas as vencedoras recentes tinham mais de 40 anos.
Se for uma candidata experiente que os eleitores estão procurando, esta corrida oferece melhores opções do que Madison; ainda assim, acho que a velha guarda ficará apaixonada o suficiente para mantê-la competitiva.
Demi Moore, "A substância"
A atriz Demi Moore. Foto: Robin Beck/AFP
Quando se trata do prêmio de melhor atriz, nada ajuda mais do que uma boa narrativa. Dois anos atrás, a categoria viu um dos confrontos mais formidáveis de sua história, quando Cate Blanchett (“Tár”) enfrentou Michelle Yeoh (“Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo”).
As duas ganharam prêmios importantes durante a temporada mas, no final das contas, a narrativa de Yeoh ajudou a colocá-la no topo: sua vitória no Oscar foi histórica e emocionante de uma forma que um troféu para Blanchett, já vencedora duas vezes, simplesmente não teria sido.
Este ano, nenhuma candidata a melhor atriz ostenta uma narrativa melhor do que Moore, de 62 anos, que usou seu discurso de no Globo de Ouro para sinalizar exatamente o que uma vitória no Oscar pode significar para ela.
“Esta é a primeira vez que ganho algo como atriz”, disse ela, ao se lembrar de ser descartada como uma “atriz pipoca” que nunca seria considerada um talento sério. Essas críticas se tornaram tão constantes e perniciosas que, eventualmente, ela disse, até começou a acreditar nelas.
Essa narrativa se encaixa perfeitamente com o enredo de "A substância", que traz Moore como uma estrela de cinema em declínio que perde seu emprego como apresentadora de um programa de exercícios quando os executivos a descartam como ultrapassada.
Os colegas de Moore serão capazes de se relacionar com esse medo e ela tem um clipe matador para o Oscar, no qual borra sua maquiagem em um ataque de ódio a si mesma enquanto todas as inseguranças de sua personagem vêm à tona.
Embora protagonistas femininas em filmes de terror tenham vencido antes, como Natalie Portman ("Cisne Negro") e Jodie Foster ("O Silêncio dos Inocentes"), esses filmes não atingiram os altos níveis de terror corporal exagerados de "A substância", que cobre a lente com jorros de sangue em seu clímax.
Ainda assim, todo esse sangue não pareceu perturbar os eleitores do Oscar, que também indicaram o longa-metragem para melhor diretor, filme e roteiro. Ainda falta mais de um mês, mas agora, Moore é a favorita.
Fernanda Torres, "Ainda estou aqui"
A atriz Fernanda Torres. Foto: Julie Sebadelha/AFP
Quem acordou cedo para assistir ao anúncio das indicações ao Oscar no YouTube, ficou impressionado como o chat ao vivo era dominado por brasileiros enviando emojis da bandeira de seu país.
O fato de Fernanda Torres, de 59 anos, ter entrado na lista de melhor atriz é um ponto de orgulho nacional significativo, pois ela é a primeira brasileira a ser reconhecida nesta categoria desde que sua mãe, Fernanda Montenegro, foi indicada por “Central do Brasil”, em 1998.
A campanha de premiação de Montenegro foi coordenada por Michael Barker e Tom Bernard da Sony Pictures Classics, que também conduziram a ascensão lenta, mas constante, de Torres quase três décadas depois.
Embora a Sony Pictures Classics não domine a temporada de premiações da mesma forma que um ativista endinheirado como a Netflix, nenhum estúdio é melhor em persuadir pacientemente os eleitores mais velhos a conferir um pequeno drama de prestígio.
Foi assim que a marca especializada conseguiu vitórias inesperadas como Anthony Hopkins ("Meu Pai") derrotando Chadwick Boseman ("A voz suprema do blues") para o Oscar de melhor ator quatro anos atrás, ou a própria Fernanda Torres superando concorrentes como Nicole Kidman e Angelina Jolie no Globo de Ouro.
E é por isso que, embora a candidatura de Demi Moore ao Oscar tenha bastante força, não se pode descartar Fernanda Torres como Eunice Paiva, uma ativista que tenta manter sua família unida depois que seu marido dissidente desaparece em meio a ditadura militar do Brasil.
Torres entrega uma performance muito mais tradicionalmente favorável ao Oscar do que Moore.
Ainda assim, a maior vantagem para ela é que seu filme é o mais fresco na corrida. Muitos eleitores ainda não tinham visto "Ainda estou aqui", mas certamente vão assistir agora que seus colegas membros da Academia o colocaram na disputa em três categorias principais, incluindo melhor filme e melhor longa-metragem internacional.
Muitas vezes, vale a pena ser o último que os eleitores assistem, e com Torres tão bem posicionada durante a etapa final desta disputa, o prêmio de melhor atriz ainda está em aberto.