Influencers movimentaram cerca de R$ 40 milhões em dois anos com promoção de cassinos ilegais
Relatórios de inteligência do COAF indicam que operação financeira de toda a estrutura criminosa envolvida pode chegar a R$ 4 bilhões entre 2022 e 2024
De acordo com a Polícia Civil do Rio, influenciadores investigados na Operação Desfortuna, deflagrada nesta quinta-feira, movimentaram mais de R$ 40 milhões entre 2022 e 2024 com a promoção de jogos de azar online, como o “Jogo do Tigrinho”, por meio de publicações nas redes sociais. Ainda segundo os investigadores, considerando toda a estrutura criminosa envolvida — que inclui também donos de sites e agenciadores —, a movimentação financeira pode chegar a R$ 4 bilhões no período, como indicam relatórios de inteligência do Conselho de Controle de Atividades Financeira (COAF).
No curso das investigações, foram identificados sinais claros de enriquecimento incompatível com a renda declarada pelos influenciadores, que ostentavam nas redes sociais estilos de vida luxuosos, com viagens internacionais, veículos de alto padrão e imóveis de alto valor.
Ao todo, a política cumpre 31 mandados de busca e apreensão, sendo 23 deles no Rio de Janeiro. Até as 9h da manhã desta quinta, agentes da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD) já tinham cumprido mandados em ao menos cinco endereços na capital fluminense: um em Jacarepaguá (de Nayara Silva Mendes), dois em Vargem Grande (das gêmeas Paola de Ataíde Paola e Paulina de Ataíde) e dois no Recreio dos Bandeirantes (de Bia Miranda e Bruno Buarque).
Durante a operação, seis carros de luxo já foram apreendidos, segundo o delegado Renan Mello, da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD). Um Jeep branco, registrado em nome de Nayara, foi encontrado em Jacarepaguá. Já Buarque, ex-namorado de Bia Miranda, teve dois veículos apreendidos: uma Land Rover Defender azul e outro automóvel de alto padrão.
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A Polícia Civil aguarda ainda a chegada de mais dois veículos de investigados: um Porsche, que está em Minas Gerais, e uma BMW.
Entenda o caso
De acordo com a Polícia Civil, os influenciadores usam as redes sociais para divulgar o jogo conhecido como "Tigrinho" e outros semelhantes. Segundo os agentes envolvidos na apuração, as postagens realizadas pelos investigados contêm promessas enganosas de lucros fáceis, com o intuito de atrair seguidores para essas plataformas de apostas, que são proibidas.
Em São Paulo, o influenciador Mauricio Martins Junior, conhecido como Mau Mau, que tem mais de três milhões de seguidores no Instagram, foi preso em flagrante após agentes encontrarem uma pistola em sua casa. A arma foi encaminhada para a perícia.
Além da promoção de jogos ilegais, os investigados são suspeitos de integrar uma organização criminosa estruturada, com divisão de tarefas entre divulgadores, operadores financeiros e empresas de fachada. A estrutura seria usada para ocultar a origem ilícita dos recursos, caracterizando assim a lavagem de dinheiro. A polícia também identificou conexões entre alguns envolvidos e pessoas com antecedentes ligados ao crime organizado.
— Eles estavam usando as redes para divulgar cassinos on-line. Não estamos falando de casas de apostas bet e sim cassinos on-line, promessas de ganho muito elevado, chances de mudança de vida — disse o delegado Renan Mello, da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD).
De acordo com ele, os influenciadores ostentam um padrão de vida bastante elevado:
— O problema é que esses jogos não entregam chances reais de ganho. A gente descobriu que eles fazem parte de uma estrutura organizada. Nessa primeira fase estamos arrecadando telefones e contratos para saber quais são os demais grupos criminosos por trás dessas redes.
O policial esclareceu que os influenciadores ganham em cima da perda dos apostadores e para fazer publicidade dessas plataformas, o que, segundo o delegado, gera lucros "absurdos".
— Quanto mais clientes e quanto mais prejuízos, maior é ganho desses influenciadores — disse Mello.
As investigações que resultaram na operação foram desenvolvidas de forma conjunta com o Gabinete de Recuperação de Ativos (GRA) e com o Laboratório de Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro (Lab-LD) da Polícia Civil.
O Globo tentou contato com a defesa de Bia Miranda — que está fora do país — e Buarque, que ainda não se manifestaram. O espaço segue em aberto.
Quem são os 15 alvos da Operação Desfortuna
Nayara Silva Mendes
Sun Chunyang
Tailon Artiaga Ferreira Silva
Tailane Garcia dos Santos Laurindo
Paola de Ataíde Rodrigues
Paulina de Ataíde Rodrigues
Micael dos Santos Moraes
Samuel SantÁnna da Costa
Mauricio Martins Junior
Jenifer Ferracini Vaz
Rafael da Rocha Buarque Vanessa Vatusa Ferreira da Silva
Ana Luiza Ferreira do Desterro Simen Poeis
Anna Beatriz Ferracini Ribeiro
Lorrany Rafael Dias

