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Música

Lady Gaga retoma o pop rasgado em "Mayhem", com repertório que deverá chacoalhar Copacabana em maio

Sétimo álbum de estúdio mostra que cantora não desperdiçou as chances que encontrou para reafirmar o controle que exerce sobre sua produção e sua carreira

Lady Gaga em 'Mayhem'Lady Gaga em 'Mayhem' - Foto: Frank LeBon/Divulgação

O primeiro Oscar para um filme brasileiro foi só o pontapé inicial do ano pop brasuca.

A temperatura promete subir ainda mais porque já entramos na contagem regressiva para o show da megastar Lady Gaga em Copacabana, no Rio, no dia 3 de maio.

Um espetáculo que deverá contar com boa parte das faixas de “Mayhem”, o mais recente álbum da cantora, lançado na sexta-feira (7).

São 14 canções que marcam o retorno da performer ao gênero que a consagrou: o pop performático, eletrônico e talhado para consumo imediato nas pistas de dança. Gaga já avisa no vídeo de “Abracadabra”, lançado em single em fevereiro: “A categoria é... dance ou morra!”

“Mayhem” é o sétimo álbum de estúdio de Stefani Joanne Angelina Germanotta. Ou melhor, de sua personagem mais célebre, Lady Gaga.

Um ser de garras afiadas e looks extravagantes, embrulhado para degustação pública a partir do disco “The fame”, lançado em 2008.

No melhor estilo “eu vim para confundir e não para explicar”, Gaga tem conjugado a gramática do pop como poucas de suas colegas.

Em vez de ser consumida pelo pop, como acontece com a maior parte dos jovens artistas que ascendem ao olimpo da indústria, Gaga escapa dos que tentam aprisioná-la num único formato artístico, se aventurando por outros estilos musicais e se aproximando de artistas que, ao olhar mais desatento, não teriam muito a ver com ela, como Tony Bennet (com quem gravou o álbum “Cheek to cheek”, em 2014), ou os Rolling Stones, com quem já se apresentou cantando a clássica “Gimme shelter”.

Ainda que a nova-iorquina, nascida em 1986, tenha crescido ouvindo Madonna, Cher, George Michael e Britney Spears, entre outros artistas pop de carteririnha, Stephanie evita assumir tais influências publicamente.

Em entrevistas, a superstar sempre tenta enfatizar que seu leme artístico se aproxima de nomes celebrados por uma certa intelligentsia musical, como David Bowie, Blondie, Queen, navegando mais assumidamente pelo pop e rock mais glam, no qual o glitter brilha com uma densidade mais tangível.

Enquanto as garotas da geração anterior só queriam “se divertir”, como dizia Cindy, Gaga chegou querendo questionar tudo. Até a própria fama.

Daí que daquele primeiro álbum saíram hits como “Paparazzi” e “Poker face”, nas quais Gaga dá o recado de que sabe muito bem onde está se metendo.

“Acho que esse é o meu talento: criar canções que são arte pop”, disse Gaga em entrevista ao Fantástico, em 2009.

Dito e feito. Seis álbums depois da estreia, “Mayhem” chega pisando forte nos rankings. “Abracadabra”, uma das melhores faixas do disco, já chega ao número 1 de execuções no streaming no Reino Unido, desbancando “Pink Pony Club”, da novinha Chappel Roan.

A faixa já havia mostrado sua força quando foi lançada como single, em fevereiro, mês em que liderou a lista Hot Dance/Pop Songs da respeitada revista americana Billboard.

Pode parecer fácil, mas para inscrever o nome no panteão das divas pop é preciso ser mais do que apenas uma “lady with an attitude” ou “strike a pose”.

Katy Perry que o diga (ela tem cortado um dobrado por aí…). Para entrar neste clube, o público precisa consagrar a artista de maneira irrevogável. Para tal, ela precisa mostrar de que lado está.

E Gaga soube mostrar com maestria quando colocou na roda o hino “Born this way”, carro-chefe do álbum lançado em 2011. Pronto.

Foi naquele momento que o contrato de fidelidade entre a comunidade LGBTQIA+ e Gaga parece ter sido celebrado “para todo o sempre, amém”.

“O público gay é o meu favorito porque eles gostam de mulheres sexualizadas e fortes que não têm medo de dizer o que pensam”, disse Gaga numa entrevista em vídeo viralizada no YouTube em 2010 e reproduzida incansavelmente até hoje.

"Adoro ganhar prêmios"
Ambiciosa, Gaga gosta de ser vista com uma instalação ambulante. Em 2010, ela apareceu no MTV Video Music Awards em um vestido de carne, assinado pelo designer argentino Franc Fernandez.

Em 2011, atravessou o tapete vermelho do Grammy dentro de um ovo gigante. Ao lado de Tony Bennet, ela se transformou numa crooner sexy de cabelos coloridos.

E no programa “Saturday night live”, no último sábado, surge “envelhecida” num dos esquetes, tentando convencer um eletricista de que foi famosa “no passado”. Gaga sabe que o pop não poupa ninguém.

Na era “Artpop” (2013), Gaga liquidificou referências com proficiência.

Do material promocional do álbum e vídeos, com as bolas azuis e os infláveis do artista plástico Jeff Koons, até o recado na letra de “Applause”, a última das 15 faixas do álbum, Gaga não desperdiçou as chances que encontrou para reafirmar o controle firme que exerce sobre sua produção artística e sua carreira.

Um produção que passeou por um perfume folk, country chic de “Joanne” (2016) e o house music anos 90 de “Chromatica” (2020).

Entre uma coisa e outra, algumas aventuras cinematográficas preencheram o apetite artístico de Gaga. Em 2018, ela cantou “Shallow” com Bradley Cooper numa releitura de “Nasce uma estrela”; se jogou sob direção do mestre Ridley Scott em “Casa Gucci” (2021) e… vá lá, participou do controverso “Coringa — Folia a dois” (2024), de Todd Phillips, em que amargou as piores críticas da carreira.

Gaga foi indicada como Pior Atriz pelo Framboesa de Ouro, um bem-humorado grupo de críticos e fãs que premia os piores do ano no cinema.

Ela acabou vencendo como Pior Dupla, ao lado do Coringa propriamente dito, Joaquin Phoenix.

“Não estou nem aí. Eu adoro ganhar prêmios”, debochou Gaga no monólogo do humorístico americano “Saturday night live”, no sábado.

"Rio" tatuado na nuca
Em 2012, Gaga esteve por aqui com “Born this way ball”, onde cantou para um público de 40 mil pessoas.

No Rio, a cantora se apresentou no Parque dos Atletas, na Zona Oeste da cidade, que comportaria até 90 mil pessoas, o que fez com que alguns detratores afirmassem que o show teria atraído um público muito menor do que o esperado.

Pode ser. Ainda assim, não dá para dizer que foi um público modesto.

Naquela visita ao país, Gaga tatuou a palavra “Rio” na nuca. E postou no seu Instagram o clássico de dez entre dez gringos que passam por aqui: “O público brasileiro é o melhor do mundo.” Ela tem razão.

Em 2017, no entanto, ela frustrou os melhores do mundo. Na véspera da data marcada para sua apresentação no Rock in Rio, Gaga postaria que estava “devastada” por não poder comparecer ao festival.

Problemas de saúde. O aviso em cima da hora gerou memes que até hoje reverberam pela web. “Ela não vem mais” virou título de post, frase de camiseta e muitas figurinhas de WhatsApp.

Felizmente, a era inaugurada semana passada com “Mayhem” retoma o pop dançante que a fez famosa. Segundo a cantora, foi o noivo dela, o empresário Michael Polansky, quem a ajudou nessa retomada de rota.

Ele deverá ser um dos milhares (milhões?) de pessoas a sacudir o esqueleto em Copacabana, no início de maio, quando uma das praias mais famosas do planeta se tornará, mais uma vez, a maior pista de dança do mundo. Prepare seu leque.

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