"Extintos, jamais esquecidos": dinossauros despertam fascínio nos cinemas, brinquedos e parques
"Toda criança tem a sua fase de dinossauros", destaca CEO de parque temático em Miguel Pereira, no Centro-Sul do Rio de Janeiro
“Dinossauro não prescreve.” Este é o lema que o empresário Marcio Clare, de 53 anos, se ateve na hora de investir na construção do parque Terra dos Dinos, em Miguel Pereira, Rio de Janeiro. Inaugurada em 2022, a atração no Centro-Sul fluminense já recebeu mais de 600 mil visitantes.
Extintos há cerca de 66 milhões de anos, os animais pré-históricos seguem muito vivos na imaginação das pessoas e na sociedade de consumo. Hoje, chega aos cinemas “Jurassic World: Recomeço”, dirigido por Gareth Edwards e estrelado por Scarlett Johansson, Jonathan Bailey e Mahershala Ali. O filme é o sétimo da franquia iniciada com “Jurassic Park — O parque dos dinossauros” (1993).
Desde então, o clássico de Steven Spielberg foi seguido por “O mundo perdido — Jurassic Park” (1997), “Jurassic Park 3” (2001),”Jurassic World: O mundo dos dinossauros” (2015), “Jurassic World : Reino ameaçado” (2018). “Jurassic Wolrd: Domínio” (2022) e, agora, “Recomeço”. Somados, os longas arrecadaram aproximadamente US$ 6 bilhões nas bilheterias mundiais.
— Uma das minhas primeiras lembranças de cinema foi ver o primeiro “Jurassic Park” quando tinha 10 anos. Fiquei completamente impressionada. Os efeitos especiais eram diferentes de tudo que já tinha visto, os dinossauros eram extraordinários, pareciam tão reais. Essa experiência ficou comigo por toda vida — lembra Scarlett Johansson, de 40 anos, em depoimento encaminhando ao GLOBO. — Quando soube que iriam fazer outro filme, liguei para minha equipe e disse: “estou disponível”.
O primeiro “Jurassic Park” também é descrito como um divisor de águas pelo analista de sistemas Celso Meireles, de 47 anos. Apaixonado por dinossauros desde a infância, ele conta que não era fácil ser fã dos animais nos tempos pré-internet.
— Tudo que tivesse dinossauro me interessava, mas era muito difícil achar qualquer coisa. Meu pai tinha que procurar livros e revistas. A primeira vez que vi um dinossauro se movimentando foi em um Globo Repórter, em 1985, que usava cenas de um documentário americano com os dinossauros animados em stop-motion.
Foram imagens que não saíram da minha cabeça — diz Meireles, pai de uma menina de 12 anos e um menino de 8. — Eu tive a minha fase de dinossauros meio isolada, mas acho que quase toda criança tem sua fase. Não sei se foi por vontade deles ou influência minha, meus filhos tiveram brinquedos de dinossauros e minha filha teve até um aniversário temático.
Meireles lembra as animações “Dinosaucers” e “Dino-riders”, exibidas nas manhãs da Globo no final dos anos 1980 como outros marcos na relação com dinossauros. Na década seguinte surgiria outro fenômeno televisivo, a série “Família Dinossauro” (1991). A produção que acompanhava o dia a dia de Dino da Silva Sauro e sua família também encantou o diretor Marco Dutra, de 45 anos, conhecido pelo trabalho nos filmes “Trabalhar cansa” (2011) e “As boas maneiras” (2017), que até hoje é apaixonado pela série. Sua relação com dinossauros, no entanto, nasceu de um produto nacional.
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— A minha primeira relação com dinossauros foi através do Horácio, do Mauricio de Sousa. Até hoje é meu personagem favorito dele. Lembro que meus colegas na escola achavam ele chato, porque era um Tiranossauro Rex meio filósofo e meigo, mas eu nunca achei chato — defende Dutra. — São bichos gigantes, extintos, as pessoas cavam os ossos, existe um mistério da existência dos dinossauros que nos comove. Com o tempo eu fui entendendo que minha obsessão por dinossauros era meio filosófica e não como um brinquedo. Nunca os vi como monstros.
Estudo publicado em 2008 pelas universidades de Indiana e Wisconsin, nos Estados Unidos, destacou que o interesse de crianças, entre 4 e 6 anos, em dinossauros ajuda no desenvolvimento de habilidades cognitivas e proporciona um desempenho pedagógico superior.
O paleontólogo e pesquisador Esaú Victor de Araújo, de 26 anos, doutorando em Zoologia no Museu Nacional/UFRJ, lembra que os dinossauros sempre estiveram presentes em sua vida, desde a infância, através de filmes como “Em busca do vale encantado” (1988) e “Dinossauro” (2000), além de vários brinquedos.
Apesar do grande interesse, ele conta que nunca imaginou trabalhar com isso, por não saber que era uma área viável de atuação no Brasil. Ao ingressar no curso de Biologia da Universidade Federal de Pernambuco, conheceu a professora Juliana Sayão, referência em paleontologia no Brasil, e acabou seguindo este rumo.
— Vejo essa popularidade da paleontologia através dos filmes e dos dinossauros como algo muito positivo. A paleontologia acaba sendo uma porta de entrada ainda na infância para este universo da ciência, o que é muito importante para o desenvolvimento da vida da pessoa. Os dinossauros acabam sendo grandes aliados para a atração do público para a ciência — destaca Araújo.
Além da presença em filmes e séries, os dinossauros são fenômenos de consumo das mais diversas formas. O colecionador Patrick Król Padilha lembra que seu primeiro contato com dinossauros foi através dos cards de figurinhas que vinham no clássico Chocolate Surpresa, da Nestlé. Antes mesmo de aprender a ler, ele colecionou o álbum da promoção e se interessou muito pelas características dos animais. Aos poucos, o interesse se tornou uma obsessão. Acompanhou séries, filmes, coleções de revistas, maquetes e bonecos até construir uma coleção de respeito. Incentivado por um primo, começou a compartilhar fotos da coleção no Orkut.
Em 2007, Padilha criou um blog onde postava conteúdos sobre dinossauros. Na sequência, criou o canal no YouTube “Eu coleciono dinossauros”, com 200 mil inscritos. Com o tempo passou a importar itens de dinossauros para a coleção própria, mas logo notou o interesse de colegas de hobby. Foi quando decidiu deixar o curso de ciências biológicas para se dedicar ao canal e às vendas a partir da loja especializada Dinoloja.
— O que era hobby passou a ser também minha profissão. Consegui criar muitas conexões na comunidade de dino fanáticos e colecionadores no decorrer dos anos, fiz diversos amigos e sigo ano após ano colaborando para aumentar as coleções jurássicas Brasil afora — conta Padilha. — Meus clientes da loja e inscritos do canal são das mais variadas faixas etárias, tem criança claro, mas colecionadores também dos mais jovens até os mais velhos, tanto homens como mulheres. É gratificante ver o hobby e o interesse por dinossauros crescendo no Brasil, o que se reflete também num interesse pela profissão da paleontologia.
Pelo Brasil, instituições como o Museu Nacional, no Rio, o Museu de Zoologia da USP, em São Paulo, e inúmeros museus de ciências e histórias naturais espalhados pelo país, ajudam a fomentar o imaginário sobre os dinossauros. Além de instituições técnicas, Marcio Clare, CEO da Terra dos Dinos, explica que, hoje, existem 45 parques temáticos de dinossauros em diversos estados brasileiros. O grupo que comanda, inclusive, está em expansão.
Escreva a legenda aquiApós o parque original em Miguel Pereira, no Rio, está trabalhando na inauguração de outras três unidades, em Guarapari, no Espírito Santo, em João Pessoa, na Paraíba, e em Campos do Jordão, em São Paulo. Na Serra Gaúcha, entre Canela e Gramado, o parque Vale dos Dinossauros também possui inúmeras atrações para os fãs dos animais. O grupo também possui unidade em Foz do Iguaçu, no Paraná. Já produtora Marlene Mattos tem planos para construir um parque temático e um resort num terreno perto da Lagoa de Araruama, em Iguaba Grande.
Neste momento, acontece na Cidade das Artes, na Barra, Zona Oeste carioca, o show “Jurassic Safari Experience 2, com painéis de LED gigantes, projeções em alta definição e muitos efeitos especiais para transportar os espectadores para a pré-história.
— Quando você pensa em fazer um parque temático, você lembra dos personagens de fantasia, como Harry Potter, dos filmes da Disney, dos super-heróis, mas tudo isso passa. O parque da Universal, nos Estados Unidos, retirou a atração de “Tubarão” há pouco tempo. Mas os dinossauros não prescrevem. Toda criança tem a sua fase de dinossauros — conta Clare. — Existe um fascínio por ser um mundo que ninguém viveu e ao mesmo tempo é real. O mundo dos dinossauros ultrapassa qualquer tipo de geração.

