Gloria Groove volta ao teatro como vilã em 'Wicked' e revela inspiração em madrasta da Cinderela
Com estreia neste sábado (23) e por apenas dez sessões, Gloria Groove será a primeira drag queen a interpretar antagonista na adaptação do musical da Broadway
Em cartaz desde março deste ano no Teatro Renault, em São Paulo, a terceira temporada de “Wicked” receberá um reforço especial em seu elenco — mas por pouquíssimo tempo. Deste sábado (23) até 3 de setembro, a drag queen Gloria Groove viverá por dez sessões a antagonista Madame Morrible, interpretada até então por Karin Hils, ex-Rouge. A luxuosa participação marca não apenas o reencontro da cantora com o universo do teatro musical, mas também a primeira vez que uma drag queen interpreta a personagem em uma adaptação do espetáculo da Broadway.
No enredo, Morrible é a diretora da Universidade de Shiz, onde as bruxas Elphaba e Glinda — interpretadas respectivamente por Myra Ruiz e Fabi Bang nas três temporadas — se conhecem. Fã de carteirinha, Gloria se vê agora imersa no enredo como se estivesse “vivendo tudo pela primeira vez”.
— Como fã, nunca tive que processar algumas informações da história, por exemplo como a Morrible reage a uma fala de outro personagem… Então, tenho lembrado de me surpreender e de sentir tudo o que acontece. Estou amando cada novo detalhe que descubro — disse ao Globo.
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Apesar de ter estreado em 2016 no Brasil (a montagem seguinte foi em 2023), o musical começou na Broadway mais de dez anos antes, em 2003. Baseado no romance de Gregory Maguire e com canções de Stephen Schwartz, “Wicked” é um prelúdio da conhecida história de Dorothy e do Mágico de Oz, onde o público é apresentado para a amizade improvável da Bruxa Boa do Norte, Glinda, e da Bruxa Má do Oeste, Elphaba.
Com diversas referências possíveis dentro das adaptações mundiais do espetáculo, Gloria diz ter ganhado espaço dentro da montagem para construir a sua própria versão da personagem. Ao procurar por diferentes inspirações, ela esbarrou em opções mais evidentes — como a titular do papel, Karin Hils, que retornará para o restante da temporada em seguida — e em outras mais inusitadas, das animações às novelas brasileiras.
"A Karin e a NaTasha Yvette Williams, que interpreta a Morrible na Broadway hoje, são duas grandes referências para mim. Mas eu sou a primeira drag queen a fazer isso, então ganhei espaço para torná-la ainda mais maximalista e cartunesca, o que me fez procurar por influências como a madrasta da Cinderela, a Mãe Gothel, da Rapunzel, e até mesmo a Carminha, interpretada pela Adriana Esteves na novela ‘Avenida Brasil’. Todas elas me dão a sensação de estar mais perto da Morrible", conta
Mesmo ao trabalhar com uma personagem já consolidada na adaptação — afinal, a temporada está em curso há cinco meses e segue um sucesso —, há muito da identidade visual da drag queen nesta nova versão. Isso porque a antagonista ganha agora uma nova caracterização, desenvolvida especialmente para Gloria Groove, com figurino, perucas e maquiagem inéditos.
— Quando soube que teríamos um novo visagismo, logo pedi para trazermos o vestido vermelho de volta. Não é apenas uma homenagem à Morrible original, da primeira montagem, mas o vermelho conta também a história da minha carreira (em referência a era ‘Lady leste’, que homenageia suas raízes paulistas) — explica GG, como é conhecida.
Com o convite para o espetáculo, Gloria precisou passar por testes para assumir o papel. A aprovação foi, inclusive, internacional: em Nova York, ela ensaiou com o diretor da adaptação brasileira, Ronny Dutra, assistiu à montagem da Broadway e ainda jantou com Stephen Schwartz, um dos responsáveis pela obra original. A intensa (e rápida) preparação levou a atriz a realizar apenas três ensaios com os demais atores no Brasil.
Das demais novidades anunciadas, a versão de 2023 de “Wicked” também foi licenciada para outros nove países, entre Oriente Médio, Ásia e Europa, que poderão reproduzi-la ou tomá-la como inspiração. Ainda, a estreia de Gloria no sábado será acompanhada do lançamento de um livro comemorativo do espetáculo. Recheado de croquis dos figurinos, desenhos de cenografia e fotos, serão vendidos apenas dois mil exemplares.
Um ciclo completo
A relação de Gloria com o teatro musical não é nova. Daniel Garcia, que dá corpo e voz à drag queen, começou sua carreira artística ainda criança, como dublador e ator de musicais. Hoje, depois de se consolidar como uma das principais vozes da música pop contemporânea e de explorar outros ritmos musicais em seus trabalhos, como R&B, funk, trap e pagode, a drag queen vê este momento como um “ciclo completo”.
Enquanto o interesse pelo teatro musical surgiu em 2008, ao assistir a uma montagem de “Miss Saigon” no Teatro Renault (na época Teatro Abril), foi em 2014, ao assumir o papel de Margaret Mead em uma montagem independente do musical “Hair”, que surgiu a vontade de “se montar”. Para além do teatro, o retorno reflete o pontapé inicial da carreira: em 2002, durante um concurso do programa “Domingo legal”, do Gugu, para a Nova Turma do Balão Mágico, Karin Hils foi uma das juradas a votar em Daniel para uma das vagas.
— Na minha adolescência, o teatro me mostrava tudo que eu poderia ser para além do que eu conseguia imaginar. Lembro de descobrir o momento da produção, da perucaria, da maquiagem e de como tínhamos a drag como algo divertido. Ali, comecei a sentir que quando ‘montada’ (como drag) conseguiria acessar um ‘novo eu’. Foi também quando comecei a escrever minhas músicas. Então, é como se eu estivesse voltando para casa de vários jeitos, só que agora numa proporção muito maior — contou ao Globo.
Ao ser a primeira drag queen a participar do espetáculo, Gloria marca um momento de diversidade não apenas para “Wicked”, mas para o teatro musical como um todo.
— Quando comecei, as drags não eram famosas e respeitadas como músicos. Junto de outras drags brasileiras, como Pabllo Vittar, Aretuza Lovi e Grag Queen, nós criamos uma possibilidade, um novo jeito de enxergar e receber a arte drag. Fomos lá e mudamos o jeito como o mundo funciona primeiro, para depois dizermos que o lugar é nosso e que é possível — disse.
Depois da curta participação em “Wicked”, Gloria ainda se apresentará no The Town no dia 13 de setembro. Quanto à preparação para o show, ela afirma que está baseada em seu retorno ao teatro e que diversos estilos musicais estarão presentes no setlist.
— Montar um show é sempre desafiador. Esse surgiu por meio do figurino, porque desde o início já sei o que quero aparentar no palco. Vou propor um jeito de passear pelas potências da Gloria Groove e do Daniel Garcia — adiantou.

