Sex, 05 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
CINEMA

Documentário "Eros" mostra a intimidade dos motéis brasileiros a partir de seus frequentadores

Diretora Rachel Daisy Ellis pediu para que pessoas filmassem suas experiências em quartos de móteis

"Eros" está em cartaz no Cinema da Fundação"Eros" está em cartaz no Cinema da Fundação - Foto: Divulgação

“Eros”, primeiro longa-metragem de Rachel Daisy Ellis, nasceu do interesse da britânica por uma particularidade brasileira: os motéis. Ao chegar ao Brasil, há 22 anos, a diretora diz ter ficado “impressionada” com as características que esse tipo de hospedagem ganhou por aqui, o que a motivou a pensar em um documentário anos depois. 

“Era algo que eu não conhecia e que é muito normal para todo mundo que foi criado no Brasil. É uma instituição que faz parte do tecido social, mas ao mesmo tempo parece haver um certo tabu. Todo mundo vai, mas ninguém fala sobre”, contou a diretora, à Folha de Pernambuco. 

Após alimentar essa curiosidade durante anos, Rachel decidiu transformá-la em obra cinematográfica. Impulsionada pelas experiências de um novo momento em sua vida pessoal, ela teve a ideia que faz de seu filme um projeto ainda mais original e ousado: pedir para pessoas reais filmarem seus momentos de intimidade em suítes de motéis. 
 

“Foi um ‘clique’ para entender que isso seria uma maneira de conseguir acessar a intimidade das pessoas e começar a abrir uma conversa sobre o sexo, o amor e as relações, a partir dessas quatro paredes”, disse. 

A cineasta fez o convite a frequentadores de diferentes partes do Brasil. São pessoas com perfis completamente diversos: casais homoafetivos, um homem sozinho, pessoas mais velhas e até mesmo um casal evangélico.

“Entendi que o que eu não queria de jeito nenhum era fazer um filme que reforçasse os estereótipos do que é o motel e também da própria sexualidade. Minhas escolhas no filme seguiram a vontade de mostrar que a maneira como a gente vive a nossa sexualidade é muito diversa e surpreendente. O que acontece nessas suítes subverte certos conceitos sociais que existem”, analisou.

Ao pedir para as pessoas se filmarem, Rachel estabeleceu poucas regras, na tentativa de criar parâmetros para todas as imagens: filmar apenas uma noite, usando o próprio celular e com a câmera na posição horizontal. “Eu queria me ausentar ao máximo, porque era exatamente o autoregistro que me interessava”, apontou.

Em “Eros”, as vivências nos quartos dos motéis oferecem mais do que alimento para o voyeurismo alheio. Entre espelhos e luz néon, os personagens se desnudam diante da câmera - de forma literal e também simbólica. 

“No início, me surpreendeu o quanto as pessoas estavam dispostas a se expor. Não pedi sexo explícito, mas muitos se sentiram confortáveis em me mandar. Ao mesmo tempo, esse material não parecia com um simples pornô caseiro. A forma como conduzimos a pesquisa gerou outro envolvimento, fazendo com que as pessoas sentissem também o desejo de falar sobre suas vidas diante das câmeras”, afirmou. 

Rachel tem uma forte ligação com o cinema pernambucano, tendo produzido cinco longas e um curta-metragem do diretor Gabriel Mascaro. Antes de “Eros”, a cineasta dirigiu o curta “Mini Miss”, que estreou em 2018. Seu primeiro longa foi contemplado pelo edital da Lei Paulo Gustavo (LPG) do Recife e, após estreia em pleno Dia dos Namorados, segue em cartaz no Cinema da Fundação e no Cinema São Luiz. 


 

Veja também

Newsletter