Sáb, 06 de Dezembro

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literatura

Flip 2025: Alice Ruiz, Claudia Roquette-Pinto e Marília Garcia são ovacionadas em terceiro dia

Mesa "Vide o Verso", a primeira oficial desta sexta, abordou temas ligados à representatividade feminina e assuntos recorrentes na poesia das autoras

 Festa Literária de Paraty Festa Literária de Paraty - Foto: Flip/Divulgação

O público no auditório da matriz, principal da Festa Literária Internacional de Paraty ( Flip 2025), ovacionou as poetas Alice Ruiz, viúva de Paulo Leminski — o homenageado desta 23ª edição —, Claudia Roquette-Pinto e Marília Garcia. De tema "Vide o verso", a mesa, primeira da programação desta sexta-feira, tratou de temas ligados à representatividade feminina na poesia e à abrangência de temas que compõe o trabalho dessas autoras.

Entre os espectadores da mesa estava a cantora Zélia Duncan, amiga de Alice Ruiz e a primeira a aplaudir de pé o trio ao final da mesa. O restante do público seguiu o exemplo, preenchendo de palmas o auditório, praticamente lotado — apenas uma dúzia de cadeiras estava vazia, num espaço que acolhe cerca de 500 pessoas.

A conversa entre elas, mediada pelo jornalista Fernando Luna, começou com uma pergunta à Alice: "Como está sendo circular por aqui, entre encontros e memórias?"

"Eu não estou acostumada a vivenciar essa situação de Madonna. É uma magia isso, esse espaço dedicado a pessoas interessadas em poesia, de mulheres ainda. Esse reconhecimento sobre Paulo é uma oportunidade para que o talento dele não fique esquecido no tempo. A gente (Alice e as filhas) vem trabalhando muito e é uma felicidade ver isso surtir efeito. A gente sente "meu trabalho deu certo", "o trabalho dele deu certo", mesmo que ele não esteja aqui para ver isso. Bom, quem mandou ele ir embora cedo...", disse, saudosa, a poeta

Claudia Roquette-Pinto, que reaparece literariamente após 17 anos sem publicações, comentou sobre a dificuldade do início de sua carreira:

— Dos homens poetas, de alguns críticos e também jornalistas, eu escutei atrocidades. Do tipo, mostrar para algum amigo meu poeta, e ele falar: "Você escreve como um homem". Eu também já recebi um telefone de um poeta conhecido, mais velho um pouco, e ele perguntou: "O que você está pretendendo com essa ideia de escrever poesia. Você já viu quantas mulheres escrevem poesia no Brasil? Acha que vai ser o que, uma nova Cecília Meireles?" — revelou.

Já Marília Garcia destacou o que a inspira quanto escritora:

— Eu procuro ser "contra" na hora de escrever, esse é meu impulso inicial, ir contra o lugar-comum da escrita, da palavra. A gente escreve com palavras do dia a dia, então, eu penso em como escrever de forma não automatizada. Existem categorias na literatura, o poema, a prosa, mas, no fundo, a gente está lidando com a aventura da linguagem.

Alice Ruiz também abordou o tema, pontuando que a linguagem é uma preocupação para ela, assim como foi para Leminski:

— A linguagem, a poesia, a cultura... eram nossos principais assuntos. Tudo o que move a poesia, os questionamentos profundos para além do "quem vai pagar a conta?". Eu me preocupava em sair das marcações que dão às mulheres, com falar sobre amor. Só fui publicar sobre ele no meu segundo livro. Ninguém nos levava a sério, sempre nos reservavam o lugar da emoção, e quando a gente falava de outros assuntos, perguntavam "porque vocês estão se metendo?"

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